Cidades

Usuários reclamam de vagas e lanches caros na Nova Rodoviária Interestadual

Roberta Machado
postado em 09/02/2011 08:00
Pouco mais de seis meses após sua inauguração, a Rodoviária Interestadual já é alvo de críticas do público. As reclamações, porém, pouco têm a ver com os protestos registrados durante os anos em que a única opção para os viajantes por terra era a Rodoferroviária. Os mesmos passageiros, que antes criticavam a sujeira e a falta de estrutura, hoje apontam que o novo terminal peca no sentido contrário, pois seria muito elitizado. Há um ano, a espera pelos ônibus se dava em uma edificação antiga e desconfortável, mas não havia gastos com estacionamento ou taxa de embarque. A principal queixa da população, porém, é a alimentação limitada e cara.

Os quiosques com lanches que atendiam os passageiros à beira da área de embarque na Rodoferroviária não foram transferidos para as novas instalações. No lugar deles, três franquias de fast food oferecem aos clientes um cardápio que não varia muito além do sanduíche e do pão de queijo. ;São boas lanchonetes, mas não têm opção. É melhor a comida artesanal, que é mais barata;, avaliou Alexandre Hesper, 33 anos. O eletricista foi pego de surpresa pelos preços das lanchonetes quando parou em Brasília em uma escala na sua viagem de Tunas (RS) à Bahia. Três sanduíches pequenos e duas bebidas custaram à família cerca de R$ 30. ;Está saindo mais caro do que a gente pensava. Com esse valor, em Porto Alegre, dá para nós três almoçarmos num bufê;, comparou o gaúcho, que estava acompanhado da mulher, Denise Kummer, e do sobrinho, Christian Luiz Kummer.

Como Alexandre, os viajantes da nova Rodoviária ficam sem opção saudável na hora de comer algo antes de seguir viagem. Além disso, no terminal, não há lojas onde os viajantes possam comprar lanches para o trajeto, como biscoitos e sucos. Os dois quiosques da Rodoviária Interestadual vendem sorvetes e salgados e bebidas a preços pouco acessíveis ; o cardápio cobra R$ 2,70 por uma garrafa de água mineral. Quando as opções não são o suficientes para saciar a fome antes de uma viagem longa, cabe ao turista faminto trazer o lanche de casa.

Devido à parceria público-privada feita durante a construção da Rodoviária Interestadual, a administração do terminal fica a cargo do Consórcio Novo Terminal, formado pela empresa que mantém o local e pelas construtoras que pagaram os R$ 50 milhões da obra. A escolha dos restaurantes e lojas coube ao consórcio, que fica com quase a totalidade do lucro do terminal. Pelo acordo, os investidores repassam somente 5% da receita gerada ao GDF, e ainda têm direito a explorar o local por 30 anos. De acordo com o consórcio, ainda não há planos para a instalação de outros restaurantes. ;Os pontos de alimentação do terminal rodoviário passaram por critérios de seleção a fim de oferecer aos passageiros somente produtos e serviços de qualidade. Os valores dos produtos e dos serviços comercializados seguem a política de cada franquia e estão de acordo com o mercado;, disse, por meio de nota, a empresa Socicam, que administra o terminal.

Por dentro e por fora
A estrutura do novo terminal, muito elogiada pela farta iluminação e pelas formas arejadas, ainda peca ao subestimar o número de passageiros em tempos de alta temporada. Os 36 mil metros quadrados da Rodoferroviária, que mal suportavam os brasilienses a caminho de outras cidades nos feriados, foram substituídos por uma área 44% menor. As 160 cadeiras de espera nem sempre são o suficiente para comportar o fluxo de 5 mil pessoas, que muitas vezes transformam a bagagem em assento.

Como a passagem para o setor de embarque só é permitida alguns minutos antes da partida dos ônibus, a área aberta em torno do espelho d;água permanece vazia enquanto pessoas disputam lugar para sentar no saguão. ;Quando chegamos, não tinha lugar para sentar. Tivemos de esperar um pouco.;, contou Pollyanna Zati, 19 anos. A estudante veio de Uberlândia (MG) participar de um evento na Universidade de Brasília e também sentiu falta de televisores na área de espera.

A área externa da Rodoviária Interestadual também não agradou a todos os passageiros. Mesmo em dias de chuva, quem se prepara para embarcar em um ônibus precisa atravessar a área aberta que separa a cobertura externa dos terminais. Os resultados das chuvas de verão ainda podem ser vistos no piso de granito, encharcado devido ao entupimento das saídas de escoamento de água. Ontem, parte da área estava isolada para limpeza e reparo dos ralos.

A proximidade com a estação do metrô parece ser o único ponto positivo de acessibilidade do novo local. Além de ser mais distante do Plano Piloto, a Rodoviária Interestadual conta apenas com uma pista estreita com capacidade para embarques e desembarques de sete veículos particulares por vez. Estacionar o carro para retirar a bagagem com calma está fora de cogitação para muitos: em vez das 1.051 vagas gratuitas da estrutura antiga, os passageiros contam somente com um estacionamento público de 48 vagas e outro pago, ao preço de R$ 3 por hora. Várias das 160 vagas são reservadas para a locadora de carros instalada no terminal, diminuindo as chances de encontrar um lugar para estacionar.


MEMÓRIA
Tumulto no Natal
No último Natal, a Rodoviária Interestadual não passou na prova imposta pelos brasilienses que deixaram a cidade no feriado. Entre 23 e 31 de dezembro, o fluxo de passageiros aumentou em 300%, totalizando 20 mil pessoas passando pelo terminal por dia. O acréscimo de 132 ônibus à frota e de 10% no número de funcionários não foi suficiente para evitar os transtornos. Usuários do sistema de transporte comiam sobre malas e aguardavam os ônibus sentados no chão. O caos foi vivido logo depois da imposição de uma taxa de embarque aos passageiros, que varia de R$ 2 a R$ 3,23. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra o decreto n; 32.574/2010, que determina a cobrança. Como a medida ainda está sob julgamento, os valores ainda são cobrados dos viajantes.


Povo fala

O que você achou da Rodoviária Interestadual?

Meire Souza,
42 anos, dona de casa, moradora de Goiânia (GO)
;Essa é a primeira vez que venho à nova Rodoviária. Em relação à antiga está bem melhor, é muito mais confortável;

Cristóvão Ferreira Lima,
41 anos, autônomo, morador de Barra do Garças (MT)
;É um roubo pagar R$ 2,50 por um pão de queijo. Na minha cidade, dá para comprar uma dúzia com isso. Na antiga era tudo muito mais barato, eles estão nos explorando. Quem não tiver condições, vai ficar com fome;

Sidmar Correia,
25 anos, pintor, morador de Caldas Novas (GO)
;Não tem condução aqui perto. Fiquei mais de 30 minutos esperando o ônibus e não veio nenhum. Tive de pegar o metrô para Taguatinga, e pegar o ônibus lá;

Maria Cleonice Garcia,
52 anos, dona de casa, moradora de Dom Bosco (MG)
;É a segunda vez que eu passo aqui. Gostei muito, estou achando tudo ótimo. Ela é confortável e bonita demais.;

Rogério Silva,
38 anos, servidor público, morador de Catalão (GO)
;Não pode nem falar que é uma rodoviária nova da capital
federal. O banheiro é péssimo, e não há lugar para fazer uma refeição. A única coisa que tem é sanduíche, e isso não é alimento;

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