postado em 09/02/2011 07:56
O morador de São Sebastião João Ildebrando Santana, 48 anos, mais conhecido como Seu Santana, encontrou no lixo uma forma de ganhar a vida e também de ajudar o meio ambiente. Ao lado de dois amigos, ele fundou, no ano passado, a Eco Vida Recicláveis, uma empresa que ainda não saiu do papel, mas já está fazendo a diferença. Com a ajuda de dois voluntários, os três realizam um trabalho para incentivar as pessoas a separarem o lixo seco do orgânico e depois fazem uma triagem dos materiais que serão reciclados e transformados em novos objetos. Os autores da ideia sonham alto e querem estender o projeto a toda a cidade e, quem sabe, a todo o Distrito Federal.Todos os dias eles saem às ruas para divulgar esse trabalho. Passam de casa em casa para distribuir as sacolas ecológicas ; feitas de material reciclável ; nas quais o lixo deve ser separado e recolhem os materiais selecionados que podem ser reciclados. Utilizam dois carrinhos de mão adaptados com duas sacolas para guardar o que for recolhido. ;Mas nós precisamos de pelos menos 20 desses (carrinhos) para dar mais dignidade ao trabalho e mais oportunidade para quem quer ajudar. Sem contar que poderíamos aumentar a produção;, acredita Seu Santana. Cada carrinho custa em média R$ 450 e serve também para divulgar o projeto e as parcerias. Todo o dinheiro utilizado nesse investimento vem de parcerias e do próprio bolso dos fundadores.
Quem passa pela casa de Stênio Costa, 58 anos, um dos criadores da Eco Vida, estranha a quantidade de sacolas cheias de lixo que chegam todos os dias. É lá que funciona a sede improvisada da Eco Vida Recicláveis. O material selecionado que será vendido para as empresas de reciclagem fica espalhado pelo jardim até ter o destino confirmado. É também na residência de Stênio que a voluntária Noêmia Faustino, 40 anos, moradora de São Sebastião, faz a triagem do que pode ser reaproveitado. ;Gosto do trabalho porque arrumei uma forma de contribuir com a melhora da cidade;, diz. Ela recebe uma ajuda de custo para pagar passagem e alimentação.
PARA SABER MAIS
Cidade antiga
A ocupação da área onde hoje está situada São Sebastião começou em 1957, com as instalações de várias olarias, em função das obras da construção de Brasília. Após a inauguração da capital federal, as olarias foram aos poucos sendo desativadas e deram lugar às primeiras construções ao longo do córrego Mata Grande e do ribeirão Santo Antônio da Papuda. A Agrovila São Sebastião tornou-se a 14; Região Administrativa em 25 de junho de 1993. O nome da cidade é uma homenagem a um dos primeiros comerciantes locais.
* Fonte: Administração Regional de São Sebastião
Trabalho conjunto
Uma doença incentivou Adriano Freitas Prado, 26 anos, também morador de São Sebastião, a dar vida ao projeto Eco Vida Recicláveis. Ele teve dengue e sabe da importância de não deixar objetos que possam acumular água e contribuir para a proliferação do mosquito Aedes Egypti. ;Sei o que uma garrafa PET com água no meio da rua pode fazer com a nossa saúde;, alerta. Ele acredita que, com o trabalho de reciclagem, pode evitar doenças e contribuir com a saúde da cidade.
Já Seu Santana conta que nunca pensou em trabalhar com o lixo e que a ideia surgiu por acaso. Ele era funcionário de uma empresa de locação de contêineres e começou a perceber que muitos objetos jogados fora ainda tinham condições de ser usados. A partir dessa reflexão, ele decidiu se juntar a Stênio e levar adiante a ideia de recolher aquilo que poderia ser aproveitado. ;Ainda estamos no início. Temos muito o que aprender e não falta boa vontade. Mas isso só será possível com a ajuda da comunidade e de parcerias;, admite. O próximo passo de Santana é instalar pontos ecológicos, ou seja pontos de coleta, nas escolas da cidade. A regional de ensino já autorizou a ideia.
A iniciativa dos três moradores de São Sebastião chamou a atenção de outras pessoas. Francisco Neri é membro da ONG Centro de Educação Popular de São Sebastião. Eles fazem um trabalho voltado para os jovens e se interessaram pelas atividades desenvolvidas pelo Eco Vida Recicláveis. Neri conta que a ONG estuda meios de ajudar o projeto de Seu Santana e adianta que vão instalar na sede da organização um ponto ecológico para contribuir com a reciclagem. Mas para ele o mais importante é educar os moradores. ;Falta a conscientização da comunidade, o trabalho tem que ser feito dentro de casa;, destaca.
Doença
Em janeiro de 2011 foram registrados 246 casos da doença, segundo dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Esse número aponta uma redução de 64% nos registros, que no mesmo período do ano passado chegaram a 692. O DF declarou epidemia de dengue em fevereiro de 2010.
Como colaborar
Quem quiser ajudar o projeto Eco Vida Recicláveis pode ligar para os números 9916-4348, 8131-9129 e 8543-3408.
Contribuição
Depois de fazer a triagem do lixo e separar aquilo que vai para a reciclagem, eles entram em contato com as empresas compradoras do material selecionado. Seu Santana conta que já fizeram negócios com empresários de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas atualmente a maior saída, fora de Brasília, é Goiânia. O preço do quilo pode variar entre R$ 0,05 e R$ 0,90, dependendo do material. Os voluntários recolhem uma média de 2 toneladas por semana. Stênio Costa acredita que poderia triplicar a renda se eles tivessem os 20 carrinhos de mão.
Orgulhoso da profissão que escolheu, Costa acredita que, se cada um dos moradores de São Sebastião fizesse a coleta seletiva em casa e evitasse jogar lixo na rua, a cidade teria outra cara. ;Estou dando a minha parcela de contribuição, sei que é um trabalho de formiguinha, mas é assim que se começa.; Ele afirma que o trabalho com lixo é muito gratificante. ;Nós amamos o que fazemos. Trabalhava como pintor, mas abandonei o que fazia porque passei a amar a reciclagem. Quando vejo que uma pessoa está mais consciente sobre o destino do lixo, fico ainda mais feliz.;