Cidades

Ao contrário dos municípios vizinhos, Formosa tem boas condições de vida

Mas não a todos. Em 2008, só 28,18% da população tinham esgotamento sanitário. No local, há apenas um hospital e um Ciops

Juliana Boechat
postado em 04/02/2011 08:00

Em Formosa (GO), realidades sociais opostas convivem lado a lado. Na entrada do município, distante 81km de Brasília, a pomposa guarita de um condomínio luxuoso chama a atenção ; outro do mesmo porte está a caminho. Casas muradas e protegidas por cerca elétrica dividem as calçadas do centro da cidade com residências simples de tijolo. Diferentemente dos demais vizinhos do Entorno, a bicentenária Formosa oferece boas condições de vida e recebe, em troca, elogios da população. Porém, como o restante do cinturão goiano, sofre os efeitos do crescimento habitacional dos últimos 10 anos constatado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o censo realizado este ano, Formosa registrou um dos maiores crescimentos demográficos do Entorno na última década. Em 2000, eram 78.651 habitantes. Hoje, a cidade é uma das quatro da região com mais de 100 mil moradores: 100.084. O inchaço em 10 anos representa 27,2% ; mais do que o aumento no Distrito Federal, de 24,9%. Por mês, a prefeitura recebe uma média de R$ 1,4 milhão do Fundo de Participação dos Municípios. O prefeito de Formosa, Pedro Ivo de Campos Faria, considera a verba insuficiente. ;Dependemos de repasses federais e estaduais. Ainda precisamos melhorar a arrecadação própria. Cerca de 27% da população não pagam IPTU todos os anos;, contou. Ele ainda tenta atrair fábricas de médio e grande porte para o município.

Formosa conta com independência de Brasília. ;Nossa população mora e a maioria trabalha por aqui. Isso é uma vantagem. Somos a 40; cidade em arrecadação. Dependemos sempre de repasses federais e estaduais;, reclamou. O prefeito reconhece os problemas nas áreas da saúde, segurança pública, infraestrutura e educação. ;Queremos chegar a agosto de 2011 com os 27 PSF (Postos de Saúde da Família) pedidos pelo Ministério da Saúde, com a Guarda Municipal com recursos do Ministério da Justiça e com 12 indústrias de pequeno porte em nosso município;, deseja. Outra necessidade da cidade é o recapeamento das vias e o asfaltamento das regiões mais carentes. A especialização e o incentivo ao primeiro emprego estão sendo desenvolvidos com o Sebrae e o Senai.

Infraestrutura
Dona Lindaura, de 62 anos, reclama da falta de asfalto no Bairro Jardim das AméricasA dona de casa Lindaura Pereira dos Santos, 62 anos, mora há 12 em uma rua sem asfalto no Bairro Jardim das Américas. ;Aqui não muda nunca. Quando chove, escorrega muito. Na seca, é poeira demais. Em época de campanha, os políticos vêm aqui e nos prometem tudo. Depois não voltam mais;, reclamou. Ela conta que nunca viu assaltos na região e, aos poucos, recebeu água encanada, esgoto e energia elétrica. Há pouco tempo soube que uma rua será asfaltada a dois quarteirões da sua casa para receber as casas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. ;A gente espera valorizar a nossa casa e melhorar a situação aqui. A casa é minha, mas não tenho a escritura;, contou.

Segundo a empresa Saneamento de Goiás (Saneago), cerca de 90% da população de Formosa contam com abastecimento de água. Em 2008, apenas 28,18% tinham esgotamento sanitário. Do total de resíduos recolhidos, apenas 33% eram coletados e tratados. ;Até pouco tempo, não tínhamos água e energia aqui. Mas cada vez melhora um pouquinho. Se asfaltarem a rua de casa, fica ótimo;, comemorou.

Com o acesso de terra, nenhum transporte público chega perto da casa de Lindaura. Os micro-ônibus responsáveis pelo transporte interno da cidade passam apenas nas vias principais asfaltadas. A única forma de locomoção é a bicicleta. ;É perigoso. Esses dias, o meu neto quase foi parar embaixo de um carro no caminho para a escola. A gente fica com o coração na mão;, contou. Quando precisa ir para Brasília, paga caro. Cada passagem da Anapolina, única empresa que atua na região, custa R$ 3.

Médicos fazem 500 atendimentos por dia
A dona de casa Euzanira Fábio Santos Castro, 19 anos, vai ao Hospital Municipal aproximadamente três vezes por mês com o filho de 1 ano e 10 meses e reclama do atendimento. É o único na cidade. ;Aqui é demorado. Já fiquei até 5 horas na fila;, contou. No dia em que conversou com a reportagem, ela aproveitou a febre do filho e a sua dor de estômago para enfrentar a lista de espera apenas uma vez. Pouco menos de 50 pessoas aguardavam atendimento. ;Se vier cada dia um para tentar ser atendido, a gente perde muito tempo;, reclamou.

O hospital funciona como um filtro da demanda que chega da Bahia e de Minas Gerais em direção ao Distrito Federal. Ali são realizados os atendimentos emergenciais, como radiografias e laboratório. Casos mais graves são encaminhados à capital federal. Atualmente, a equipe de clínicos gerais, ortopedistas e pediatras realiza cerca de 500 atendimentos diariamente. ;A população tem que mudar a cultura. Eles confiam mais em um médico do hospital e esperam imediatismo. Mas casos de dengue, por exemplo, devem ser vistos no posto de saúde e aqui ficam os casos mais graves;, disse a diretora-geral do centro, Renata Ishibashi. Formosa conta com 15 Postos de Saúde da Família. Segundo o prefeito, os 27 exigidos pelo Ministério da Saúde devem estar prontos em 2011, com a Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

Segurança
A ação de criminosos deixou a rotina da família do borracheiro Carlos Fábio Alves dos Reis, 39 anos, de pernas para o ar no início da última semana. Os ladrões aproveitaram a surdina da madrugada para levar o único carro da residência. Por volta das 5h, Carlos pegou emprestada uma moto e saiu em busca do veículo. ;Logo depois me ligaram falando que tinham encontrado o carro perto de um muro no bairro Bela Vista;, lembrou. Encontrou o automóvel, mas sem as quatro rodas, o encosto do banco traseiro e o equipamento de som. ;É muita maldade, né?;, comentou, desiludido. O veículo é o meio de transporte de toda a família. Naquele dia, cada parente chegou ao trabalho do jeito que pôde. ;Deixa a gente na correria. A sensação não é boa, não;. Por baixo, Carlos acredita que desembolsará
R$ 1 mil para remontar o carro.

A garagem do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Formosa está cheia de carros apreendidos ; grande parte com placa de Brasília e baixa quilometragem. O tráfico de drogas é um dos problemas enfrentados pelo governo do município. ;São problemas do mundo, infelizmente;, amenizou o prefeito. A Polícia Civil tem apenas um Ciops para cuidar da cidade de 100 mil habitantes. O Batalhão da Polícia Militar ajuda na ronda e, para o próximo ano, Pedro Ivo espera inaugurar a Guarda Municipal com repasses do Ministério da Justiça. O mercadinho de Milson Alves da Silva, 49 anos, foi assaltado duas vezes nos últimos 12 anos. ;Na segunda, me levaram com o carro. Até que convenci a me deixarem bem. Se for ter medo, a gente não trabalha. Temos que encarar a realidade;, declarou. Logo depois, ele instalou câmeras e portões de segurança no pequeno comércio.

Leia amanhã na série Radiografia do Entorno reportagem sobre o município de Luziânia

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