Cidades

Moradores de áreas de risco se recusam a deixar casas na Vila Rabelo

postado em 08/02/2011 07:50
Entre paredes de madeirite e muita poeira, Geane Barbosa, 26 anos, sonha com uma casa de alvenaria. A desempregada gastou todas as economias em milheiros de tijolos e sacos de cimento. O material, no entanto, permanece intocado no quintal do barraco onde ela mora, na Vila Rabelo, em Sobradinho II. ;Os fiscais embargaram a obra, disseram que é uma área perigosa;, conta. O lote dela fica na encosta de um morro. A região configura uma área de risco muito alto e todas as famílias do local terão de sair. Faz mais de dois anos que a Defesa Civil condenou o assentamento.

Os integrantes do Comitê de Combate ao Uso Indevido do Solo e da Água visitaram a Vila Rabelo no último sábado para convencer alguns moradores a deixar um lugar onde viver é tão perigoso, com ameaças de desabamentos e enxurradas devastadoras. Os técnicos alertaram a população e os assistentes sociais ofereceram ajuda para o pagamento de aluguel em outra área. Nada feito. Assim como Geane, centenas de moradores recusam os incentivos governamentais e batem o pé. ;Só saio com a garantia de outro terreno;, desafia Geane, repetidas vezes.

A operação correu sem sucesso. Os fiscais só conseguiram visitar 27 lotes e apenas nove famílias assinaram os termos para início no processo de recebimento de R$ 408 mensais. Quatro pessoas rejeitaram o auxílio e as outras 14 casas estavam vazias na hora da abordagem. ;É uma preocupação por conta do risco. Em casos de chuvas fortes, pode ocorrer uma surpresa desagradável;, alerta o major Carlos Chagas de Alencar, da Secretaria de Ordem Pública e Social (Seops).

Nem mesmo os que assinaram o documento concordam com a remoção. O pedreiro Lindomar de Santana, 35 anos, mora na Vila Rabelo há seis anos. Foi ele quem construiu a casa onde reside com a mulher e os três filhos. A obra custou cerca de R$ 20 mil. ;O dinheiro que eles oferecem não dá para o aluguel. Não tem como arcar com um apartamento, por menor que seja, para cinco pessoas;, justifica. Lindomar promete resistir até quando puder. ;Se eles vierem para derrubar, não tem jeito. Tiro as crianças e deixo o trator passar por cima;, prevê, com os olhos marejados.

Barricadas
O cerco às edificações que podem desabar continua. Os fiscais e servidores do GDF vão hoje mais uma vez à Vila Rabelo para conversar com o restante das famílias, oferecer o auxílio aluguel e explicar o programa da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab). ;No sábado, a primeira parte da operação não foi concluída. Os moradores chegaram a fazer barricadas, mas não houve enfrentamentos. As equipes vão voltar para conscientizar as pessoas e estimulá-las a receber o benefício;, explica o major Alencar.

O marceneiro Antonino dos Santos, 34 anos, conta que, no sábado, organizou com os vizinhos a barricada a que o major Alencar se refere. ;Fechamos as entradas e saídas da vila para conseguir a atenção dos fiscais. Por que os lotes da Codhab não saem?;, questiona. Antonino alega que cada um pagou pelo local onde mora. ;Não tem como deixar a casa própria e ir para o aluguel;, conclui.

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