Cidades

Ministra da Cultura e presidente do Iphan devem visitar Goiás Velho hoje

Danos causam transtornos nas áreas urbana e rural, impedindo o escoamento da produção agrícola. Há 38 residências sob risco de desabamento

Renato Alves - Enviado Especial
postado em 13/01/2011 08:02
Goiás Velho ; Ontem, os moradores da histórica cidade de Goiás acordaram apreensivos mais uma vez. Como na segunda-feira, o Rio Vermelho, que corta o município distante 300km de Brasília, subiu repentinamente e ameaçou construções centenárias localizadas às suas margens. À tarde, águas barrentas invadiram o porão da casa onde morou a poetisa Cora Coralina, hoje um museu, maior atração turística local. Funcionários removeram todo o acervo e deixaram os objetos em uma igreja. A chuva, que começou às 3h, não parou ao longo do dia, aumentando os danos.

O grande volume de água fez transbordar córregos e rios da região: moradores enfrentam dificuldades para se locomover pelas ruas da cidadeDe terça para quarta-feira, o número de imóveis antigos escorados por técnicos do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para evitar a queda subiu de seis para 38. ;Certamente há mais casas precisando do apoio. A quantidade é tanta que não demos conta de visitar todas hoje (ontem). Convoquei todos os técnicos de Goiânia para ajudar o trabalho na cidade de Goiás;, contou a superintendente do Iphan no estado de Goiás, Salma Saddi.

Apesar de ser a única cidade goiana tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco ; há apenas oito no Brasil ;, Goiás Velho, como é mais conhecida, conta com apenas um técnico do Iphan. Até ontem, havia recebido o reforço de quatro, incluindo a superintendente regional. Hoje, o número deve subir para 10 com a chegada da equipe de Goiânia.

Nesta quinta-feira também devem desembarcar no município distante cerca de 300km de Brasília a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida. Eles receberão o relatório sobre os danos causados pela chuva no centro histórico de Goiás Velho. Com base nesse levantamento, a ministra definirá quais ações emergenciais serão tomadas. O documento foi elaborado pela equipe do Iphan em Goiás Velho.

Por outro lado, a superintendente regional do Iphan em Goiás tenta convencer o prefeito de Goiás Velho, Joaquim Berquó (PPS), a tomar algumas medidas para evitar mais estragos. Ambos tiveram várias reuniões nos últimos dois dias, mas, até a noite de ontem, a prefeitura não havia realizado qualquer ação preventiva, como a retirada de galhos e de outros entulhos das margens do Rio Vermelho e das estruturas na ponte que contribuem para a retenção da água e o transbordamento. ;Não temos dinheiro nem maquinário para realizar grandes obras. O mau tempo também não nos ajuda e ainda preciso resolver problemas na área rural;, ponderou o prefeito.

Prejuízo no campo
Chove há duas semanas na região e, na última segunda-feira, o Rio Vermelho transbordou, causando a interdição de três pontes e a perda total de dois casarões dos séculos 18 e 19. Um das pontes de madeira sobre o rio continua fechada ao trânsito, pois teve o alicerce danificado. Na zona rural, outras oito pontes, de madeira e de concreto, foram levadas por córregos e ribeirões. Além do trânsito dos moradores, os incidentes interromperam o escoamento da produção agrícola, principalmente a leiteira, uma das bases da economia de Goiás Velho.

As boas notícias são a ausência de vítimas e a conclusão das obras da ponte metálica que permitirá a travessia sobre o Rio das Pedras, na GO-070, em Itaberaí (GO). No entanto, para o tráfego no local ser liberado, falta a conclusão do nivelamento do solo, que irá ajustar a entrada e a saída da ponte com o nível da pista. O trabalho de nivelamento é feito pela Agência Goiana de Transportes e Obras. O trabalho deve ser concluído até amanhã, quando os veículos serão liberados.

Uma equipe do Exército, responsável pela instalação da ponte metálica, permanecerá em Itaberaí até a conclusão das obras da estrutura definitiva. A previsão é que a nova ponte da GO-070 fique pronta em seis meses. O local fica a 38km de Goiás Velho e é caminho para quem sai de Brasília com destino à cidade histórica. A ponte que existia na GO-070 foi levada em 4 de janeiro pela correnteza do Rio das Pedras, que transbordou devido às fortes chuvas.

Desde então, quem sai do DF tem duas opções para chegar aGoiás Velho: dar uma volta de 20km por estradas de terra, em Itaberaí, ou andar mais de 50km, passando por Goiânia, Trindade, Claudinápolis, Itauçu e Mossâmedes. Na primeira rota, a viagem pelo desvio pode durar mais de uma hora devido à grande quantidade de buracos e de lama que ainda podem causar a quebra ou o atolamento do veículo.
Danos causam transtornos nas áreas urbana e rural, impedindo o escoamento da produção agrícola. Há 38 residências sob risco de desabamento


PARA SABER MAIS
Riqueza histórica
Fundada no século 18 pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho, que lhe deu o nome de Vila Boa de Goiás, a cidade de Goiás foi próspera enquanto havia riqueza na área durante o ciclo do ouro. O município foi a capital do estado até meados de 1930.

Apesar da perda desse prestígio para Goiânia, distante 140km, Goiás Velho, como hoje é conhecida, manteve a arquitetura colonial de suas casas, muitas de pau a pique, ruas e nove igrejas. Entre as construções, destacam-se os museus de Arte Sacra e da Bandeira, prédio do século 18, no qual funcionaram a Câmara Estadual e a cadeia ; que hoje guarda a história da intervenção bandeirante na região ;, além do Palácio Conde dos Arcos, antiga residência do governador.

Na madrugada de 1; de janeiro de 2002, menos de um mês após receber o título de Patrimônio Histórico da Humanidade da Unesco, o município teve grande parte do centro histórico destruído pela chuva. Quarenta casas, duas pontes e várias ruas ficaram danificadas pelo grande volume de água que caiu durante seis horas.

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