Helena Mader
postado em 29/01/2011 08:00
As investigações para apurar a suposta conduta irregular de policiais da 8; Delegacia de Polícia (SIA), que seria para encobrir a participação de Adriana Villela no crime da 113 Sul, são prioridade para a Corregedoria da Polícia Civil. A corregedora-geral da instituição, Cláudia Alcântara, disse ontem ao Correio que tem pressa para finalizar o trabalho. ;A orientação é para que os procedimentos apuratórios sejam concluídos no menor prazo possível. Essa é hoje a nossa prioridade;, afirmou.Cláudia Alcântara não deu detalhes sobre a apuração interna da corporação, que é conduzida em segredo. Não há data para o término da investigação. ;Como o trabalho envolve mais de um estado, não podemos marcar data para a conclusão. Não é possível saber de antemão quantas pessoas serão chamadas porque, às vezes, ouvimos alguém que menciona outras pessoas, que posteriormente também serão convocadas;, justifica. Ao fim da apuração, a Corregedoria decide quais punições serão aplicadas aos policiais investigados. As sanções vão de advertência à expulsão da Polícia Civil.
A corregedora-geral da Polícia Civil disse que ainda não recebeu denúncias sobre acusações de que uma equipe da 8; DP teria viajado ao município de Montalvânia (MG) com as despesas pagas por uma empresa do Setor de Indústrias e Abastecimento. Mas as afirmações serão analisadas pelas equipes da Corregedoria. A unidade policial, que realizou uma investigação paralela sobre o crime da 113 Sul, está instalada na região. ;Até onde eu sei, isso não existe na Polícia Civil. Temos um Departamento de Administração Geral responsável pelo pagamento de viagens e diárias;, explicou a corregedora.
Responsável pela 8; Delegacia de Polícia até o início deste mês, quando foi exonerada da chefia da unidade para assumir a 20; DP (Gama), Deborah Menezes mantinha uma relação próxima com empresários do Setor de Indústrias e Abastecimento e com moradores da Estrutural ; duas regiões sob a jurisdição da 8; DP. Segundo fontes ligadas à investigação, uma das viagens de equipes da delegacia ao município de Montalvânia (MG), a 640 quilômetros de Brasília, teria sido financiada por uma empresa do bairro.
O trabalho dos agentes da 8; DP para tentar identificar os responsáveis pelo triplo homicídio foi realizado paralelamente às apurações da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Nenhuma das autoridades oficialmente nomeadas para apurar o caso da 113 Sul sabia da investigação paralela, que só veio à tona com a prisão do ex-porteiro do prédio das vítimas Leonardo Campos Alves, 44 anos. Ele foi preso em Montalvânia, em 15 de novembro do ano passado, mas foi apresentado à imprensa na 8; DP.
Defesa
O Correio ouviu empresários do SIA sobre a atuação da delegada Deborah na região. Eles defendem o trabalho desenvolvido pela delegada no setor e afirmam que trabalhavam em parceria com a 8; DP no combate à criminalidade. Mas eles negam que houvesse pagamento por esses serviços. ;A gente que pediu ao governo a criação da delegacia e fomos nós que reivindicamos a vinda da doutora Deborah. Sempre tivemos uma relação estreita, com realização de reuniões constantes. Ela ouvia a comunidade e o setor empresarial;, afirma o presidente da Associação de Empresários do Setor de Indústrias e Abastecimento, Hélio Aveiro.
Ele não acredita que algum comerciante ou dono de indústria possa ter pago despesas da 8; DP, em troca de proteção policial. ;Nunca ouvi falar disso e não acredito que possa ter ocorrido. O que nós, empresários, sempre fizemos, foi apoiar os projetos sociais da doutora Deborah na Estrutural. Comprávamos brinquedos e fazíamos doação de roupas e de produtos como cobertores para ajudar a comunidade;, explica Aveiro. ;Essas ações sociais ajudaram a melhorar a relação com os moradores da Estrutural e reduziram o número de crimes na região;, acrescenta o empresário.
Os comerciantes da Feira dos Importados também apoiavam o trabalho social da antiga chefe da 8; DP. ;Não adianta fazer só o trabalho de repressão, tem que conversar e interagir com a sociedade. E isso, a Deborah fazia bem. Os comerciantes da feira sempre apoiaram as ações sociais na Estrutural. Mas nunca ouvi esse papo de que empresário dava dinheiro para a delegada ou para agentes da 8; DP;, assegurou o presidente da Associação da Feira dos Importados, Absalão Ferreira.
No comando da unidade policial da região, a delegada Deborah Menezes ficou, durante mais de quatro anos, responsável pelas ocorrências policiais de áreas muito distintas. A 8; DP registra os crimes ocorridos na Estrutural, uma das áreas mais pobres e violentas do DF, e do Setor de Indústria e Abastecimento ; que concentra as maiores empresas e indústrias da capital federal e é responsável por mais da metade da geração de ICMS de Brasília.
Mudança
No último dia 14, das 31 delegacias, 21 mudaram de comando. Segundo a diretora da Polícia Civil do DF, Mailine Alvarenga, explicou à época, decisão teve o objetivo de ;oxigenar; o trabalho nas unidades policiais. Mas a medida visa neutralizar grupos atrelados a adversários políticos dentro a instituição.