Jornal Correio Braziliense

Cidades

Custo de festas de casamento em Brasília sobe até 40% de um ano para outro

Os arranjos de flores, por exemplo, dobraram de preço nos últimos 12 meses

Se casar fosse investimento, seria um dos melhores do mundo. Pelo menos para quem promove ou vende serviços para esse tipo de comemoração. Em Brasília, de um ano para o outro, o valor da festa dos noivos sobe de 10% a 40%. Essa valorização dá um baile até sobre os imóveis, que na capital encarecem, em média, entre 15% e 20% ao ano. Mas, como não se trata de uma aplicação, o aumento nunca é bom para os noivos. Principalmente para aqueles que guardam as economias na poupança, que no ano passado rendeu meros 6,9%.

A estudante de direito Anajara Alves dos Santos está com quase tudo pronto para o casamento. Faltam menos de quatro meses para a festa e os serviços estão todos contratados. Eles seguem a mesma qualidade e os padrões escolhidos pela irmã, Aleine Alves Bonfim, há cinco anos. No entanto, há uma grande diferença entre as duas comemorações: R$ 30 mil. Apenas no intervalo entre as duas cerimônias houve um aumento de 75% no custo da festa.

Aleine conta que, mesmo sabendo da valorização, ela preferiria ter poupado mais. ;Na época, a minha vontade ainda era de ter gastado menos. Acontece que a gente começa a ver os detalhes e é tudo maravilhoso. Eu não me arrependo, mas hoje teria investido parte desse dinheiro para dar de entrada em uma casa ou em um carro. Até porque a gente nunca agrada a todos. No fim, alguém sempre sai reclamando;, lamenta. A irmã discorda: ;Eu acho que vale a pena. É um sonho e só acontece uma vez na vida. Pelo menos é o que todo mundo espera;, brinca Anajara. Segundo a noiva, a parte mais cara do casamento até agora foi a decoração. Entre ornamentar a igreja e o salão foram investidos R$ 25 mil. Preço superior ao buffet para servir 300 convidados.

E são justamente as flores que mais subiram de preço nos últimos anos. Apesar de haver diversas opções de enfeites e estilos, os arranjos estão presentes em quase todos os casamentos. A cerimonialista Lyana Azevedo conta que a maioria das flores vem de Holambra, no interior de São Paulo. As plantas são leiloadas e encarecem de acordo com a demanda. Em maio, por exemplo, conhecido por ser o mês das noivas, o lote é sempre mais caro. ;Por isso, em geral, os decoradores trabalham cobrando o teto durante o ano todo, para evitar prejuízos. Se der uma geada na região, simplesmente não tem flor no mercado. Para se ter uma ideia, o preço subiu 100% nos últimos dois anos;, conta.

O cerimonialista César Serra aponta outro motivo para a escalada dos preços: a inflação sobre os alimentos. ;O reflexo é automático sobre o nosso trabalho. Faz parte do nosso custo de produção e isso acaba sendo repassado. O filé e o chocolate tiveram um aumento muito grande. Não se faz casamento sem nenhum dos dois;, afirma. Ele conta também que alguns opcionais, como o camarão gigante, subiram tanto que nenhuma empresa poderia absorver a diferença. ;Até novembro, o quilo era vendido por R$ 85. Hoje, eu não compro por menos de R$ 130. Sem contar que fechamos o contrato hoje para servir em um ano, por isso o nosso risco é muito grande;, justifica.

Antecipação
Para minimizar a possibilidade de fechar um orçamento defasado, alguns salões de festas projetam o preço do aluguel e comercializam hoje um valor de 2012. No Espaço Cristal Brasília, no Riacho Fundo, a noiva pode evitar o reajuste se fizer o pagamento à vista. ;Faltam espaços para alugar na cidade, por isso os reajustes são praticamente anuais. Além disso, a gente sempre faz melhorias no espaço de um ano para o outro. O serviço melhora e o preço aumenta, acompanhando o mercado;, explica a gerente do local, Giovani Tokarski.

Outro custo que pesa no bolso é o registro da cerimônia em fotos. ;Disso tudo, a única lembrança que fica é o álbum;, argumenta o fotógrafo Lincon Iff. Embora a gama de profissionais dispostos a realizar o serviço também seja grande na cidade, os preços dificilmente começam por menos de R$ 7 mil. ;Em 2007, o meu preço era a metade do que é agora. Ocorre que a tecnologia avança e os produtos vão ficando melhores e mais caros. Um botão da minha máquina custa R$ 1.400, o meu material de trabalho todo é muito caro;, afirma.

O fotógrafo Glenio Dettmar diz que não reajustou o preço nos últimos dois anos para não ficar muito acima do mercado. No entanto, ele afirma que os aumentos anuais são muito comuns e necessários para cobrir a diferença com combustível, equipe, revelação e álbum. ;O que tenho feito é oferecer além dos produtos ;top de linha;, os que são tradicionais e mais baratos. Quem quiser paga pela mudança. Se não for assim, o trabalho não dá lucro.;

Colaborou Diego Amorim



Dicas ajudam a economizar

Antes de quebrar o porquinho, vale a pena seguir as dicas de outras noivas que viveram a experiência. A nutricionista Joana Holanda, que se casou no ano passado, conta que evitou contratar serviço de cerimonial. Com isso, ela economizou de R$ 3 a R$ 12 mil. No buffet, dispensou o camarão, o que representou R$ 5 a menos para cada convidado. Em uma festa para 200 pessoas, são R$ 1 mil a menos. Os reajustes anuais com o aluguel do salão também são evitáveis. Se a festa for programada com antecedência, a economia média é de 10% sobre o valor do espaço.

Do Plano Piloto às regiões do Distrito Federal, o preço pode oscilar entre R$ 2 mil e R$ 9 mil pela noite. A servidora pública Nicole Back Fontenele Melo teve a sorte de ganhar o espaço para a festa na própria igreja. Quem mora em casa também tem a opção de aproveitar o espaço. O dinheiro pode servir para incrementar a decoração, e o quintal fica com ar de salão de festas. Nicole também dividiu a decoração do altar com outra noiva do dia. A estratégia é econômica e bastante conhecida pelos casais. Com a verba menos comprometida, a lista de 200 convidados se transformou em uma festa para 400 pessoas. (JB)