Helena Mader, Adriana Bernardes
postado em 28/01/2011 08:00

Comandada pela delegada Deborah Menezes, então à frente da unidade policial do SIA, a equipe de investigadores iniciou uma apuração própria, ignorando o trabalho desenvolvido pela Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), responsável oficialmente pela apuração da morte do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Villela, 69, além da governanta principal da família, Francisca Nascimento da Silva, 58. Os três foram assassinados a facadas em 28 de agosto de 2009, no apartamento dos Villela.
As supostas irregularidades praticadas por policiais civis foram apuradas pelo Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCAP), órgão ligado ao Ministério Público ; os promotores estiveram em Montalvânia (MP) para investigar a atuação policial. Segundo o MP, os agentes da 8; DP ignoraram intencionalmente uma testemunha que apontava Adriana Villela como a mandante do crime. ;Eles localizaram a pessoa, fizeram interrogatório, mas não deixaram que ela contasse tudo o que sabia. Houve falhas com o objetivo de afastar a existência de uma mandante;, explicou o promotor do Tribunal do Júri de Brasília Maurício Miranda.

Ouvido posteriormente pela Corvida, depois que a unidade assumiu as investigações, o agricultor confirmou a história e revelou que teria tentado, em vão, alertar os agentes da 8; DP sobre a existência de uma mandante. ;Falei com ele (policial): Estou no risco (sic) de o mandante vir aqui e fazer alguma coisa comigo e com a minha família. Aí o policial falou: ;Não tem mandante. Não existe mandante. O Leonardo já confessou (o crime);;, assegurou a testemunha, em depoimento à Corvida.
O agricultor ainda tentou argumentar que o ex-porteiro poderia estar protegendo alguém. ;Eu falei assim: ;O Leonardo pode estar encobrindo alguma coisa;. Aí ele (o policial) falou: ;Ele não está encobrindo (nada). Ele já confessou;.; A testemunha acrescentou que, por mais de uma vez, manifestou preocupação com relação ;à pessoa que possa ter mandado fazer esse crime;. Mas que sempre foi ignorado pelos agentes da 8; DP. Questionada sobre a relação entre a ação da polícia e a arquiteta Adriana Villela, uma fonte do MP afirmou que ;ao que tudo indica, a única beneficiária da ação deliberada da polícia para esconder a existência de uma mandante é a própria mandante. Os policiais jamais fariam isso com o único propósito de serem processados;, comentou a fonte.
Providências
A investigação sobre a suposta conduta irregular dos policiais está em fase final de conclusão. Em nota divulgada na tarde de ontem, o Ministério Público do DF informou apenas que o NCAP tomará ;as providências cabíveis; quanto aos supostos desvios de conduta da polícia. Procurada, a delegada Deborah Menezes não foi localizada para comentar as denúncias.
Desde a segunda quinzena deste mês, o caso da 113 Sul ganhou o reforço de mais duas promotorias do Tribunal do Júri. Além de Maurício Miranda, também atuam no processo os promotores Marcelo Leite Borges e José Pimentel Neto. O pedido de prisão preventiva de Adriana Villela foi apresentado pelo Ministério Público no último dia 17, mas a decisão da Justiça foi decretada na última terça-feira e cumprida ontem.
A primeira prisão da filha do casal Villela ocorreu em 16 agosto do ano passado. Dois dias depois, a defesa de Adriana entrou com pedido de habeas corpus, que foi negado pelo Tribunal de Justiça do DF. A acusada chegou a ser levada ao local do crime, na companhia de investigadores, no dia em que o triplo homicídio completou um ano. Em 2 de setembro do ano passado, ela deixou a prisão, depois de 18 dias atrás das grades. Ela ainda cumpriu 12 dias de prisão domiciliar, até ficar livre (leia Cronologia na página 23).
APURAÇÃO
O Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público analisa investigações e avalia denúncias de casos de omissão ou retardamento injustificado de apurações. Os promotores também colhem informações acerca das atividades das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros. Quando necessário, o núcleo instaura inquérito civil público para apurar casos de improbidade administrativa.
GARANTIA DE ORDEM
A prisão preventiva é decretada para garantir a ordem pública, a conveniência da instrução criminal, a aplicação da lei penal, a ordem econômica ou assegurar o cumprimento de medida protetiva de urgência (no caso da Lei Maria da Penha). A lei não estipula prazo. Segundo o Código de Processo Penal, a realização de audiência de instrução criminal no Tribunal do Júri deve ocorrer em 90 dias. Nesse período, ocorre a instrução criminal, que é a fase de produção de provas em juízo para que o magistrado decida se o réu irá ou não a júri popular.
CRONOLOGIA
2009
28 de agosto
José Guilherme Villela, Maria Carvalho Mendes Villela e Francisca Nascimento da Silva são mortos a facadas no apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul. O crime ocorre entre as 19h30 e as 20h30.
31 de agosto
A polícia é acionada e recolhe os corpos no apartamento, aberto por um chaveiro a pedido da neta dos Villela. O caso fica sob a responsabilidade da 1; Delegacia (Asa Sul).
31 de outubro
A paranormal Rosa Maria Jaques, moradora de Porto Alegre (RS), se apresenta na 1; DP, com a ;missão espiritual; de ajudar nas investigações. Ela teria indicado à delegada Martha Vargas a localização da casa dos assassinos.
3 de novembro
Com base na ajuda da vidente, agentes chegam a um lote em Vicente Pires. Dirigem-se a uma quitinete ocupada por dois homens, que acabam presos. Segundo a polícia, no local, foi encontrada uma chave que abria a porta do imóvel dos Villela.

