Cidades

Comandante da PM diz que vai contratar civis para trabalhos burocráticos

A ideia é aumentar o número de homens nas rondas ostensivas. Corporação também buscará integração com o Entorno

Adriana Bernardes
postado em 20/01/2011 08:00
Fortalecer o policiamento nas ruas e estreitar os laços com a comunidade e com as polícias de Goiás e de Minas Gerais estão entre as metas traçadas pelo comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Paulo Roberto Witt Rosback. O novo chefe da corporação, formada por cerca de 14,5 mil homens, tem ainda a missão de afinar o relacionamento com a Polícia Civil e também com o Corpo de Bombeiros e o Departamento de Trânsito (Detran).

Em entrevista ao Correio na manhã de ontem, na sede da Secretaria de Segurança Pública, o coronel Rosback falou sobre a necessidade de liberar policiais do serviço burocrático para o policiamento nas ruas. Ao ser questionado sobre como vai tratar a questão dos bicos dentro da PM, afirmou que essa prática é cultural, mas que, atualmente, é cada vez mais rara por conta de incentivos internos como o serviço voluntário remunerado. Sobre a violência nas escolas, Rosback entende que não se trata de um problema apenas da polícia, mas de toda a comunidade escolar, dos pais e dos conselhos de segurança. ;Precisamos envolver todos na construção de soluções;, defendeu. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

O senhor defende que é preciso fortalecer o policiamento nas ruas. Estima-se que metade da corporação fique hoje dentro os quartéis, em trabalhos burocráticos. É essa a realidade?
Hoje, temos algo em torno de 14,5 mil policiais. Desses, cerca de 9 mil atuam nas ruas. Dos que fazem serviços internos, é preciso ter em mente que temos área médica, de formação, de odontologia. Essas são áreas
absolutamente necessárias.

Como o senhor pretende trazer esses policiais para as ruas?
É preciso entender que a presença dentro dos batalhões é fundamental para dar o suporte aos policiais lá na ponta, no operacional. Pessoal da inteligência e da estatística não pode ser civil. São áreas estratégicas. Estamos planejando ações para que haja uma substituição dos policias por civis em áreas como secretaria e redação de documento, por exemplo. Já temos o projeto do primeiro emprego, com quase mil jovens dentro da instituição fazendo esses trabalhos como estagiários. Agora, essa é uma mudança que tem que ser implantada aos poucos. Não dá para ser da noite para o dia, mas a médio e a longo prazos. Estamos otimizando o nosso pessoal administrativo para que também faça esse trabalho operacional, até numa sobrecarga de tarefas.

No ano passado, o então comandante da PM liberou o ;bico; feito por policiais militares no período em que deveriam estar descansando. Depois voltou atrás e limitou algumas atividades extras. Como isso será tratado pelo novo comando?
O bico é uma questão cultural. Quando entrei na polícia, em 1987, tinha toda uma cultura nesse sentido, tinha questão de salários (baixos) e isso tudo foi evoluindo. Atualmente, o serviço voluntário gratificado foi lançado para dobrar o número de policiais nas ruas e dar um apoio ao militar. É uma opção para que ele saia do serviço ilegal, que não dá respaldo jurídico a ele em casos de invalidez ou morte. Não temos dados, mas diminuímos consideravelmente o bico com essa medida. Até onde eu sei, não estudei a fundo o que o comandante anterior fez, alguns serviços ainda são feitos, mas hoje temos o serviço voluntário e ele terá muito mais segurança trabalhando no voluntário do que fazendo bico.

O governador Agnelo Queiroz prometeu em campanha ter uma polícia integrada. No dia a dia, é notória a existência de algumas arestas entre as corporações. Como vencer essas dificuldades?
As instituições são voltadas para o serviço fim, que é atender a sociedade. Somos formados para isso. Quem faz a instituição são as pessoas. Hoje, as instituições já vêm no processo de integração, principalmente planejamentos estratégicos, claro que cada um dentro dos seus limites. Não enxergo essa situação, exteriorizada em algumas matérias jornalísticas, de que existe essa situação de, digamos, animosidade entre as instituições. Essa parceria vai além. Vamos aumentar a interface com o Entorno. Precisamos fazer parcerias, trocar informações, fazer operações integradas, na medida do possível. Porque o DF tem uma linha limítrofe, mas a atuação criminosa atua em todo o país. Essa integração já faz parte do planejamento da Secretaria de Segurança Pública e, quando estiver acertada, partiremos para o operacional.

Os convênios com o Detran e o DER para fiscalização de trânsito serão mantidos?
O trânsito hoje tem uma imagem e é um segmento importante dentro da nossa corporação. Já tem um convênio firmado e nossa meta é continuar com esse contrato.

Como a PM vai se preparar para a Copa do Mudo de 2014?
Começamos pelo planejamento estratégico, com integração e com informações da estatística para combater a criminalidade. Vamos eleger prioridades. A primeira, é estarmos mais na rua, por meio das operações, do policiamento ostensivo, fazendo abordagens. A partir do planejamento estratégico e das estatísticas, vamos elencar quais pontos nas cidades-satélites devemos nos preocupar. A questão do tráfico de drogas, as boca de fumo, vamos em direção a isso. São ações para agora, de curto prazo.

As drogas e a violência também estão dentro e nas imediações das escolas, lugares onde as crianças e os adolescentes deveriam se sentir absolutamente protegidos. Como a PM, por meio do Batalhão Escolar, pretende enfrentar esse problema?
O Batalhão Escolar tem a sua responsabilidade. É preocupação de seus integrantes atuar de modo que os pais tenham maior sensação de segurança para os seus filhos. Sabemos que os traficantes procuram seus clientes nessas áreas. Mas temos que chamar ao debate a comunidade, os pais e os conselhos de segurança para debater essas questões da criança e do adolescente. Não é só um problema de polícia, passa por questões de valores dentro da família e da formação dessa criança. Precisamos debater saídas, e, para isso, precisamos envolver a comunidade.

DNA DO CRACK
O secretário de Segurança Pública, Daniel Lorenz, reuniu ontem os comandos das polícias Civil e Militar e reforçou sua meta de integrar as forças de segurança. Em café da manhã com jornalistas, traçou um panorama geral de como pretende atuar no combate ao tráfico de drogas. Conforme adiantou ao Correio, em entrevista publicada no último domingo, Lorenz afirmou que vai trabalhar com o perfil químico para precisar a origem da droga e, assim, planejar ações mais eficientes. Lorenz citou o caso do crack, que chegou ao DF em meados de 2007 e tomou conta da área central de Brasília e de cidades como Ceilândia, onde os usuários vivem dentro de bueiros, conforme denunciou o Correio em setembro passado. ;Se o perfil químico apontar que esse crack tem a mesma composição daquele produzido e consumido em São Paulo, precisaremos atuar em conjunto com a polícia paulista, traçar a rota. Mas se o crack apreendido aqui tiver características únicas, é um sinal de que os laboratórios ficam aqui. Aí vamos descobrir onde estão;, afirmou Lorenz.

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