Cidades

Moradores do Novo Gama sofrem com o sistema de saúde e a falta de segurança

No Pedregal, cratera ameaça engolir até as casas

postado em 03/02/2011 08:00
[FOTO1]Há 15 anos, uma cratera no meio da rua do bairro Parque Estrela Dalva VI, no Pedregal, assusta os moradores do bairro. O buraco abre cada vez mais e a população não para de jogar lixo no lugar. O fedor é quase insuportável. No fim da via, o retorno para os carros está comprometido, uma vez que parte do asfalto cedeu e foi engolido com a correnteza provocada pelas chuvas. Por três vezes, as autoridades prometeram fazer uma ponte para o local, mas, até agora, o que a comunidade vê é o risco de contrair alguma doença por causa da sujeira, de algum motorista de fora cair dentro do buraco ou de algumas casas serem sugadas por causa de desabamentos de terra.

;Toda vez que chove, a cratera aumenta. Tenho certeza que, em menos de dois anos, vai chegar à minha porta;, reclamou a comerciante Inês Inácia Francisca da Silva, 51 anos. Ela mora ao lado do buraco e num dos bairros mais pobres e violentos do Novo Gama, localidade distante 46km de Brasília. A população não conta com asfalto e a iluminação das vias é precária. ;Prometeram resolver os problemas, mas, depois que passa a eleição, os políticos se esquecem da gente;, disse Inês. A comerciante está entre os 100.084 habitantes do município que sofre com a falta de infraestrutura. Nos últimos 10 anos, a população do bairro cresceu 27,7%, conforme censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas os investimentos não seguiram esse aumento.

O secretário de Infraestrutura, Marinaldo Almeida Nascimento, disse que para cobrir a cratera são necessários R$ 6 milhões. Um projeto para conter a erosão com instalação de 600 metros de galeria de águas pluviais, aterro e pavimentação asfáltica já está em fase de conclusão e o governo federal liberou R$ 5 milhões. O restante da verba será aplicado pelo município. A previsão de término das obras é de oito meses, a partir do momento que elas forem iniciadas.

Além dos problemas de infraestrutura, o serviço de saúde é precário. Um hospital começou a ser construído em 2004, mas dele só resta o esqueleto. A obra orçada inicialmente em R$ 543.840,00 não durou um ano e, em 2005, a construção foi paralisada. O município conseguiu a liberação de R$ 770 mil do governo federal para que a obra da unidade de saúde seja reiniciada a partir do começo deste ano. Segundo Marinaldo Almeida, o dinheiro dá para concluir os blocos I e II do hospital, mas ainda vai faltar R$ 1,2 milhão para o término de toda a estrutura. O montante ele espera conseguir com o governador de Goiás, Marconi Perillo. ;Ele sinalizou uma reunião para discutir os valores, mas com o primeiro recurso já dá para abrir pelo menos o setor de emergência;, acredita.

Recursos insuficientes
Segundo o secretário de Saúde, Valdemir Guedes, os recursos disponibilizados para o município são muito abaixo do necessário. Outro fator que compromete a prestação do serviço à população é a carência de profissionais na região, em decorrência dos baixos salários. ;Já conseguimos fazer algumas coisas, mas temos muito chão para caminhar. A grande dificuldade que temos hoje é a falta de médico. O campo de trabalho é grande e dificilmente os médicos se prendem a municípios que pagam valores mais baixos. É triste, mas alguns trabalham no Entorno como bico, como um complemento salarial;, analisou Guedes.

A manicure Eudália Pereira de Souza, 25 anos, teve de esperar quase uma hora para poder ser atendida no posto de saúde. Ela estava com dores no estômago e dificuldade para respirar. ;Só tem um médico;, disse. Enquanto esperava para entrar no consultório, Eudália resolveu ficar sentada no meio-fio, do lado de fora do posto, ao lado do filho de 2 anos e da amiga Jennyfer de Miranda, 21. ;É sempre assim. Dá última vez que eu vim meus três filhos estavam com febre alta e tiveram de esperar um tempão;, contou. Novo Gama fica em Goiás, mas está a um passo de Santa Maria, no DF. Uma pista de asfalto separa uma cidade da outra. Sem médicos e postos suficientes para toda a população, muita gente prefere buscar atendimento no Hospital de Santa Maria (HRSM), prática comum em todo o Entorno, o que provoca uma superlotação na rede de saúde da capital federal.

