Em Formosa (GO), realidades sociais opostas convivem lado a lado. Na entrada do município, distante 81km de Brasília, a pomposa guarita de um condomínio luxuoso chama a atenção ; outro do mesmo porte está a caminho. Casas muradas e protegidas por cerca elétrica dividem as calçadas do centro da cidade com residências simples de tijolo. Diferentemente dos demais vizinhos do Entorno, a bicentenária Formosa oferece boas condições de vida e recebe, em troca, elogios da população. Porém, como o restante do cinturão goiano, sofre os efeitos do crescimento habitacional dos últimos 10 anos constatado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o censo realizado este ano, Formosa registrou um dos maiores crescimentos demográficos do Entorno na última década. Em 2000, eram 78.651 habitantes. Hoje, a cidade é uma das quatro da região com mais de 100 mil moradores: 100.084. O inchaço em 10 anos representa 27,2% ; mais do que o aumento no Distrito Federal, de 24,9%. Por mês, a prefeitura recebe uma média de R$ 1,4 milhão do Fundo de Participação dos Municípios. O prefeito de Formosa, Pedro Ivo de Campos Faria, considera a verba insuficiente. ;Dependemos de repasses federais e estaduais. Ainda precisamos melhorar a arrecadação própria. Cerca de 27% da população não pagam IPTU todos os anos;, contou. Ele ainda tenta atrair fábricas de médio e grande porte para o município.
Formosa conta com independência de Brasília. ;Nossa população mora e a maioria trabalha por aqui. Isso é uma vantagem. Somos a 40; cidade em arrecadação. Dependemos sempre de repasses federais e estaduais;, reclamou. O prefeito reconhece os problemas nas áreas da saúde, segurança pública, infraestrutura e educação. ;Queremos chegar a agosto de 2011 com os 27 PSF (Postos de Saúde da Família) pedidos pelo Ministério da Saúde, com a Guarda Municipal com recursos do Ministério da Justiça e com 12 indústrias de pequeno porte em nosso município;, deseja. Outra necessidade da cidade é o recapeamento das vias e o asfaltamento das regiões mais carentes. A especialização e o incentivo ao primeiro emprego estão sendo desenvolvidos com o Sebrae e o Senai.
Infraestrutura
A dona de casa Lindaura Pereira dos Santos, 62 anos, mora há 12 em uma rua sem asfalto no Bairro Jardim das Américas. ;Aqui não muda nunca. Quando chove, escorrega muito. Na seca, é poeira demais. Em época de campanha, os políticos vêm aqui e nos prometem tudo. Depois não voltam mais;, reclamou. Ela conta que nunca viu assaltos na região e, aos poucos, recebeu água encanada, esgoto e energia elétrica. Há pouco tempo soube que uma rua será asfaltada a dois quarteirões da sua casa para receber as casas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. ;A gente espera valorizar a nossa casa e melhorar a situação aqui. A casa é minha, mas não tenho a escritura;, contou.
Segundo a empresa Saneamento de Goiás (Saneago), cerca de 90% da população de Formosa contam com abastecimento de água. Em 2008, apenas 28,18% tinham esgotamento sanitário. Do total de resíduos recolhidos, apenas 33% eram coletados e tratados. ;Até pouco tempo, não tínhamos água e energia aqui. Mas cada vez melhora um pouquinho. Se asfaltarem a rua de casa, fica ótimo;, comemorou.
Com o acesso de terra, nenhum transporte público chega perto da casa de Lindaura. Os micro-ônibus responsáveis pelo transporte interno da cidade passam apenas nas vias principais asfaltadas. A única forma de locomoção é a bicicleta. ;É perigoso. Esses dias, o meu neto quase foi parar embaixo de um carro no caminho para a escola. A gente fica com o coração na mão;, contou. Quando precisa ir para Brasília, paga caro. Cada passagem da Anapolina, única empresa que atua na região, custa R$ 3.
Médicos fazem 500 atendimentos por dia
A dona de casa Euzanira Fábio Santos Castro, 19 anos, vai ao Hospital Municipal aproximadamente três vezes por mês com o filho de 1 ano e 10 meses e reclama do atendimento. É o único na cidade. ;Aqui é demorado. Já fiquei até 5 horas na fila;, contou. No dia em que conversou com a reportagem, ela aproveitou a febre do filho e a sua dor de estômago para enfrentar a lista de espera apenas uma vez. Pouco menos de 50 pessoas aguardavam atendimento. ;Se vier cada dia um para tentar ser atendido, a gente perde muito tempo;, reclamou.
O hospital funciona como um filtro da demanda que chega da Bahia e de Minas Gerais em direção ao Distrito Federal. Ali são realizados os atendimentos emergenciais, como radiografias e laboratório. Casos mais graves são encaminhados à capital federal. Atualmente, a equipe de clínicos gerais, ortopedistas e pediatras realiza cerca de 500 atendimentos diariamente. ;A população tem que mudar a cultura. Eles confiam mais em um médico do hospital e esperam imediatismo. Mas casos de dengue, por exemplo, devem ser vistos no posto de saúde e aqui ficam os casos mais graves;, disse a diretora-geral do centro, Renata Ishibashi. Formosa conta com 15 Postos de Saúde da Família. Segundo o prefeito, os 27 exigidos pelo Ministério da Saúde devem estar prontos em 2011, com a Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Segurança
A ação de criminosos deixou a rotina da família do borracheiro Carlos Fábio Alves dos Reis, 39 anos, de pernas para o ar no início da última semana. Os ladrões aproveitaram a surdina da madrugada para levar o único carro da residência. Por volta das 5h, Carlos pegou emprestada uma moto e saiu em busca do veículo. ;Logo depois me ligaram falando que tinham encontrado o carro perto de um muro no bairro Bela Vista;, lembrou. Encontrou o automóvel, mas sem as quatro rodas, o encosto do banco traseiro e o equipamento de som. ;É muita maldade, né?;, comentou, desiludido. O veículo é o meio de transporte de toda a família. Naquele dia, cada parente chegou ao trabalho do jeito que pôde. ;Deixa a gente na correria. A sensação não é boa, não;. Por baixo, Carlos acredita que desembolsará
R$ 1 mil para remontar o carro.
A garagem do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Formosa está cheia de carros apreendidos ; grande parte com placa de Brasília e baixa quilometragem. O tráfico de drogas é um dos problemas enfrentados pelo governo do município. ;São problemas do mundo, infelizmente;, amenizou o prefeito. A Polícia Civil tem apenas um Ciops para cuidar da cidade de 100 mil habitantes. O Batalhão da Polícia Militar ajuda na ronda e, para o próximo ano, Pedro Ivo espera inaugurar a Guarda Municipal com repasses do Ministério da Justiça. O mercadinho de Milson Alves da Silva, 49 anos, foi assaltado duas vezes nos últimos 12 anos. ;Na segunda, me levaram com o carro. Até que convenci a me deixarem bem. Se for ter medo, a gente não trabalha. Temos que encarar a realidade;, declarou. Logo depois, ele instalou câmeras e portões de segurança no pequeno comércio.
Leia amanhã na série Radiografia do Entorno reportagem sobre o município de Luziânia