postado em 27/01/2011 08:00
Construídas para promover a integração da comunidade, praças de diferentes regiões do Distrito Federal viraram redutos de violência e de lixo. Muitos vizinhos não ousam frequentá-las. Passam longe delas por medo de assaltos. Viraram, assim, pontos de encontro renegados ao descaso. Na Asa Sul, as antigas áreas de lazer servem como esconderijo para marginais. Em Taguatinga, o uso de drogas ocorre a céu aberto. No Guará e no Cruzeiro Velho, o vandalismo tomou conta dos equipamentos públicos e, em Águas Claras, os frequentadores aproveitam o espaço para fazer arruaças.Faz tempo que os moradores da QE 42 do Guará desistiram de frequentar a praça entre o Conjunto Q e o Conjunto L. A dona de casa Antônia dos Santos, 25 anos, passeia todas as tardes com a filha Ana Clara Rodrigues, 2, mas passa longe do local. ;As grades estão todas furadas, com as pontas para fora. São um perigo;, alertou. No parquinho, os brinquedos enferrujaram, e a areia deu lugar a arbustos. Em vez de diversão para as crianças, viraram depósito de sujeira. ;Os cachorros fazem as necessidades lá dentro. Ninguém vem limpar;, reclamou a moradora.
Na Quadra 5 do Cruzeiro Velho, os adeptos aos exercícios físicos se preparam para o dia em que não poderão mais usar os aparelhos de malhação. As placas afixadas nos equipamentos, com dicas para evitar acidentes e distensões musculares, foram todas danificadas. O autônomo Henrique Matos, 41 anos, conta que a baderna começa à noite e não tem hora para acabar. ;As placas quebradas são decorrentes do vandalismo e da falta de policiamento;, denunciou.
Ao lado dos aparelhos de musculação, havia três bancos de concreto. Dois deles foram derrubados. O terceiro provoca medo em quem se arrisca a sentar. Henrique acredita que os assentos caíram há cerca de um ano. ;Estavam tortos, emborcados. As pessoas não usavam mais. Um dia, eles amanheceram no chão;, contou.
Emblemática, a Praça do DI, na QNA de Taguatinga, ficou à mercê do tráfico de drogas. A reportagem flagrou crianças e adultos usando entorpecentes pelas calçadas. O professor Alan Damásio, 47 anos, conta que, mesmo quando o Governo do Distrito Federal promove eventos no local, a presença dos marginais afasta o público. ;No ano passado, vim a uma festa da administração. Estava tudo organizado, mas não tinha condições de ficar por conta da quantidade de gente estranha;, disse. O piso de pedra portuguesa tem vários buracos. Nos canteiros, há apenas galhos de plantas.
A presença de pessoas suspeitas nas praças locais também deixa os moradores de Águas Claras temerosos. A administradora de um dos edifícios que circundam a Praça Tuim, Sheila Nantes, 39 anos, conta que a baderna ocorre todos os dias. Segundo ela, jovens compram bebidas em um supermercado das redondezas e vão para o lugar, inaugurado há menos de dois anos na Quadra 206 Sul. ;Além de fazer barulho, os garotos usam drogas. A polícia quase não faz rondas;, revelou.
Esconderijo
A instalação de um Posto Comunitário de Segurança não afastou os marginais da Praça do Índio, na 703/704 Sul, onde dois crimes bárbaros chocaram a população de Brasília (leia Memória). No local, um coreto sujo e antigo abriga moradores de rua. O prefeito da quadra, Wildemar Damasceno, 68 anos, explica que a presença dos policiais inibe a ação de assaltantes, mas não impede o uso de drogas. ;É um esconderijo de bandidos. À noite, eles saem e roubam as casas. Já entraram em várias;, afirmou.
A Praça 21 de Abril, na 707/708 Sul, é uma travessia perigosa. O dono da banca de jornal da quadra, Mário Mergulhão, 56 anos, conta que os assaltos aumentam com o início das aulas. ;Isso aqui está muito largado. Falta infraestrutura;, denuncia Mário. Os aparelhos de musculação estão quebrados, e as pichações imperam nas paredes do coreto da praça.
MEMÓRIA
Mortes na área da 703/704 Sul
Dois crimes ocorridos na Praça da 703/704 Sul chocaram a população. Em 1997, cinco jovens atearam fogo ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos enquanto ele dormia no banco da parada de ônibus. Depois de quase 12 anos, os moradores de rua Raulhei Fernandes Mangabeiro, 26 anos, e Paulo Francisco de Oliveira Filho, 35, foram assassinados por volta das 6h40, em 19 de janeiro de 2009. A dupla dormia no coreto da praça, onde acabou executada. Um funcionário do Banco Central que morava próximo ao local admitiu a autoria do crime, alegando estar irritado com a presença dos mendigos. Três meses depois, agentes da 1; DP, na Asa Sul, o prenderam.
Promessas de revitalização
As novas administrações prometem dar atenção aos espaços de socialização. No Guará, a revitalização começou em praças das QIs 22, 10, 6 e 4 e das QEs 30 e 28.O administrador regional da cidade, Carlos Nogueira, garante que os trabalhos chegarão à QE 42 e a outras praças descuidadas. ;Colocaremos meios fios e faremos serviços de limpeza e de retirada de entulhos;, comprometeu-se. A segurança será feita por meio da cooperação entre as polícias Civil e Militar. Segundo ele, houve reuniões com os responsáveis pela delegacia e pelo batalhão da região.
A restauração das 22 áreas de lazer do Cruzeiro também começou. De acordo com a assessoria de imprensa da Administração Regional da cidade, a faxina foi iniciada em três parques. Em alguns deles, segundo o órgão, os brinquedos estavam debaixo da areia. O órgão informou que, para os próximos dias, está prevista a limpeza de campos e de quadras.
Ouvir os problemas da comunidade está entre as prioridades dos responsáveis pelo Plano Piloto. Prefeitos de quadras, inclusive das 700, participaram de reuniões na Administração Regional de Brasília. De acordo com a assessoria de imprensa, as demandas passam atualmente por análise. Depois disso, técnicos do órgão verificarão se há condições e recursos necessários para implantar os projetos.
Em Águas Claras, segundo a assessoria de imprensa da administração regional, representantes das polícias Civil e Militar também estão cientes da situação da Praça Tuim e de outros pontos da cidade. Além disso, o órgão afirmou que vai verificar com o supermercado da região se há irregularidades na venda de bebidas alcoólicas durante a noite.
A depender das intenções, a Praça do DI também deve passar por reformas. De acordo com a assessoria de imprensa da Administração Regional de Taguatinga, a situação das praças da cidade foi levantada e todas elas serão revitalizadas nos próximos meses. Segundo o órgão, a polícia trabalha em conjunto com outros órgãos para combater o tráfico de entorpecentes. (LT)