6 de novembro
O Instituto de Criminalística divulga laudo parcial com a dinâmica do triplo homicídio. Pelo menos dois criminosos atacaram as vítimas, que levaram ao todo 73 facadas.
11 de novembro
A Justiça manda o caso sair da responsabilidade da 1; DP para a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Mas a unidade especializada só assumiria oficialmente o caso em 10 de dezembro.
13 de novembro
O vizinho da dupla presa em Vicente Pires também é detido. Os três são mantidos na prisão por um mês como suspeitos do triplo homicídio, mas acabam sendo liberados por falta de provas.
2010
17 de abril
Adriana Villela, filha do casal assassinado, depõe na Corvida como suspeita do triplo assassinato.
29 de abril
O Correio publica reportagem exclusiva mostrando que peritos da Polícia Civil comprovaram que a chave encontrada na casa de suspeitos em Vicente Pires havia sido fotografada no apartamento dos Villela no dia da primeira perícia. Por isso, o objeto é descartado como prova. No mesmo dia, Martha Vargas é exonerada da chefia da 1; DP. Os três homens presos em novembro passado afirmam terem sido torturados por policiais daquela delegacia para confessar a participação no crime.
16 de agosto
Cinco pessoas são presas, entre elas Adriana Villela e a paranormal Rosa Maria Jaques, sob a acusação de atrapalharem as investigações policiais e imputarem falsamente crime a terceiros.
26 de agosto
Depois de ter negado o habeas corpus a Adriana Villela em caráter liminar, a Justiça adia por mais uma semana o julgamento do mérito do pedido de soltura. Ao longo da semana, as outras quatro pessoas que haviam sido presas acabam liberadas.
24 de setembro
Adriana é denunciada à Justiça.
1; de outubro
O Tribunal do Júri de Brasília aceita denúncia contra a arquiteta, acusada de triplo homicídio e furto.
15 de novembro
A investigação toma novo rumo por conta da prisão do ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul Leonardo Campos Alves, 44 anos, em Montalvânia (MG). Agentes da 8;Delegacia de Polícia (SIA) descobriram o envolvimento dele em uma investigação paralela. O acusado confessa o crime, mas o depoimento aponta diversas inconsistências.
18 de novembro
A polícia confirma a participação de um comparsa de Leonardo. Paulo Cardoso Santana, 23 anos, preso preventivamente em Montalvânia desde 14 de julho de 2010 por latrocínio, também dá detalhes do crime. Mas os depoimento dele se diverge do de Leonardo em vários pontos.
19 de novembro
Aparece uma nova testemunha no caso. Ela conta à polícia que existe um mandante no triplo homicídio. Ele garante ter sido procurado por Leonardo, que mostrou interesse em contratá-lo a mando de outra pessoa.
23 de novembro
A Corvida prende o terceiro suspeito do crime da 113 Sul. Trata-se de Francisco Naérlio, 22 anos. Ele teria executado as vítimas e teria agido a mando de uma pessoa.
24 de novembro
Defesa de Adriana e acusação iniciam os primeiros embates antes do julgamento, com base nos depoimentos dos acusados.
28 de novembro
A delegada Mabel de Faria recebe uma cópia de laudo feito em parceria entre o Instituto de Identificação da Polícia Civil e a Universidade de Brasília (UnB). O exame que comparou duas impressões digitais de Adriana no apartamento dos pais fundamenta uma das linhas de investigação do caso: a que tenta comprovar a presença da filha das vítimas na cena do crime.
2011
13 de janeiro
O Tribunal do Júri de Brasília decreta a prisão preventiva dos três homens acusados de envolvimento no triplo homicídio.
20 de janeiro
Leonardo, Paulo e Francisco são denunciados à Justiça pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. O processo, assim, fica anexado ao de Adriana Villela.
