Helena Mader
postado em 23/01/2011 08:38
A Secretaria de Saúde vai realizar um amplo levantamento para identificar o deficit atual de servidores da área. Hoje, não existem informações precisas sobre quantos profissionais seriam necessários para atender a demanda. O chefe da pasta, Rafael de Aguiar Barbosa, explica que já existe um edital pronto para abertura de concurso. ;Estamos aguardando apenas a autorização da Câmara Legislativa, já que a contratação implica mudanças na dotação orçamentária. Vamos contratar servidores de todas as áreas;, afirma o secretário. Hoje, o setor emprega 29 mil pessoas como enfermeiros, médicos, auxiliares de enfermagem e auxiliares administrativos.Rafael disse que concorda com a avaliação realizada pelos funcionários da saúde de que há deficit de pessoal. ;A falta de recursos humanos acaba sobrecarregando muito quem trabalha nos hospitais e nos centros de saúde. A tarefa que deveria ser feita por quatro servidores acaba sobrando para apenas um;, justifica o secretário. ;Estive com o governador (Agnelo Queiroz) no Hospital de Taguatinga e algumas auxiliares de enfermagem quase imploraram para a gente contratar mais servidores porque elas querem se aposentar, mas não têm coragem de deixar o quadro insuficiente;, relata. ;A maioria dos servidores é muito comprometida com a prestação de um bom atendimento. Alguns só estão desmotivados por conta da situação problemática da rede;, acrescenta Rafael Barbosa.
Para o secretário, as melhorias que o governo pretende implantar na rede, com o reabastecimento dos estoques de material hospitalar e medicamentos, vão funcionar como um estímulo à permanência dos servidores no sistema público de saúde. ;Hoje, o centro da insatisfação dos profissionais não é apenas a questão salarial. O médico começa a fazer um tratamento quimioterápico em um paciente, por exemplo, e de repente tem que interromper porque falta medicamento. Isso tudo é muito desgastante, são perfeitamente compreensíveis as reclamações;, comenta Rafael Barbosa.
Produtividade
Depois de fazer ajustes urgentes, necessários à normalização dos serviços da rede, a Secretaria de Saúde pretende estudar uma recomposição salarial para os médicos e para outros servidores da área. O secretário disse que já constituiu um grupo para estudar a fixação de metas para, assim, criar indicadores de produtividade e de gratificações. ;Nossa ideia é estabelecer alguns critérios para compensar o trabalho benfeito. Faremos discussões com alguns setores, para definir as metas e depois estabelecer as compensações. Vamos concluir isso assim que passarmos dessa fase de arrumação da casa;, conclui Rafael Barbosa.
Apesar de demonstrar interesse em reforçar o quadro de pessoal, o GDF pode ter dificuldades em contratar médicos. Por conta das péssimas condições de trabalho e dos salários considerados baixos pela categoria, muitos aprovados desistem de entrar na rede. Em um concurso realizado em abril do ano passado, por exemplo, mais da metade dos profissionais aprovados não teve interesse em assumir os postos. O GDF chamou 588 médicos, mas apenas 292 tomaram posse.
Em algumas especialidades, o desinteresse pelo SUS é ainda mais preocupante. Nesse mesmo concurso, dos 90 anestesistas convocados, apenas 43 aceitaram trabalhar na rede pública. Entre os pediatras, 25 dos 60 chamados não quiseram a vaga. Para piorar o prognóstico, grande parte dos empossados desiste do trabalho e pede exoneração pouco depois de assumir o posto.
Apesar de baixos, os salários pagos aos médicos em Brasília ; R$ 3.726 para carga horária de 20 horas e R$ 7.393 para 40 horas semanais ; são bem superiores aos vencimentos dos profissionais da rede pública de outros estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, a remuneração básica é de R$ 1.500 para carga horária de 12 horas. Em São Paulo, um médico que trabalha 24 horas por semana recebe R$ 1.559, com gratificação por produção que pode aumentar em até um terço esse valor.