Cidades

Falta de segurança é um dos grandes problemas de Planaltina de Goiás

Juliana Boechat
postado em 06/02/2011 08:35
Noite de 10 de novembro de 2009. O evangélico Edilson Timóteo da Silva, 29 anos, cumpria horário como guarda municipal em uma escola pública de Planaltina de Goiás, quando três homens invadiram o local para roubar 10 computadores e uma televisão. O pátio estava vazio, as portas, trancadas, e o solitário vigia contava apenas com um cassetete para se defender. Amarrado e sem a chave da sala dos equipamentos, os assaltantes ameaçaram levar a moto de Edilson, que reconheceu dois criminosos ; um deles tem 20 anos, várias passagens pela polícia e é ex-servidor do município. Receoso com as consequências, o jovem atirou na cabeça de Edilson. Três dias depois e a um mês de seu casamento, o homem morreu no Hospital de Base do Distrito Federal. O responsável por apertar o gatilho e o comparsa foram presos. O terceiro envolvido está foragido.

O presídio do município, localizado ao lado de uma escola municipal Caic, tem 150 das 200 vagas ocupadas. De vez em quando, um criminoso foge e ameaça a integridade física dos vizinhos. A Polícia Civil conta com cinco viaturas e 20 agentes em esquema de plantão 24 horas para manter Planaltina de Goiás, Água Fria (GO) e São Gabriel (GO) em paz. Segundo o delegado do Ciops do município, Fernando Alves Barbosa, cerca de 15 ocorrências são registradas na cidade diariamente. ;O problema social gera, como consequência, a violência;, avaliou. A maioria das denúncias se referem a furto e roubo. ;Com a abertura da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), aumentou a demanda. As pessoas estão conhecendo os seus direitos;, disse.

Familiares do assassino de Edilson e da vítima moram nas redondezas da escola onde ocorreu o crime. Volta e meia se esbarram pelo bairro. ;Não roubaram a moto, nem os computadores. Só levaram a vida dele mesmo;, lamentou o irmão mais velho, Evanildo Timóteo da Silva, 33 anos. ;Perdoamos a família dele, que não tem culpa de tudo isso. Mas queremos Justiça. Hoje em dia você é preso e sai logo depois;, criticou outro irmão, Evanduy Timóteo da Silva, 31. A mãe e a ex-noiva de Edilson choram ainda hoje a perda do homem. ;Foi uma covardia. Ele saía do serviço e ia para a igreja. Minha mãe está inconformada;, contou o Evanildo. Edilson morava com os pais, em Planaltina de Goiás, e tinha sete irmãos.

Segundo dados do Ciops, 52 furtos foram registrados ao longo do mês de novembro ; grande parte a residências. Os pedestres também sofrem com roubos: 29 ocorrências durante o mesmo período. Em terceiro lugar, aparecem ameaças à mulher, baseadas na Lei Maria da Penha e, por último, os homicídios. Em 21 de dezembro, o Correio permaneceu durante uma hora no local e presenciou o registro de uma tentativa de homicídio. Uma mulher tentara matar uma grávida de 4 meses que teria se relacionado com seu marido no passado. Pouco tempo depois, duas crianças de 13 e 11 anos chegaram à carceragem. Elas haviam acompanhado uma mulher durante 20 minutos dentro de um supermercado para roubar dela a bolsa e aproximadamente R$400. Com a cabeça baixa e as mãos para trás, foram levadas até o agente. O mais novo precisou ir ao banheiro vomitar tamanho o nervosismo.

Hospital cheio

A saúde sofre com a falta de investimentos e não acompanhou o crescimento acelerado da cidade ao longo dos últimos 10 anos. Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram inchaço de 10,7% na população local ; passou de 73.718 para 81.612. Segundo a secretária de Saúde do município, Érika Patrícia Marcelina Lacerda da Silva, 62 médicos ; inclusive especialistas em diversas áreas ; atuam em Planaltina de Goiás. ;Mas é complicado conseguir alguém exclusivo para cá. Abrimos concurso, mas ninguém quer. Então, um médico trabalha aqui e em Brasília ao mesmo tempo;, justificou. Além disso, ela criticou a cultura da população de procurar o Hospital Municipal em vez de ir ao posto de saúde mais perto de casa. ;Eles não dão valor ao médico da família, querem resolver tudo rápido. Mas assim lota o hospital com a alta demanda;, disse.

Em 22 de dezembro, a porta do Hospital Municipal de Planaltina de Goiás estava cheia. Pessoas procuravam um médico ortopedista, que não trabalha nos postos espalhados pelos bairros da cidade. O vigilante Moacir Mendes da Silva, 62 anos, havia realizado uma peregrinação naquela manhã para encontrar um centro de saúde em boas condições. ;Quando tem médico, falta algodão, agulha; Chegamos aqui de manhã e só conseguimos sair à noite. Hoje mesmo, o doutor só chega às 16h30. Está em cirurgia em Brasília. Isso se ele vier. Ontem, nem apareceu;, criticou. Moacir foi atropelado em 7 de setembro e, para conseguir atendimento, foi até Sobradinho e Planaltina. No dia 22, estava acompanhando um familiar e revivendo o sofrimento por que havia passado dias antes. Enquanto ele falava, outras pessoas na fila externavam a indignação.

Outro problema muito comum na cidade é a falta de infraestrutura. Antes do Natal, o asfalto parecia um queijo suíço com tanto buraco. A falta de investimento nas condições básicas de sobrevivência influencia diretamente na segurança da população. O carpinteiro Cícero Pereira da Silva, 59 anos, sente a violência próximo a sua casa. Na rua onde mora não tem asfalto, água encanada e sistema de esgoto. A fraca iluminação abre a brecha para pequenos furtos a residências e assaltos a pedestres. Segundo a Saneamento de Goiás (Saneago), 95% da cidade tem água encanada. Em contrapartida, o índice de atendimento total de esgoto em Planaltina, em 2008, era de 15,22%. ;Só Deus nos guarda aqui;, desabafou. ;Todos os dias eu saio 5h de casa para trabalhar. É tudo escuro aqui, dá medo;, explicou. Os netos não têm opção de diversão na região. ;A gente brinca com o que tem em casa;, disse uma das crianças.

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