O secretário Valdemir Guedes admite que são poucos os especialistas para atender os mais de 100 mil habitantes. Ao todo, são 20 postos de saúde comunitária, os chamados PSCs. Em cada um deles tem um médico, um enfermeiro, três agentes de enfermagem e três técnicos de saúde. Para 2011, Valdemir diz que a Caixa Econômica Federal analisa um processo para a construção de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no distrito de Lago Azul. O secretário ressalta ainda que deverá ser erguido no Pedregal um ambulatório 24 horas para atender à comunidade. ;O que a gente tem hoje é atenção básica, mas não é suficiente;, garantiu. Atualmente, os postos atendem cerca de 200 pacientes por dia.

Perigo nos becos

A falta de segurança é um dos fatores que mais preocupam os moradores do Novo Gama. O Batalhão da Polícia Militar do município conta com 126 homens, mas 20 estão afastados do serviço por motivos de saúde ou férias. ;Hoje em dia nós temos um efetivo muito baixo;, disse o tenente-coronel Marques Nunes de Azevedo. Segundo ele, somente nos primeiros 15 dias de novembro, quatro homicídios e seis tentativas de assassinato foram registrados. Todos tinham relação com o tráfico de drogas. Conter o problema depende ainda de o Estado conseguir manter os servidores no local. No início deste mês, cinco policiais pediram demissão porque passaram em concurso em Brasília. ;Se o salário é melhor e as condições de serviço também são, ninguém fica aqui;, explicou o oficial.

O policiamento no Novo Gama é dificultado pelos problemas de infraestrutura. No município, 85% das vias têm asfalto, mas a quantidade de buracos atrapalha o deslocamento de viaturas. Sem contar que alguns setores se tornaram ponto de esconderijo dos bandidos. Na Quadra 11, por exemplo, as casas foram construídas com espaços para calçadas entre elas. Os becos, na prática, facilitam os assaltos a pedestres, o uso e tráfico de drogas e a fuga de criminosos. ;É muito perigoso. Passar de bolsa nos becos é ter certeza de que vai voltar para casa sem ela;, disse a diarista Maria Natânia Moura, 36 anos. Ela e a filha, Leandra Dantas, 18, saem juntas para o serviço por volta das 5h. ;Quando a gente pega ônibus na parada, às vezes alguém vai levar a gente;, disse Leandra.

Bocas de lobo
Os moradores do Novo Gama ainda padecem com a quantidade de bocas de lobo entupidas. O caminhão de lixo só passa duas vezes por semana e, em cada rua, existem no máximo três bueiros. ;Quando chove a sujeira vai para a boca de lobo e as ruas e becos ficam intransitáveis porque fica tudo alagado;, contou o pedreiro Rodrigo Moura Cavalcante, 31 anos. Ele diz que, mesmo com tantos problemas, a comunidade paga caro água. ;O valor não é menor de R$ 100. Cobram da gente uma taxa de manutenção que nunca vi ninguém fazer;, reclamou.

A dificuldade com emprego também afeta a qualidade de vida da população. A maioria das vagas está na construção civil. Quem procura salários melhores e em outros ramos que não seja o mercado informal ou o comércio busca nas cidades mais próximas do DF, como o Gama e e Santa Maria. O custo com a passagem é de R$ 3,30. ;Eu consigo emprego porque sou pedreiro e tem muita gente se mudando para cá, mas se não fosse eu teria que procurar em outro lugar;, disse Rodrigo Moura.

Em relação às obras de instalação de rede de esgoto, o secretário de infraestrutura, Marinaldo Almeida, diz que 45% da população têm acesso ao serviço, com exceção do Pedregal e bairros mais recentes, como o Mont Serrat, América do Sul e Paraíso Tropical. Entretanto, as obras previstas para esses locais então em processo licitatório, orçado em R$ 3,7 milhões. O secretário disse ainda ter recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II), da ordem de R$ 10,5 milhões, para regularização fundiária e estruturação do Vila União. (MP)

Leia amanhã na série Radiografia do Entorno reportagem sobre o município de Formosa

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