Luiz Calcagno
postado em 09/02/2011 08:00
Quilômetros de engarrafamento marcaram a manhã de ontem em três importantes vias do Distrito Federal. Motoristas que usam as estradas parque Taguatinga (EPTG), Guará (EPGU) e Indústria e Abastecimento (Epia) sofreram com horas de lentidão. Um acidente no Eixo W Sul, na altura da Quadra 116, a chuva e o movimento de volta às aulas foram, segundo informações do Batalhão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (BPTran), os principais motivos para os congestionamentos. Acidentes também prejudicaram o fluxo de veículos na BR-070, próximo à entrada da Estrutural, e na BR-040, entre Valparaíso (GO) e Santa Maria.Com o acidente no Eixo W ; um engavetamento entre três carros ;, a Polícia Militar foi obrigada a interditar uma das faixas para a realização da perícia. Com a interrupção, os motoristas que seguiam pela EPGU e pela Epia foram os primeiros afetados. Na tentativa de fugir do transtorno, muitos condutores mudaram a rota e pegaram a EPTG. Com isso, o trânsito ficou complicado também na via, desde a saída do Guará até a passarela da Octogonal. Quem passava por lá levava, em média, uma hora e 20 minutos para percorrer o trecho.
Segundo o comandante em exercício do 1; BPTran, major Sérgio Roberto Roballo, cerca de 30% das escolas particulares voltaram às atividades ontem, o que agravou o trânsito na cidade. Por isso ele recomendou que, nos próximos dias, motoristas tentem sair mais cedo de casa para evitar o horário de pico. ;Tivemos o acidente na 116 Sul e a volta às aulas. Além do mais, com chuva, a velocidade nas vias sempre fica menor. Foi uma combinação. Se as pessoas se anteciparem, saírem mais cedo de casa nos próximos dias, o fluxo vai melhorar. É uma questão de se adequar neste início de ano;, disse.
Quem enfrentou o trânsito, de ônibus ou de carro, acabou se atrasando para compromissos. Foi o caso da estudante Lanna Lima Marques, 21 anos, moradora do Guará, que ia para a faculdade, mas, depois de ficar mais de uma hora parada, foi obrigada a pegar o acostamento e desligar o carro, que ameaçava superaquecer. ;Faço esse percurso todo dia. Sempre pego engarrafamento, mas o fluxo hoje (ontem) foi muito intenso, fora do normal. Tive que parar o carro, que começou a esquentar;, reclamou.
O oficial reformado da Marinha Edson Bernardino da Silva, 61 anos, também morador do Guará, costuma pegar a EPGU para ir ao Plano Piloto. Ontem, no entanto, ouviu pelo rádio que a via estava engarrafada. Decidiu transitar a EPTG. Não adiantou. ;Geralmente vou pela EPGU e pego a Avenida das Nações. Desta vez, para fugir do trânsito, peguei a EPTG. Acabei parando nesse engarrafamento;, contou. Para o contador Rodrigo de Almeida Coelho, 25, morador de Taguatinga Norte, os afunilamentos enfrentados pelos motoristas na EPTG e no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) são os principais responsáveis pelos engarrafamentos no local. ;A obra foi boa. Não tenho nada a reclamar, mas não foi suficiente para conter o tráfego no DF;, disse.
Medidas urgentes
De acordo com o pesquisador do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Transporte da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Dias, o investimento em um transporte público de qualidade poderia evitar transtornos como os de ontem. Segundo o especialista, se o número de carros nas ruas do DF não diminuir, ;o trânsito vai entrar em colapso;. ;Precisamos de uma política de transporte público coletivo com outro padrão de qualidade, confiável. Temos que deixar de pensar no usuário como ;sardinha;. Para se ter uma ideia, a alocação de passageiros na frota é calculada com seis pessoas por metro quadrado;, criticou.
Ainda segundo Flávio, também é preciso mudar a mentalidade do brasiliense. O governo deveria estimular a população a utilizar o transporte público. A lista de motivos, de acordo com o especialista, é extensa, e varia de ambientais até uma melhora na qualidade de vida dos moradores. ;Quando o poder público mudar a forma de pensar, teremos um transporte de qualidade. As pessoas poderão deixar seus carros em casa. Isso quando a população tiver confiança, for respeitada, transportada em carros com o mínimo de conforto e com tarifas módicas;, destacou.
Crescimento contínuo
Segundo dados do BPTrans, cerca de 500 mil carros partem das cidades do Distrito Federal e do Entorno para o Plano Piloto todos os dias. Além disso, 300 novos veículos são emplacados diariamente no DF. A frota de carros na capital federal, em 2010, chegou a mais de 1,2 milhão de veículos.