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Estudante de Brasília vai à Rússia estudar medicina

Brasiliense de 18 anos integra um grupo de 12 estudantes brasileiros selecionados para cursar medicina em Kursk, na Rússia. Universidade está entre as 10 melhores daquele país, que é uma referência em ensino superior na área

postado em 01/02/2011 08:09
É provável que a cidade russa de Kursk, a 500km de Moscou, não esteja entre os destinos mais procurados pelos turistas brasileiros. Porém a família de Rafael Henrique Pereira Guimarães, 18 anos, pretende visitá-la todas as férias pelos próximos seis anos. Embarcando hoje como o único estudante de Brasília entre 12 brasileiros que vão cursar medicina na Rússia, Rafael despede-se da família para buscar algo que sempre desejou: independência.

;Se eu ficar aqui, estenderei minha adolescência até os 26, 27 anos. Só que fui educado para ser independente e é isso que busco;, afirma. Selecionado em um programa da Aliança Russa de Ensino Superior em conjunto com faculdades daquele país, o jovem é um exemplo: ao deixar o aconchego familiar tão cedo, Rafael quer demonstrar apenas que chegou o momento de começar a viver a própria vida.

Na próxima segunda-feira, ele inicia o curso na Universidade Estatal Médica de Kursk (KSMU), instituição situada entre as 10 melhores faculdades de medicina da Rússia. Munido apenas do inglês (a KSMU foi a primeira no país a iniciar programas médicos nessa língua), ele, que já havia sido aprovado no mesmo curso em faculdades brasileiras, foca na experiência de viver sozinho o grande prazer da empreitada. ;Acho que 18 anos é uma boa época para se criar asas. A medicina poderia ser exercida aqui, só que a distância vai me obrigar a sair da minha zona de conforto.;

A descoberta se deu por meio do Correio Braziliense. O pai viu o anúncio do curso e perguntou ao filho, que já tinha o desejo de estudar fora do país, o que ele achava de ir viver na terra dos czares. Apesar de conhecer pouco além do que é ensinado nos livros de história, Rafael encarou o processo seletivo. ;Enviei meu histórico escolar, cartas de recomendação de professores, meu diploma de inglês e ainda passei por uma entrevista. Foram três meses até a chegada do e-mail que confirmou minha seleção;, lembra.

A tensão deu lugar ao êxtase e, apesar da distância física, o sorriso do adolescente segue indestrutível. Nem mesmo a possibilidade de enfrentar temperaturas que podem chegar a 20;C negativos o assusta. ;Essa é uma temperatura branda para os padrões russos;, desconversa. Quem não esfria de tensão são os pais de Rafael. ;Para mim, é muito difícil. Ele é muito carinhoso e a mãe sente muito essa síndrome do ninho vazio. Mas dou a maior força porque ele tem que buscar o próprio caminho;, diz a mãe do jovem, a funcionária pública Maria Emília Pereira Guimarães, 52 anos.

O pai, embora orgulhoso da capacidade do filho, não esconde que sentirá muita saudade do rapaz. ;Durante todo o tempo que o Rafael está conosco fizemos a nossa parte e ele conseguiu corresponder a tudo que esperávamos. Isso nos deixa muito felizes, porque o que ensinamos está fazendo dele um adulto;, afirma. Rafael sabe o quanto lhe fará falta o carinho familiar e fraternal, mas sua vontade de seguir é maior. ;Daqui a seis anos, a única certeza que tenho é que não serei essa pessoa que está aqui. Serei bem diferente;, completa. Na ;caixinha de segredos que é a juventude;, a coragem dele surpreende.

Rafael, claro, não vai desamparado. Seus pais bancam a passagem e sua alimentação durante o curso. Já a universidade garante todas as aulas e cursos, despesas com moradia, água e luz, além dos caros livros de medicina. Para o jovem, valerão o esforço em aprender e as possibilidades que um país e uma cultura desconhecida oferecem. ;Espero encontrar um povo maduro, pois, nos últimos 150 anos, eles passaram por muitas experiências, inclusive o comunismo. E também quero ver muita história. O prédio da universidade, por exemplo, é uma fortificação do ano 1000;, diz, entusiasmado. É lá que ele pretende desenvolver estudos centrados em neurologia, nefrologia ou pesquisa epigenética.

A escolha
De acordo com Carolina Telléz, diretora do departamento de seleção da Aliança Russa de Ensino Superior, os estudantes são escolhidos a partir da qualidade dos seus currículos; ou seja, qualquer um pode se inscrever nos muitos programas de graduação e pós-graduação que são oferecidos na parceria entre a instituição e as universidades. ;Eles precisam estar no fim do ensino médio e ter até 25 anos. E vão se misturar com alunos do mundo inteiro, já que os programas não são só para o Brasil;, explica a diretora.

A Universidade Estatal Médica de Kursk (KSMU), para onde Rafael vai, foi fundada em 1935. A KMSU está entre as 10 melhores faculdades de medicina na Rússia, sendo a pioneira em programas médicos de graduação em inglês. É reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, pela Red Cross Internacional e pelo Conselho Geral de Medicina (GMC.) dos principais países europeus, incluindo Grã- Bretanha e França.

;Ao fim do curso, esses estudantes podem levar de volta aos seus países o melhor que a Rússia tem a oferecer, que é a educação;, resume Carolina. E com o aval da Declaração de Bolonha, o diploma de medicina vale em toda a União Europeia. Para que Rafael exerça a profissão no Brasil, no entanto, será necessário fazer uma prova para mostrar que seus conhecimentos médicos são praticáveis na sua língua.

Ensino integrado

A Declaração de Bolonha é um documento assinado por 29 ministros da educação europeus, criando a Área Europeia de Ensino Superior, que estabelece o comprometimento dos países signatários em promover reformas dos seus sistemas de ensino visando uma aior integração.

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