Cidades

Buscando falhas no caso Villela, MP apura passos da polícia em Minas

Descobriram, por exemplo, que delegado de Minas não foi comunicado da prisão de um dos acusados

Guilherme Goulart, Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 29/01/2011 08:00
Descobriram, por exemplo, que delegado de Minas não foi comunicado da prisão de um dos acusadosMontes Claros (MG) ; Os promotores do Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCAP), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), refizeram os passos dos agentes da 8; Delegacia de Polícia em três municípios mineiros. Alguns dos detalhes apontam para irregularidades cometidas durante a apuração paralela tocada pelos investigadores da unidade do Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). Uma das supostas falhas foi confirmada pela polícia de Montalvânia (MG), que não sabia da prisão de um dos acusados do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul.

O Correio levantou que dois promotores do NCAP circularam pelo interior de Minas Gerais no início de dezembro, pouco mais de 15 dias após a detenção de Leonardo Campos Alves, 44 anos. Estiveram em Montalvânia, Montes Claros e Manga (leia Onde fica) e ouviram delegados, policiais militares e testemunhas para avaliar possíveis erros na atuação dos policiais da 8; DP. Entre eles, existe a denúncia de que agiram para esconder a existência de uma mandante nas mortes dos advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Villela, 69, além da empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58.

Sob as ordens da delegada Deborah Menezes, então titular da delegacia do SIA, a equipe de agentes da Polícia Civil do DF ignorou o trabalho da Corvida, responsável oficialmente pela apuração do crime, e surpreendeu Leonardo em 15 de novembro do ano passado. A prisão ocorreu em Montalvânia, município distante 640km da capital do pais. Os investigadores, no entanto, não comunicaram a polícia local sobre a detenção e ainda ouviram o acusado no quartel da Polícia Militar de Manga (MG) ; a cidade fica a 64km dali.

O comandante da PM de Manga, identificado como capitão Evilásio, não foi localizado pelo Correio. Mas o delegado de Montalvânia, Renato Nunes Henriques, confirmou a informação. ;Estranhei o fato, tendo em vista que eles (os policiais de Brasília) deveriam ter me comunicado (sobre a detenção) para que eu encaminhasse ofício ao juiz informando a prisão, como é o trâmite previsto no Código Penal;, afirmou. Apesar de não estar na cidade em 15 de novembro, Henriques acrescentou que, com a comunicação oficial à polícia local, o detido poderia ser autorizado pela Justiça local a ser transferido a Brasília.

O Correio também apurou que Leonardo teria dormido em um carro da polícia na madrugada de 16 de novembro, mesmo dia em que acabou levado para Montes Claros (MG) ; o dado é de conhecimento dos promotores do NCAP. Até então, nenhum dos principais envolvidos na investigação do triplo homicídio ocorrido em 28 de agosto de 2009 sabia da apuração paralela da 8; DP. Assim, avisado pela imprensa, o então diretor-geral da Polícia Civil do DF, Pedro Cardoso, viajou a Montes Claros a bordo de um bimotor. Estava acompanhado da delegada Deborah Menezes.

O delegado Henriques acrescentou que os agentes da 8; DP ouviram Paulo Cardoso Santana, 23 anos, por três vezes ; o segundo acusado pelo triplo homicídio estava no presídio de Montalvânia por causa de um latrocínio. Por telefone, o titular da unidade da Polícia Civil da cidade, informado da presença dos investigadores, orientou os agentes locais a acompanharem os esclarecimentos. Segundo ele, os policiais brasilienses cumpriram a exigência. Leonardo e Paulo confessaram envolvimento no triplo assassinato. Mais tarde, a polícia prendeu outro comparsa, Francisco Mairlon Aguiar, 22.

Mandante
Outro ponto aprofundado pelos promotores candangos em Minas Gerais passa pelo depoimento de uma testemunha que apontava Adriana Villela como a mandante do crime. Trata-se de um agricultor de 30 anos, que contou a história com exclusividade ao Correio Braziliense em 19 de novembro do ano passado. Ele afirmou ter sido procurado por Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio dos Villelas, em fevereiro de 2009 para ;fazer um serviço; na capital federal a ;mando de uma mulher;. Recusou a proposta. E revelou a informação para os agentes da 8; DP, que, segundo ele, a ignoraram.

O delegado Renato Henriques ouviu dessa testemunha o mesmo relato. Segundo ele, o agricultor contou mais tarde na delegacia de Montalvânia sobre a possível mandante e a reação dos agentes da 8; DP, que teriam desqualificado a informação. A versão do delegado confere com esclarecimento prestado oficialmente pelo agricultor à Corvida. No depoimento prestado no DF, ele diz: ;Falei com ele (policial): Estou no risco (sic) de o mandante vir aqui e fazer alguma coisa comigo e com a minha família. Aí o policial falou: ;Não tem mandante. Não existe mandante. O Leonardo já confessou (o crime);;.

O advogado de Adriana Villela, Rodrigo Alencastro, minimizou os depoimentos prestados pelo trabalhador rural, além de desqualificá-lo. ;É uma pessoa que já foi presa por porte ilegal de arma, teve outros problemas na região de Minas Gerais;, afirmou (leia Três perguntas para).

Investigação
O Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público analisa investigações e avalia denúncias de casos de omissão ou retardamento injustificado de apurações. Os promotores também colhem informações acerca das atividades da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Quando necessário, os promotores que compõem o núcleo instauram inquérito civil público para apurar casos de improbidade administrativa.

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