postado em 22/01/2011 08:46
Epicentro de um dos maiores escândalos políticos da história da capital do país, a Companhia de Planejamento (Codeplan) do Distrito Federal quer voltar a ser a vista como órgão técnico do governo. A nova diretoria tomou posse esta semana disposta a eleger como prioridade a elaboração de estudos de planejamento estratégico e desenvolvimento econômico, social e urbano. O desvirtuamento de função da autarquia, criada em 1964, prejudicou a economia local nos últimos anos. Diante da carência de informações oficiais, a cidade afugentou investimentos.O novo presidente do órgão, o delegado da Polícia Civil Miguel Lucena, afirmou que a intenção é transformar a Codeplan no ;Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) do Planalto Central;. Publicitários e marqueteiros farão um trabalho de resgate da imagem da autarquia. Segundo Lucena, a equipe terá de ser completamente reestruturada. Ontem, ele assinou a exoneração de 20 pessoas que ocupavam cargos comissionados. ;A partir de agora, a companhia vai se concentrar no trabalho de planejamento e pesquisa, que é a função primária dela;, reforçou.
Nomeado diretor de Gestão de Informações, o economista Júlio Miragaya disse que o grande desafio será retomar a autoestima do corpo técnico. A Codeplan conta com apenas 10 economistas no quadro, sendo que cinco estão cedidos para outros órgãos, como secretarias e administrações regionais. Geógrafos, são apenas três. ;Teremos muito trabalho, mas vamos tirar a Codeplan das páginas policiais e levá-la de volta aos cadernos de economia;, afirmou o diretor, que, até então, ocupava o cargo de coordenador de Planejamento Territorial do Ministério da Integração Nacional.
Polos
Os principais projetos para ressuscitar o conceito original da Codeplan sairão do papel em 2011, segundo Miragaya. Ao longo do ano, serão traçados os perfis socioeconômicos da população de algumas cidades do DF, da indústria e das micro e pequenas empresas locais. Também está prevista a retomada do Programa Especial da Região Geoeconômica de Brasília (Pergeb), lançado em 1975. A ideia é, com a ajuda do governo federal, consolidar polos econômicos em municípios vizinhos e, assim, reduzir o fluxo migratório que sobrecarrega os serviços públicos da capital federal.
Outra proposta da nova diretoria é voltar a analisar e divulgar os números da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), hoje sob responsabilidade da Secretaria de Trabalho. Miragaya defende que, ao não incluir dados do Entorno, o levantamento apresenta ;resultados mascarados;. ;É preciso levar em conta a região metropolitana do DF. Da forma como a pesquisa é feita atualmente, as informações estão absolutamente incompletas;, sustentou ele, antes de lembrar que o desemprego em Brasília tem diminuído numa velocidade bem menor do que no restante do país.
Depois que a autarquia passou a coordenar os contratos de informática, no governo de Joaquim Roriz, a produção de dados ficou em segundo plano na Codeplan. De acordo com Miragaya, os projetos que não foram parar na gaveta estavam sendo tocados muito lentamente. ;O DF não participou da disputa por grandes investimentos nos últimos anos porque, entre outros fatores, as empresas não tinham informações precisas sobre o mercado;, comentou o novo diretor. ;Sem informação, não é possível criar uma política de atração de investimentos.;
MEMÓRIA
Espaço de esquemas ilegais
Com o estouro, em novembro de 2009, da Operação Caixa de Pandora, que resultou na prisão do então governador, José Roberto Arruda, a Companhia de Planejamento (Codeplan) ganhou destaque nacional. O esquema de corrupção no governo teria iniciado na época em que o delator do escândalo, o delegado da Polícia Civil Durval Barbosa, presidia a autarquia. O órgão virou nome da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pediu o indiciamento de Arruda, do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) e de mais 20 pessoas.
Antes, a Codeplan havia protagonizado diversos episódios de irregularidades envolvendo contratos de informática. Em 2004, o Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) mandou Durval, na condição de presidente do órgão, parar de contratar serviços por meio do Instituto Candango de Solidariedade (ICS). Uma auditoria identificou que, somente em 2005, acordos com a Linknet e a Prodata causaram prejuízo de R$ 24 milhões ao cofres públicos.