Renato Alves
postado em 19/01/2011 08:23

Além do píer, a empreitada perto da ponte de acesso ao Lago Norte previa um calçadão de 720m, quiosques e jardins. Orçada em R$ 2 milhões, a obra deveria ter sido concluída em julho. Agora, não há mais prazo. Rosso

Batizada de Beira Lago, a área de lazer perto da Ponte JK custaria R$ 2,1 milhões ao governo local. O espaço teria píeres e calçadões na beira do Lago Paranoá ; do início da Ponte JK até o clube da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol). Estavam garantidos também estacionamentos públicos (sem número de vagas definido), um parquinho

Risco a visitantes
Mesmo com a precariedade, a área sob a mais nova ponte do Lago Paranoá atrai centenas de visitantes nos fins de semana. Muitos passam pelo cercado da obra e circulam pela terra batida. Crianças se arriscam nos brinquedos de madeira inacabados. Não há vigilantes para impedir a invasão e a depredação. ;Como tudo aqui em Brasília, só quem tem muito dinheiro tem lazer com segurança e conforto. Essa área está abandonada porque é pública. Veja os restaurantes ao redor, que beleza. São particulares, e os donos sabem investir para atrair a clientela;, observou o aposentado João Carlos Honório, 72 anos, que havia ido ao lago com parentes moradores da Bahia.
No píer em construção sob a Ponte do Bragueto, somente os antigos pescadores da região desfrutam da obra inacabada. ;Está muito melhor para a gente porque não precisamos mais ficar no meio do mato, ao lado de ratos, cobras e lixo;, afirma o comerciante Antônio Valceli Alves, 32 anos. Morador da 707 Norte, ele costuma pescar no Lago Paranoá, sempre no mesmo local, todos os fins de semana. ;Claro que se ficar pronto, como nos disseram há um tempão, será melhor ainda, pois terá o gramado, lanchonete, tudo bonitinho;, acrescentou. O mesmo espera seu vizinho e companheiro de pescaria, Vanderlei de Oliveira, 55. ;Esse aqui é o nosso principal lazer;, comentou.
Planos alterados
O Complexo Beira Lago constava como o Polo 6 do Projeto Orla, mas não previa um espaço gastronômico, como é hoje. No plano original, a intenção era atender às necessidades cotidianas da população vizinha à área, com comércio de pequeno e médio porte, além de centros de lazer com casas de espetáculos e uma marina.
MEMÓRIA
Diversão para todos
Idealizado em 1995 por meio de lei do então deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB), o Projeto Orla visa dar vida às margens do Lago Paranoá com a criação de 11 polos culturais que democratizariam o acesso ao espelho d;água. A Concha Acústica, por exemplo, está inserida no terceiro polo. Em princípio, a ideia seria a construção de píeres, hotéis, restaurantes, bares, museus, cinemas, centros tecnológicos e quiosques. Mas até agora pouca coisa saiu do papel. Dos 11 setores, o único que deu certo foi o Pontão do Lago Sul, inaugurado em 2000.
Retomada frustrada
Então vice-governador do DF e secretário de Turismo, Paulo Octávio anunciou a retomada do Projeto Orla em outubro de 2009. Prometeu a conclusão das três etapas nas festividades da comemoração dos 50 anos de Brasília, em um investimento de R$ 22 milhões. Tirado dos cofres do GDF e da União, esse dinheiro seria usado na construção sob a Ponte do Bragueto, na área de lazer da Ponte JK e na reforma da Concha Acústica, inserida em um dos 11 polos culturais (veja Memória) do Projeto Orla. Eles democratizariam o acesso ao espelho d;água, que ao longo do tempo teve as margens tomadas por construções particulares ilegais.
Pelos planos apresentados por Paulo Octávio, a Concha Acústica, totalmente abandonada, ganharia um prédio cultural com quatro salas, preparado para apresentações musicais. A área de 22 hectares também receberia 18 novos quiosques comerciais e um píer para apoio a embarcações e banhistas. Mas a obra nem sequer teve início, apesar de o Ministério do Turismo ter empenhado R$ 17,14 milhões para a reforma da Concha Acústica, por meio da bancada do DF da Câmara dos Deputados. No entanto, segundo o ministério, o GDF ficou devendo alguns documentos para a consolidação do convênio em que entraria com R$ 1,9 milhão.
A mais recente reforma na região da Concha Acústica, construída em 1969, ocorreu em 2003. Na época, o GDF desembolsou R$ 500 mil. A grande área às margens do Lago Paranoá está completamente abandonada há três anos. O mato ocupa o palco, antes frequentado por grandes nomes da música brasileira. As calçadas de pedras portuguesas estão quebradas, os bancos cheios de capim e a fiação elétrica destruída. Nas paredes do palco, rachaduras enormes. Ao redor da área, a situação é ainda pior, com quiosques depredados.
Grandes shows
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o local foi inaugurado bem antes da abertura do Teatro Nacional. Em 1971, recebeu o antológico show de Roberto Carlos, que emocionou 10 mil fãs. Três anos depois, o espaço seria palco de um casamento hippie. Em 1998, abrigou a primeira edição do Porão do Rock. No ano seguinte, um público três vezes maior assistiu, extasiado, à volta da banda Plebe Rude.