postado em 15/01/2011 16:19
Passados mais de dois meses da restrição no atendimento a gestantes em decorrência de um surto de bactérias que causou a morte de 11 bebês na UTI neonatal, o Hospital Regional da Asa Sul (HRas) diminuiu as proibições na maternidade, apesar de os serviços não terem sido completamente abertos ao público. A direção hospitalar acredita ter controlado a disseminação da infecção, mas, por precaucão, mantém reservas. A nova diretora do HRas, Roselle Bugarin Steenhouwer, explica que os casos de gestantes que tenham bebês com má formação e outras complicações graves que requeiram procedimento cirúrgico imediatamente após o parto já estão sendo atendidos pela unidade. Bebês prematuros continuam sendo prioridade. Atualmente, a UTI está com todos os 30 leitos ocupados. O HRas é o hospital referência em obstetrícia e em neonatologia da rede pública.
Persiste, no entanto, a recomendação para que o atendimento de mulheres com gestações normais procurem outras instituições de saúde da rede. ;A população resgatou a confiança no hospital, mas não podemos abrir totalmente as portas porque somos o ponto final da cadeia;, justifica a diretora. No início de novembro, após uma visita da Vigilância Sanitária do DF, a unidade neonatal foi proibida de receber novos pacientes, mas, no fim do mesmo mês, foi liberada para receber bebês com quadros clínicos gravíssimos.
Steenhouwer acredita que as taxas de infecção hospitalar estão sob controle, mas defende que o acolhimento dos recém-nascidos em risco e a redução da rotatividade no hospital são medidas essenciais para evitar novo surto. ;O diagnóstico da Vigilância Sanitária para o surto foi superpopulação e quebra de protocolo;, afirma a diretora. Isso significa que o hospital extrapolou o limite da capacidade de internação de 30 bebês na UTI neonatal e que a proporção recomendada entre o número de profissionais de saúde e o pacientes não era respeitada. Profissionais sobrecarregados têm menos condições de obedecer todos os procedimentos de segurança e diminuição de risco dentro da UTI.
Insumos
A unidade também teve problemas para combater as bactérias Serratia, Estafilococos e Klebsiella pneumoniae, relacionadas às mortes dos 11 bebês, porque trabalhava com o estoque de insumos no vermelho. As complicações causadas pelos micro-organismos são de difícil tratamento e o fato de infectarem recém-nascidos prematuros ou com doenças sérias agrava a situação.
À época, a Secretaria de Saúde anunciou a compra de uma lista de materiais imprescindíveis para a segurança do hospital. Entre eles, recipientes de álcool em gel, sondas, catéteres, bolsas coletoras e esparadrapos especiais. O material também é necessário para o cumprimento das resoluções editadas pela Anvisa motivadas pela escalada alarmante do número de casos de infecção pela Klebsiella pneumoniae carbapenamase em UTIs no DF. A KPC, conhecida como superbactéria, matou 26 pessoas na capital.
O HRas deve ser visitado pelo governador do DF, Agnelo Queiroz, e a expectativa de Roselle Steenhouwer é que, nos próximos anos, o hospital passe por revitalização e expansão. ;A população cresceu e o hospital, não. Não temos como atender toda a demanda com o que temos hoje;, diz. A diretora argumenta ser preciso que as estruturas hospitalares e da própria Secretaria de Saúde passem por mudanças: ;Não podemos trabalhar apenas apagando as crises. Precisamos evoluir para resolvê-las, priorizando o planejamento e o trabalho de prevenção;.
MEMÓRIA
Superlotação
Entre outubro e novembro de 2010, pelo menos 11 recém-nascidos morreram no HRas em decorrência da contaminação por três tipos diferentes de bactérias. As crianças foram infectadas por Estafilococos, Serratia ou Klebsiella. O risco de disseminação levou os dirigentes do Hras a esvaziar a superlotada UTI neonatal. Na época, 40 bebês estavam internados na unidade, quando havia apenas 30 leitos disponíveis.
A direção do hospital e a Secretaria de Saúde decidiram restringir o atendimento a apenas casos gravíssimos, como havia recomendado a Vigilância Sanitária do Distrito Federal. Os problemas de abastecimento de insumos e o deficit de profissionais especializados foram apontados como as principais dificuldades para o combate ao surto.
Combate
Como prevenir infecções hospitalares em bebês e crianças:
; A principal recomendação é a higienização constante das mãos, com lavagem e desinfecção com álcool em gel a 70%.
; O uso de luvas é importante, principalmente para procedimentos como coleta de sangue. Mas ele não substitui a higienização das mãos.
; Pacientes com micro-organismos altamente transmissíveis devem ser acomodados separadamente.
; Os profissionais devem usar máscaras e proteção na realização de procedimentos de risco de contaminação de mucosas, como boca, olhos ou nariz.
; Aventais, sapatos fechados e protetores de sapatos são importantes para proteger os profissionais.
; A lavagem das roupas e dos lençóis de maneira adequada reduz bastante os riscos de infecção nos hospitais.