Cidades

Fícus da 108 Sul além de oferecer sombra também atendem pedidos

postado em 25/01/2011 08:04
A receita é simples: basta passar por baixo de um vão entre duas árvores e fazer três pedidos. A expectativa é de que, caso o desejo seja formulado com alegria, será realizado. O cenário para os pedidos fica na área central da capital do país, ao lado de uma banca de jornais na 108 Sul. As árvores foram plantadas há 48 anos pelo dono da banca, o jornaleiro Lourivaldo Soares Marques, 73. De lá para cá, ele garante já ter sido atendido em um importante desejo que formulou. ;Mas não pode contar o que é, tem que manter o segredo;, diverte-se.

A saudade do contato com a natureza durante a infância, passada na Bahia, foi o que levou o jornaleiro a plantar as mudas, em 1963, três anos após chegar à capital. Era setembro, mês de seca inclemente, e o jornaleiro resolveu garantir sombra em seu empreendimento cultivando as árvores. Como elas cresceram muito próximas, Lourivaldo uniu as raízes das duas, tornando-as uma só. ;Na fazenda onde eu vivia, estávamos sempre em cima dos pés de angico, uma árvore que produz uma resina doce, como se fosse um bombom;, conta.

Os dois fícus italianos plantados na entrada da área residencial da 108 Sul foram podados com cuidado e, direcionados, formaram juntos uma espécie de passagem. Hoje, além de ser atração para a clientela da banca de Lourivaldo, o lugar serve como um refúgio para a leitura, utilizado por alguns frequentadores da quadra ou mesmo pelo próprio jornaleiro. ;É um portal de energia para as pessoas. Já para a minha história é mais, é um caso de amor;, resume Lourivaldo.

Quando montou a banca na quadra, o jornaleiro lembra que não havia árvores na região. As áreas verdes se restringiam a meia dúzia de coqueiros próximos ao Bloco I. ;Quando vieram arborizar a quadra, eu pedi que as mudas fossem plantadas em formato da letra L, em minha homenagem, e eles fizeram isso;, orgulha-se o pioneiro. Atualmente, de acordo com a Divisão de Implantação de Áreas Verdes da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), cada quadra do Plano Piloto conta com aproximadamente 700 árvores.

Preservação
A cumplicidade com a natureza é tanta que o jornaleiro Lourivaldo chega a sonhar com a árvore quando ela precisa de poda. ;Nunca caiu um galho sobre a minha banca de jornal ou sobre alguém em todos esses anos;, garante. Frequentadora da banca de jornal, a universitária Anna Carolina Silva Gomes, 22 anos, garante que faz pedidos todas as vezes que utiliza a passagem da árvore. ;Um dos pedidos, inclusive, já está em processo de realização;, diz. O advogado Osmar Nogueira, 78, morador da quadra, mesmo sem acreditar nas superstições, parabeniza a atitude do jornaleiro: ;O verde é muito importante para a sociedade. Fico feliz em ver pessoas como ele, que se dedicam a cuidar da natureza;.

As boas vibrações da árvore, no entanto, não impediram que o jornaleiro passasse por cinco assaltos à mão armada na 108 Sul. O trauma o fez investir em outros negócios fora da capital, como no ramo de turismo, em Goiás. ;É a vontade de mudar de vida, essa violência assusta.; A banca de jornal ganhou recursos de segurança, como interfone e alarme. Nada que quebre o encanto da natureza, nem a possibilidade da realização dos desejos. ;Não existe nenhum pedido que seja difícil de ser realizado, tudo só depende da fé com que você faz o desejo;, ensina o jornaleiro. O atual pedido de Lourivaldo é que as suas árvores se tornem um ponto turístico da capital.

A pioneira
O estabelecimento foi o primeiro do tipo no Distrito Federal. Nos anos de 1960, o jornaleiro Lourivaldo vendia laranjas e ficou conhecido por comercializar um produto incomum: poeira engarrafada de Brasília, a US$ 1. Tudo para que os estrangeiros pudessem levar para casa, em vidros de remédio, vestígios da nova capital brasileira. Hoje, a banca conta com 49 metros quadrados e é um dos 1,1 mil pontos de venda espalhados pelo DF.

Falsa seringueira
De nome científico Ficus elastica Roxb, a falsa seringueira é originária da Ásia, sendo conhecida no Brasil como ficus italiano, porque as primeiras mudas vieram da Itália. A espécie também é conhecida como figueira branca e pode ser utilizada em vasos. De acordo com pesquisas, a árvore elimina toxinas dos ambientes internos. Em Brasília, os exemplares mais conhecidos ficam na Câmara dos Deputados.

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