postado em 25/01/2011 08:04
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A saudade do contato com a natureza durante a infância, passada na Bahia, foi o que levou o jornaleiro a plantar as mudas, em 1963, três anos após chegar à capital. Era setembro, mês de seca inclemente, e o jornaleiro resolveu garantir sombra em seu empreendimento cultivando as árvores. Como elas cresceram muito próximas, Lourivaldo uniu as raízes das duas, tornando-as uma só. ;Na fazenda onde eu vivia, estávamos sempre em cima dos pés de angico, uma árvore que produz uma resina doce, como se fosse um bombom;, conta.
Os dois fícus italianos plantados na entrada da área residencial da 108 Sul foram podados com cuidado e, direcionados, formaram juntos uma espécie de passagem. Hoje, além de ser atração para a clientela da banca de Lourivaldo, o lugar serve como um refúgio para a leitura, utilizado por alguns frequentadores da quadra ou mesmo pelo próprio jornaleiro. ;É um portal de energia para as pessoas. Já para a minha história é mais, é um caso de amor;, resume Lourivaldo.
Quando montou a banca na quadra, o jornaleiro lembra que não havia árvores na região. As áreas verdes se restringiam a meia dúzia de coqueiros próximos ao Bloco I. ;Quando vieram arborizar a quadra, eu pedi que as mudas fossem plantadas em formato da letra L, em minha homenagem, e eles fizeram isso;, orgulha-se o pioneiro. Atualmente, de acordo com a Divisão de Implantação de Áreas Verdes da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), cada quadra do Plano Piloto conta com aproximadamente 700 árvores.
Preservação
A cumplicidade com a natureza é tanta que o jornaleiro Lourivaldo chega a sonhar com a árvore quando ela precisa de poda. ;Nunca caiu um galho sobre a minha banca de jornal ou sobre alguém em todos esses anos;, garante. Frequentadora da banca de jornal, a universitária Anna Carolina Silva Gomes, 22 anos, garante que faz pedidos todas as vezes que utiliza a passagem da árvore. ;Um dos pedidos, inclusive, já está em processo de realização;, diz. O advogado Osmar Nogueira, 78, morador da quadra, mesmo sem acreditar nas superstições, parabeniza a atitude do jornaleiro: ;O verde é muito importante para a sociedade. Fico feliz em ver pessoas como ele, que se dedicam a cuidar da natureza;.
As boas vibrações da árvore, no entanto, não impediram que o jornaleiro passasse por cinco assaltos à mão armada na 108 Sul. O trauma o fez investir em outros negócios fora da capital, como no ramo de turismo, em Goiás. ;É a vontade de mudar de vida, essa violência assusta.; A banca de jornal ganhou recursos de segurança, como interfone e alarme. Nada que quebre o encanto da natureza, nem a possibilidade da realização dos desejos. ;Não existe nenhum pedido que seja difícil de ser realizado, tudo só depende da fé com que você faz o desejo;, ensina o jornaleiro. O atual pedido de Lourivaldo é que as suas árvores se tornem um ponto turístico da capital.
A pioneira
O estabelecimento foi o primeiro do tipo no Distrito Federal. Nos anos de 1960, o jornaleiro Lourivaldo vendia laranjas e ficou conhecido por comercializar um produto incomum: poeira engarrafada de Brasília, a US$ 1. Tudo para que os estrangeiros pudessem levar para casa, em vidros de remédio, vestígios da nova capital brasileira. Hoje, a banca conta com 49 metros quadrados e é um dos 1,1 mil pontos de venda espalhados pelo DF.
Falsa seringueira
De nome científico Ficus elastica Roxb, a falsa seringueira é originária da Ásia, sendo conhecida no Brasil como ficus italiano, porque as primeiras mudas vieram da Itália. A espécie também é conhecida como figueira branca e pode ser utilizada em vasos. De acordo com pesquisas, a árvore elimina toxinas dos ambientes internos. Em Brasília, os exemplares mais conhecidos ficam na Câmara dos Deputados.