Cidades

Levantamentos apontam o avanço de homicídios e sequestros relâmpago no DF

Levantamentos reunidos pelo Correio e divulgados pela Secretaria de Segurança Pública apontam o avanço de delitos como assassinato, roubo a comércio e crimes com restrição de liberdade. Já os assaltos a bancos e a casas lotéricas tiveram redução

Guilherme Goulart
postado em 17/01/2011 08:23

Maria Cláudia, morta em 2004 pelo próprio caseiro na casa dos paisBalanço da violência na última década expõe a criminalidade em transformação no Distrito Federal. A análise da escalada dos mais diversos delitos praticados na capital do país mostra que os últimos 10 anos da segurança pública apontaram para a extinção ou o avanço de determinadas ações de desrespeito à vida, aos costumes e ao patrimônio. Enquanto o homicídio, o sequestro relâmpago e o roubo a comércio assustaram a população e desafiaram as autoridades da segurança pública no período, os assaltos a bancos e a casas lotéricas praticamente sumiram da realidade candanga.

O crescimento e a diminuição dos crimes cometidos no DF aparecem em levantamentos e tabelas reunidos pelo Correio e divulgados pela Secretaria de Segurança Pública entre 2000 e 2010. De 13 delitos analisados por especialistas escolhidos pela reportagem, oito registraram aumento, dois ficaram estáveis e três tiveram queda nos números absolutos (leia arte). ;A expansão desordenada do DF, além da aproximação cada vez maior do Entorno, dos equívocos de gestão e do crack, produzem essa desordem do crime;, avaliou o professor George Felipe Dantas, consultor em segurança pública.

Chama a atenção entre as modalidades em ascensão a presença de crimes graves, como homicídio, sequestro relâmpago e quatro tipos de roubo. Em relação às mortes intencionais, o DF registrou estabilidade na quantidade de ocorrências até 2007 (567). Mas cresceu em 2008 e, em 2009, alcançou 756 registros, média de 63 por mês. Nesse caso, deve-se levar em conta o aumento da população candanga. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital cresceu acima da média nacional na década e alcançou 2,5 milhões de habitantes em 2010 ; variação de 20,3%.

Maria e José Guilherme Vilella: casal foi morto a facadas na Asa SulPelo menos quatro casos marcaram a década. O estudante João Cláudio Cardoso Leal, 20 anos, não resistiu aos socos recebidos na saída de uma boate na 411 Sul, em 2000. Em 2004, Maria Cláudia Del;Isola, 19, perdeu a vida depois de atacada em casa, no Lago Sul, pelo caseiro e a empregada da família. Três anos depois, a estudante Isabela Tainara Faria, 14, acabou encontrada morta em matagal de Samambaia depois de sumir no Sudoeste. A polícia apresentou um gari como o algoz. Em agosto de 2009, na 113 Sul, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, a mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e a empregada Francisca Nascimento da Silva, 58, tiveram o apartamento invadido por pelo menos três homens. Os moradores acabaram roubados e mortos com 73 facadas ao todo. O caso é investigado pela Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida).

O sequestro relâmpago aparece como outro crime que aterrorizou o brasiliense ao longo da década, principalmente depois de 2004. O delito, sem especificação no Código Penal brasileiro, é calculado pelo somatório dos roubos com restrição de liberdade da vítima e qualificado como extorsão. Entre 2000 e 2009, cresceu 774,6% ; pulou de 75 para 656 casos no período. A média de ocorrências no primeiro semestre de 2010 (268) confirmou a tendência de alta ao apontar mais de um sequestro relâmpago por dia na capital do país.

A modalidade criminosa é um dos desafios das autoridades de segurança pública do DF. A própria polícia admite dificuldades, pois os ataques ocorrem a qualquer hora e local. Muitos acabam marcados pela violência e pela ameaça à vida por causa da participação de adolescentes e bandidos armados e inexperientes nas ações. Preferem mulheres, idosos e pessoas sozinhas, levados em saídas de bancos, entradas de prédios e em estacionamentos do Plano Piloto e de Taguatinga. A maioria das vítimas acaba traumatizada.

Investimento
Alguns dos crimes em baixa no período revelam o combate especializado realizado pela Polícia Civil e pela Polícia Militar, além do investimento em equipamentos de segurança. São os casos dos roubos a bancos e a casas lotéricas. A maioria das agências bancárias e loterias investiu em câmeras de vídeo, portas giratórias e detectores de metais para evitar a ação das quadrilhas. A média de assaltos a bancos, por exemplo, caiu para menos de um registro por mês entre 2001 e 2010 ; fechou 2007 e 2008 sem nenhuma ocorrência. Houve nove roubos a lotéricas em 2009 e 10 no ano passado.

Também revelaram diminuição nos dados absolutos nos últimos 10 anos as lesões corporais e os latrocínios (roubos com morte). A análise dessa linha de tempo aponta para pelo menos uma curiosidade. Até 2008 figurava na lista de delitos da Secretaria de Segurança o roubo em transporte alternativo, que atraía a criminalidade. Em 2007, quando as vans circulavam na capital do país, ocorreram 210 registros nas delegacias candangas. No ano seguinte, quando o serviço estava quase extinto, o número caiu para 67.

Quanto aos crimes que permaneceram estáveis, vale destacar os roubos a postos de combustíveis. Apesar da média de dois casos por dia se manter entre 2000 e 2010, a frequência com que se assaltam as revendedoras revelou que ainda não se descobriu uma maneira de tornar a prática menos atrativa aos bandidos especializados. Postos do Plano Piloto, de Samambaia e de Santa Maria aparecem como os mais visados.

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