Os últimos detalhes da investigação do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul há pouco mais de um ano e quatro meses foram concluídos. Na segunda-feira, a Coordenação de Crimes contra a Vida (Corvida) encaminhou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) o inquérito complementar que apura as mortes do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada Francisca Nascimento da Silva, 58. As vítimas levaram, ao todo, 73 facadas. No documento, a delegada Mabel de Faria, diretora da unidade policial, pede o indiciamento dos três homens que confessaram participação nos assassinatos. Eles já estão detidos e deverão responder pelo crime de homicídio qualificado.
O processo chegou ontem às mãos do juiz substituto do Tribunal do Júri, Fábio Francisco Esteves. Ele encaminhará ainda nesta semana o documento ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), a quem caberá denunciar ou não os acusados. Se for aceito, o inquérito complementar volta para o magistrado e se junta ao primeiro inquérito finalizado pela Corvida, que aponta a arquiteta Adriana Villela, filha do casal, como a mandante dos assassinatos. Em entrevista ao Correio no fim de dezembro, Mabel adiantou que faltavam poucos pontos para fechar o caso, marcado por erros, mudanças de comando e brigas na Polícia Civil (leia Memória).
A delegada da Corvida continuou as investigações mesmo depois de ter indiciado Adriana, o que ocorreu em setembro do ano passado. Em agosto, a delegada prendeu cinco pessoas, entre elas a filha dos Villela, por atrapalharem o trabalho de apuração. A arquiteta passou mais de um mês detida e sempre negou as acusações, tanto a de obstrução da ação policial quanto a de envolvimento no triplo homicídio. Em 15 de novembro, porém, Mabel de Faria e a própria cúpula da corporação foram surpreendidas por uma investigação paralela ; a então titular da 8; Delegacia de Polícia (SIA), Deborah Menezes, prendeu Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do Bloco C, em Montalvânia (MG). Ele teria confessado a autoria das execuções.
O homem de 44 anos indicou um comparsa: Paulo Cardoso Santana, detido por outro crime no município mineiro, também confessou envolvimento no crime. Por último, a polícia chegou a Francisco Mairlon Barros Aguiar, morador do Pedregal (GO), com quem Paulo havia cometido outras ações criminosas. Apesar de várias contradições, os depoimentos prestados pelos três presos deram à polícia a certeza de que estiveram na cena do triplo homicídio ocorrido em 28 de agosto de 2009, o apartamento 601/602 do Bloco C da SQS 113.
Entre coincidências e convergências em cada esclarecimento, ficaram em aberto dois pontos importantes: a localização das armas do triplo homicídio e a suposta existência de um mandante. Paulo alegou que as duas facas usadas para matar os Villelas e Francisca foram jogadas no Rio Poçãozinho, no interior mineiro. Os policiais candangos, com a ajuda do Corpo de Bombeiros, fizeram buscas no local, mas não as encontraram.
O nome de Adriana Villela, porém, apareceu em pelo menos um dos depoimentos dos acusados. Ainda em novembro, Leonardo disse que havia sido contratado pessoalmente pela arquiteta para forjar um assalto na casa dos pais dela. Segundo ele, teriam ocorrido dois encontros, entre 1; e 3 de agosto do ano retrasado. Leonardo teria pedido a Adriana US$ 50 mil, mas aceitado US$ 27 mil e joias.
Liminar
As suspeitas da Corvida em relação à participação de Adriana Villela no triplo assassinato municiaram, por sua vez, embates entre a defesa da arquiteta e a própria polícia, além do MPDFT. Há divergências quanto a exames de impressões digitais, álibis, motivação do crime, supostas interferências da arquiteta na investigação e sumiço de provas. O advogado Rodrigo de Alencastro, representante da acusada, alega que os investigadores cometeram irregularidades na apuração ; ele as denunciou à Corregedoria da Polícia Civil do DF e ao MP por meio da Ordem dos Advogados do Brasil no DF.
O defensor também acusa a delegada Mabel de insistir em colocar Adriana na cena do crime para não ter de se retratar de um possível equívoco nas conclusões. ;Todas as testemunhas, todos os fatos comprovam que Adriana não esteve na casa dos pais no horário do crime e várias pessoas confirmam isso. No entanto, ela (Mabel) não quer admitir que se precipitou ao incriminar a Adriana e insiste nessa tese absurda;, criticou o advogado da filha do casal. Segundo Alencastro, a Corvida tem desrespeitado até o Judiciário. Em 16 de dezembro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu em caráter liminar liberar qualquer consulta da defesa ao inquérito. ;A polícia tem feito pouco caso e não cumpriu a liminar. Nos mostraram apenas alguns depoimentos mais antigos, mas sabemos que há mais informações;, disse. Somente ontem, o advogado teve acesso ao documento da delegacia especializada.
Imagens perdidas
Os advogados de Adriana acusam a a polícia do desaparecimento de vídeos. Um deles seria o da filmagem de um depoimento de cinco horas prestado pela filha dos Villelas à Corvida. Os defensores alegam que a cliente deles foi vítima de tortura psicológica. Outra filmagem que teria sumido é a feita por um policial que seguiu Adriana. Segundo a OAB-DF, a gravação consta nos autos e serviu para que a polícia confundisse uma prima da acusada com uma mulher suspeita de envolvimento no crime da 113 Sul.
Memória
Desavenças públicas
As investigações do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul deixaram em evidência três delegadas da Polícia Civil do DF. As delegadas Martha Vargas, ex-chefe da 1; Delegacia (Asa Sul), e Mabel de Faria, diretora da Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida), entraram em atrito depois que a primeira perdeu o caso a pedido do Ministério Público do DF e Territórios ; em novembro de 2009, a Justiça do DF determinou a troca de comando por suspeita de arbitrariedades por parte de Martha. Para evitar maiores conflitos, a direção da Polícia Civil do DF criou um trabalho em conjunto com três unidades policiais.
A iniciativa não deu certo. Em menos de um mês, Martha e Mabel se estranharam. Há relatos de que as duas brigaram em uma das reuniões do grupo. Depois desse episódio, as colegas de corporação deixaram de frequentar o mesmo ambiente. A força-tarefa viria a implodir com a soltura ; por falta de provas ; de três suspeitos que haviam sido detidos pela ex-titular da 1; DP. Com isso, Martha saiu do caso, que passou a ser exclusividade da Corvida. Em dezembro de 2009, o então responsável pela unidade especializada em elucidação de homicídios, delegado Luiz Julião Ribeiro, deixou o inquérito nas mãos de Mabel.
As desavenças internas se tornaram públicas com uma investigação paralela conduzida inesperadamente pela 8; Delegacia de Polícia, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Em novembro de 2010, a titular da unidade, delegada Deborah Menezes ; de quem Martha Vargas é discípula ;, prendeu em Minas Gerais o ex-porteiro do Bloco C Leonardo Campos Alves, que acabou confessando a participação no homicídio dos Villelas. Nenhum dos principais órgãos envolvidos no caso sabia da apuração. Por conta do mal-estar, as delegadas Mabel e Deborah trocaram farpas por meio da imprensa por conta de um suposto informante apresentado pela 8; DP. Ele seria o responsável pela dica que levou à detenção do ex-funcionário do prédio onde moravam as vítimas.
"Todos os fatos comprovam que Adriana não esteve na casa dos pais no horário do crime e várias pessoas confirmam isso. No entanto, a delegada Mabel não quer admitir que se precipitou ao incriminar a Adriana;
Rodrigo de Alencastro, advogado da filha dos Villelas