Luiz Calcagno, Roberta Machado
postado em 20/01/2011 08:00
Como ocorre quase todo ano, a menos de dois meses do carnaval, o Governo do Distrito Federal e as escolas de samba ainda discutem o orçamento da festa. Após várias reuniões, a Secretaria de Cultura acertou a liberação de R$ 3,57 milhões para o desfile no Ceilambódromo. O valor representa R$ 570 mil a mais do repassado em 2010. E ele pode aumentar. O governo tem R$ 5 milhões disponíveis para a folia oficial. Os representantes das agremiações querem mais. Falta ainda acertar a fatia dos blocos de rua.Acordo feito em novembro previa R$ 4,32 milhões para as escolas, segundo o presidente da União das Escolas de Samba de Brasília (Uniesb), Geomar Leite. O dinheiro cobriria somente o pagamento dos desfiles das escolas, sem incluir os custos com a estrutura do Ceilambódromo e os oito blocos de rua tradicionais da cidade ou o Granfolia .
O desfile das 17 escolas de samba do DF depende diretamente da liberação da verba, ainda de acordo com Geomar. Da confecção das fantasia ao reinado do Rei Momo, tudo está atrasado, à espera do dinheiro dos contribuintes. ;Trabalhamos desde setembro com as maquetes dos carros. Sei que o governo não vai deixar a cidade sem carnaval, mas nada foi definido. Precisamos chegar a um consenso;, argumenta.
O presidente da Uniesb ressalta que o valor pedido ao governo representa apenas uma parte dos custos da festa no Ceilambódromo. No ano passado, o GDF, ainda sob gestão de José Roberto Arruda, liberou R$ 3 milhões, mas as despesas da festa ficaram em quase R$ 5 milhões, segundo Geomar Leite. Ele afirma que as escolas trabalham há meses com base nos valores acordados no ano passado, e que uma queda brusca nesse montante acarretaria grande prejuízo.
Porém, em novembro, o DF era comandado por Rogério Rosso (PMDB). A Secretaria de Comunicação da administração Agnelo Queiroz (PT) informou, na noite de ontem, que o orçamento para o carnaval deste ano, estipulado pela Câmara Legislativa, era de R$ 1 milhão. Ao saber do valor, o novo governador pediu o acréscimo de R$ 4 milhões, por meio de emenda parlamentar. No entanto, o relator, deputado Cristiano Araújo (PTB), perdeu o prazo para apresentar a emenda, segundo a assessoria do governador. Para resolver o problema, Agnelo liberou uma verba suplementar de R$ 4 milhões. No total, o carnaval oficial terá R$ 5 milhões disponíveis, maior quantia da história.
Adiamento
Por enquanto, as escolas de samba trabalham com base em promessas e expectativas. Enquanto o cronograma com a liberação das parcelas não é divulgado, os carnavalescos adiam até a última hora a compra de materiais de alto custo, como madeira, ferro, tinta e aviamentos. A Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), por exemplo, escolheu o tema do desfile no meio do ano passado. A maior campeã do carnaval candango homenageará o próprio cinquentenário. A única dúvida é saber quando os carnavalescos poderão colocar a mão na massa para tornar o projeto realidade.
;O samba está gravado, os protótipos dos carros e figurinos estão prontos e já começamos os ensaios da bateria em novembro. Mas, daqui em diante, tudo envolve despesa. Só trabalhamos após ter certeza absoluta dos recursos;, afirmou o presidente da escola, Moacyr Oliveira Filho. Ele calcula que sejam necessários ao menos 60 dias para fazer um trabalho de qualidade, mas garante que consegue montar a festa em até 40 dias, se necessário. ;Como este ano o carnaval é em março, temos um certo fôlego ainda;, ressaltou.
Com ou sem ajuda
Os blocos carnavalescos também aguardam um posicionamento da Secretaria de Cultura. Presidente da Liga dos Blocos Tradicionais e Escolas de Acesso (Libesa), Jean de Sousa Costa afirma que o grupo se reuniu com o secretário adjunto de Cultura, Miguel Ribeiro Mariano, mas não teve uma resposta definitiva. Segundo ele, todo o carnaval está orçado em R$ 4,1 milhões. No ano passado, o GDF liberou R$ 700 mil para a nossa liga. ;Entendemos que o governo é novo, mas o projeto está lá desde novembro e precisamos começar a trabalhar junto aos credores;, comentou Jean, diretor do bloco Raparigueiros, que completa 19 anos de atividade em 2011.
Mesmo sem a confirmação do governo, o presidente da Libesa garante que o bloco sai na rua de qualquer jeito. O grupo afina os instrumentos desde dezembro e a confecção das camisetas também foi encomendada. No domingo de carnaval, os Raparigueiros ainda devem ter a companhia do Baratona. O bloco também conta com o patrocínio do governo, e já fecha contratos com bandas e prepara as camisas oficiais antes da confirmação da Secretaria. ;Sair, o bloco sai. Nem que tenhamos de procurar outros meios;, garantiu Esmeralda Penha, organizadora do bloco.
O presidente do Galinho de Brasília, Franklin Maciel Torres, nem esperou pela verba para ir a Recife (PE) encomendar as novas fantasias e um novo estandarte para este ano. Ele pretende trazer da capital pernambucana 10 passistas, que devem ensinar a técnica profissional do frevo em Brasília. ;Se deixar para a última hora, dificulta. Corremos atrás de ajuda do governo federal e de empresas de Pernambuco;, contou. Além dos itens legitimamente pernambucanos, o grupo já encomendou novos bonecos em Brasília. Franklin espera que este ano o Galinho arraste mais de 30 mil pessoas do Setor de Autarquias Sul ao Eixo Monumental.
Irreverência
Talvez o bloco que menos dependa dos recursos governamentais é o Pacotão. Tradicionalmente um grupo de crítica aos governantes, já abriu concurso para a marchinha que este ano irá entoar a banda. ;A única coisa que não aceitamos é música que fale bem do governo, não queremos bajulatórios;, explicou o bem-humorado Joanfi, um dos componentes da comissão organizadora. Apesar do grande peso do orçamento feito pela banda de 25 músicos e pelo aluguel do trio elétrico, o Pacotão, por enquanto, se vira com o dinheiro arrecadado na venda de discos e camisetas e com patrocínios privados. Mas Joanfi alerta: mesmo falando mal do governo, o bloco não abre mão da sua parte do bolo oficial. ;O GDF deveria incentivar. O Agnelo e o Rollemberg (senador Rodrigo Rollemberg) são os campeões do Pacotão, saíam de bermuda e chinelo no bloco;, destacou.
PONTO DE ENCONTRO
O Gran Folia é uma área especialmente preparada para receber os foliões de todas as partes do DF. Ele fica na Esplanada dos Ministérios, próximo do antigo Touring, ao lado do Conjunto Cultural da República, e conta com estrutura para shows, como palco e banheiros químicos. Serve de ponto de concentração e apresentação dos tradicionais blocos de rua da cidade. São cinco dias de festa gratuita.