postado em 03/02/2011 08:07
Ir para a escola, fazer o dever de casa, conversar com os amigos, passear no shopping e navegar na internet. No ritmo animado da vida de um jovem estudante do ensino médio, quase não resta tempo para pensar no futuro. Quando o fim do ciclo escolar bate à porta da maioria, com ele vem o desespero: e agora? Tacielly Araújo Rodrigues, 18 anos, às vésperas de terminar o 3; ano do ensino médio, não via como poderia realizar dois sonhos distintos: o de se tornar cantora e o de entrar em uma faculdade. ;Quase desisti do ano, achei que ia reprovar;, lembra. A falta de expectativa vivida por ela e por outras centenas de jovens das escolas públicas do Distrito Federal fez com que o consultor Jaime Araújo e seu amigo Gustavo Santos criassem um projeto voluntário de apoio a estudantes na escolha de uma carreira e na conquista do ensino superior, o Meu projeto de futuro (MeF), em parceria com empresários e outros profissionais voluntários, no Centro de Ensino Médio Setor Leste.
O MeF nasceu no ano passado, com o propósito de ajudar jovens de 15 a 18 anos durante o grande desafio de encerramento da vida escolar: a escolha de uma boa faculdade, do curso e da carreira traz a ansiedade e o medo de não ser capaz. ;Sabemos que alguns desanimam. Outros desistem. O ;e agora?; acaba se transformando em um monstro muito mais aterrorizante do que os que esses que se veem em filmes de terror;, brinca Jaime, coordenador geral do projeto. Ele explica que muitos desses alunos acabam se afastando dos estudos e até da realização no mercado de trabalho por falta de expectativa. ;É aí que entra o MeF;, situa.
Atividades
O projeto-piloto foi criado no ano passado e atendeu 75 alunos do 2; e 3; ano do CEM Setor Leste. Nas aulas, os jovens aprendem noções de informática e de postura no trabalho. Durante os 10 meses de duração, são levados a fazer planejamentos complexos, desde como serão a semana e o ano seguinte do estudante, um exercício de organização de tarefas e estudos, até uma reflexão sobre o futuro. Ao longo do ano, os estudantes também desenvolvem um livro e um vídeo, onde contam suas experiências e o que pretendem para o futuro.
As etapas para a criação desse material exigem dos alunos um grande aprendizado de organização, responsabilidade e disciplina, para cumprir as tarefas no tempo exigido pelo programa. ;Essa dinâmica trazida pelo MeF tem por objetivo criar nos jovens o ritmo rápido e a responsabilidade que o mercado de trabalho vai exigir. Por outro lado, eles são estimulados a se questionar sobre suas capacidades, habilidades e possibilidades para o futuro. Ao fim do programa, a maioria consegue encontrar um norte para a escolha da profissão;, detalha Jaime. ;Foi uma rotina totalmente nova na escola;, conta Verena Weikert Neves, 17 anos, que inicia neste mês a terceira e última etapa do ensino médio e foi uma das selecionadas para participar do MeF no ano passado. ;Além das reuniões na escola, tínhamos que fazer tarefas em casa, com hora marcada para entregar no fim do dia. O ritmo foi superacelerado, mas meu pai me apoiou, não me deixando desanimar.;
Segundo Tacielly, a mudança foi essencial para ela se adaptar à nova vida. Aprovada no curso de serviço social no 2; vestibular da Universidade de Brasília (UnB) de 2010, ela viu pela frente a grande responsabilidade de lidar com o futuro. ;Estou mais responsável, organizada. Hoje trabalho durante o dia e estudo à noite. Aprender a lidar com minhas tarefas, me organizar e me portar no trabalho foi essencial.; Quanto ao sonho de cantar profissionalmente, não ficou de lado. Com a orientação do MeF, Tacielly procurou diversas gravadoras, em Brasília e em outros estados, para mostrar seu trabalho de música gospel. ;Ainda não consegui gravar meu CD, mas já sei por onde começar. A motivação é cada vez maior;, entusiasma-se.
