Cidades

Agentes são denunciados por suspeitas de beneficiarem Adriana Villela

Segundo o Ministério Público, policiais civis estariam agindo para afastar suspeitas sobre Adriana Villela. Eles teriam ignorado depoimento de uma testemunha

Roberta Machado, Adriana Bernardes
postado em 30/01/2011 08:00
Segundo o Ministério Público, policiais civis estariam agindo para afastar suspeitas sobre Adriana Villela. Eles teriam ignorado depoimento de uma testemunhaTranscorrido um ano e cinco meses do triplo homicídio na 113 Sul, pelo menos 10 pessoas estão indiciadas por participação direta ou indireta, mas o mistério em torno da barbárie persiste. O capítulo mais recente, a prisão relâmpago da filha do casal assassinado, Adriana Villela, 46 anos, na última quinta-feira, no Rio de Janeiro, revelou fatos que mais confundem do que esclarecem. O Ministério Público denunciou que integrantes da polícia civil estariam agindo supostamente para afastar as suspeitas sobre Adriana Villela, fatos esses que motivaram o pedido de prisão. O Correio teve acesso a documentos do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público (Npac), que apura supostas irregularidades na conduta de policiais da 8; Delegacia de Polícia (SIA) em diligências no município mineiro de Montalvânia.

Em 2 de dezembro, uma testemunha relatou aos promotores do Npac que, no dia da prisão do ex-porteiro Leonardo Campos Alves, 44 anos, procurou os investigadores da 8; DP, pois tinha algo a contar sobre Leonardo e Paulo Cardoso Santana, apontado como comparsa dele. Mas ao ser ouvido, não teria conseguido fazer as revelações porque ;os policiais estavam fixos na ideia de latrocínio;, pois insistiam que o crime não tinha mandante. A testemunha também revelou que uma policial loira esteve em sua casa pelo menos duas vezes para que ele assinasse outros depoimentos sob a alegação de que precisaram fazer correções. A proposta a que se refere o homem foi revelada pelo Correio em novembro passado. A testemunha disse ter sido procurada por Leonardo em fevereiro de 2010 para cometer um crime em Brasília.

Os promotores do Ncap apuraram que, além de supostamente ignorar a tentativa da testemunha de apontar um mandante para o crime, os policiais da 8; DP agiram sem comunicar as autoridades locais. O delegado de Montalvânia, Renato Nunes Henriques declarou aos promotores que os investigadores ;não informaram oficialmente a delegacia, a Polícia Militar e o Fórum;. O delegado revela ainda que teria recebido a informação de um de seus agentes de que Leonardo havia apanhado no caminho de Montalvânia para Montes Claros, mas que não sabe de mais detalhes ou se a informação é verdadeira.

Questionada sobre as denúncias do MP, a delegada Deborah Menezes, que atualmente responde pela 20; DP (Gama), disse que ;o único crime da 8; DP foi apurar um crime, mostrar os autores, receptadores e o material;. Deborah Menezes, que esteve reunida com a direção da Polícia Civil na noite de sexta-feira, limitou-se a dizer que o assunto foi o crime da 113 Sul.

Ligação absurda
Na avaliação do advogado de Adriana Villela, Rodrigo Alencastro, é absurdo pensar que ela exerça alguma influência sobre o trabalho da polícia. Ele destacou que, antes de ir a Minas, a polícia fez uma representação pela prisão temporária do ex-porteiro, que foi decretada pela Justiça candanga. ;A Adriana não tem nenhuma relação com agentes da 8; DP, que agiram no exercício da função. Não há como atribuir isso a ela. Havia uma ordem judicial;, frisou.

De acordo com Alencastro, o delegado da cidade, em depoimento à Corvida, teria afirmado não ter dúvidas de que a testemunha que aponta uma mulher como a mandante da morte do casal Villela tem envolvimento no crime. ;Tudo o que é contra Adriana tem que ser considerado. Mas o que é a favor, ou as provas são suprimidas, desaparecem ou é considerado, de alguma forma, de origem ilícita;, avaliou.

A defesa pede o fim do segredo de justiça no processo. Diz que tem havido ;uma guerrilha de vazamento de informações sigilosas; que não é recomendável nesse caso. ;O que tem ocorrido é que os fatos chegam ao conhecimento da imprensa de maneira dolosa como forma de manipular a opinião pública;, defendeu.

Segundo o Ministério Público, policiais civis estariam agindo para afastar suspeitas sobre Adriana Villela. Eles teriam ignorado depoimento de uma testemunhaIntegrantes do Sindicado dos Policiais Civil do DF se reuniram na noite de sexta-feira para discutir as denúncias divulgadas pelo MP. O presidente em exercício da entidade, Ciro de Freitas, declarou que a ação do MP foi desastrosa e que a diligência em Montalvânia ocorreu com o aval da Polícia Civil e foi feita de forma lícita e legal. Quanto à denúncia de que Leonardo teria sido torturado, disse que é uma estratégia corriqueira da defesa argumentar esse tipo de coisa.


;;A Adriana não tem nenhuma relação com agentes da 8; DP, que agiram no exercício da função. Não há como atribuir isso a ela. Havia uma ordem judicial;;
Rodrigo Alencastro, advogado de Adriana Villela

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