Futuro do jovem
Ana Lúcia Marques, diretora do CEM Setor Leste, conta que a parceria com Jaime Araújo e Gustavo Santos nasceu por acaso. ;Conheci a dupla e logo vi que a proposta era aquilo de que eu sentia falta em nossa escola. Sempre trabalhamos para formar bons alunos e encaminhá-los para a universidade ou para bons empregos. Mas nem todos alcançam esse objetivo. Essa lacuna que se formava em nosso trabalho finalmente poderia ser preenchida com a chegada do projeto e dos voluntários que eles trouxeram;, conta.
Professor por acaso, Jaime conta que um dos resultados mais importantes obtidos com o projeto é mostrar aos alunos que eles são capazes. ;Esses meninos conseguem passar horas em frente ao computador, ao mesmo tempo em que veem TV, ouvem música, conversam com amigos e brigam com a mãe, que está implorando para que eles saiam do computador. Esse excesso de informações, fluindo freneticamente na mente desses jovens, os faz muito mais capazes do que fomos há 10, 20 anos. O que o MeF busca fazer é direcionar essa vontade de aprender para algo prático;, explica.
Pai da jovem Verena, o psicólogo Helder Neves reconhece o valor da proposta. ;Acredito que ela está tendo uma oportunidade que muitos de nós não tivemos. Fiz uma grande pausa nos estudos porque não sabia ao certo se seria psicólogo ou jornalista. Trabalhei pesado nesse meio tempo até acertar. Verena está tendo a oportunidade de antecipar qualquer desafio, abrir horizontes e começar a desenhar seu futuro com mais segurança;, avalia.
Atuações Conjuntas
O segredo para a criação e manutenção do MeF é a força da parceria. Abraçado pela diretoria do CEM Setor Leste, o projeto nasceu do ideal desses dois consultores e dos professores da escola, mas só se tornou possível com a participação de profissionais voluntários.
Empresários, artistas e instituições de classe se uniram ao projeto para oferecer palestras sobre carreiras, aulas interativas e abrir as portas de suas empresas para que os alunos conheçam de perto a dinâmica da profissão pretendida. A partir dessas experiências, os alunos estão habilitados para preparar um projeto empresarial na área em que pretendem trabalhar.
João Leal Neto é o novo entusiasta do MeF. Sócio de um hospital particular e diretor do Instituto do Atleta de Brasília, o economista entra na empreitada com disposição. ;Acredito que as pessoas, assim como as empresas, precisam compreender, o quanto antes, que somos parte do Estado, e que depende de nós também a valorização do jovem e da educação. Devemos buscar, em oportunidades como essa, o caminho para fazer algo melhor para nosso futuro;, analisa. Assim como os demais parceiros, a empresa de João Leal vai oferecer orientação para os alunos que pretendem seguir carreira na área da saúde, minicursos e, posteriormente, oportunidade de estágio para aqueles que se destacarem no curso.
Para o início do ano letivo, o MeF já firmou parceria com cinco empresas e profissionais ; seriam necessários pelo menos 20. O grupo está em busca de novos parceiros para garantir sua permanência. ;Pretendemos levar o programa para outras cinco escolas de Brasília que se mostraram interessadas. Está tudo encaminhado para que as aulas possam começar no fim de março. Falta somente confirmar a presença de voluntários para dar as aulas, palestras e apoio ao projeto", conta Jaime. Caso a parceria com as novas escolas seja confirmada, o MeF atenderá em 2011 mais de 1.500 alunos.
Conheça e participe
Profissionais da educação e empresas que desejam participar do programa voluntariamente podem entrar em contato pelo e-mail jaguiaraujo@gmail.com ou pelo telefone 9233-5472. Qualquer tipo de apoio será aproveitado, desde uma palestra oferecida por profissional que tenha interesse em falar de seu trabalho e do mercado, até investimentos para ações paralelas ao projeto, como cursos, vagas de estágio e visitas guiadas a empresas. Conheça as ações do projeto no blog www.meuplanejamentodefuturo.wordpress.com.