Jornal Correio Braziliense

Cidades

Gama é conhecida como a capital do Entorno

Com 150 mil habitantes, a cidade consegue atrair mais de 400 mil pessoas residentes nos municípios goianos. Isso mexe com a economia local e consolida a sua imagem como capital da região metropolitana

Vizinha dos municípios goianos de Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Cidade Ocidental, Valparaíso e Luziânia, a região administrativa do Gama é conhecida como a capital do Entorno. Isso porque a população das cidades próximas costuma servir-se do comércio e dos serviços ; privados e públicos ; ofertados. Afinal, a outra opção mais perto, Santa Maria, é carente em recreação, educação e saúde, e tem um varejo ainda em processo de expansão. Empresários calculam que cerca de 600 mil pessoas das cidades vizinhas frequentam o Gama por dia, descontados os mais de 150 mil habitantes. São 6,5 mil empresas funcionando, incluindo lojas, faculdades, bancos e indústrias. A economia da cidade pode ser comparada à de Taguatinga e Ceilândia, outros polos de peso no Distrito Federal. Aos 50 anos, a localidade tem como desafio achar um caminho sustentável para se consolidar como centro de referência regional. Para isso, reivindica mais atenção por parte do Governo do DF a problemas antigos.

A vocação comercial e de oferta de serviços do Gama foi confirmada depois que o setor de indústria, composto por sete quadras na entrada da cidade, não prosperou. A área chegou a ter um número aproximado de 20 indústrias. O restante do espaço teve sua destinação original desvirtuada, sendo ocupado por atividades como postos de gasolina, distribuidoras, oficinas mecânicas e até residências. Hoje, cerca de metade dos empreendimentos industriais não está mais lá. A versão mais recente do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot) do Distrito Federal classificou a área como mista, permitindo a presença de comércio, unidades habitacionais e pequenos empreendimentos industriais.

Imóveis
Com a mudança, o local se transformou em foco de expansão imobiliária do Gama. Atualmente, 26 prédios residenciais estão previstos para serem edificados nas quadras, por diferentes construtoras. O consultor de varejo Alexandre Ayres afirma que o que ocorreu no Setor de Indústria do Gama é um fenômeno corriqueiro em zonas urbanas que estão passando por processo semelhante.

;Acontece uma pressão muito grande em áreas comerciais e industriais degradadas por parte do mercado de imóveis;, diz. Ayres explica que o crescimento vertical da cidade ; que tem habitantes de classe média e um comércio consolidado ; resultará em um aumento da população e, consequentemente, do mercado consumidor. Nesses casos, investidores de olho no incremento respondem ao aceno da construção civil. A qualidade da atividade comercial e da oferta de serviços existentes tende a melhorar.

De acordo com a Associação Comercial, Empresarial e Industrial do Gama (Aceig), o movimento descrito pelo consultor de varejo está a todo vapor no Gama. Em 2010, a cidade recebeu unidades de conhecidas empresas nacionais. Entre elas, a lanchonete Subway, o restaurante fast food Montana Grill e as lojas de departamentos Americanas e Marisa. ;Esses empresários entendem que haverá um crescimento muito grande. A área habitacional está prevista para receber 20 mil pessoas nos próximos cinco anos;, diz Manuel Domingos Farinha Cardoso, presidente da Aceig.

Necessidades
Manuel Cardoso acredita que uma série de necessidades devem ser atendidas para que a cidade se adapte e comporte o desenvolvimento previsto. Entre elas, resolver o problema do comércio informal, que ele classifica como gravíssimo. ;A fiscalização estava em cima nos últimos quatro anos, mas agora os ambulantes voltaram. As ruas estão intransitáveis, principalmente no Setor Central;, denuncia. Ele chama a atenção para os muitos problemas da Feira Modelo, criada para receber esses vendedores informais. ;O local está funcionando precariamente. Até pouco tempo atrás, não tinha energia elétrica. Há muito comerciante que quer se legalizar, recolher taxas, mas ainda não saiu a concessão de uso da área. É diferente da Feira Permanente, mais antiga. O Governo do DF não fez os investimentos necessários;, afirma.

De acordo com o presidente da Aceig, é preciso sanar a sobrecarga da saúde e da educação públicas do Gama. ;O pessoal do Entorno que vem consumir aqui também utiliza esses serviços. Ou melhora os nossos, ou criam-se políticas nos municípios deles. Até porque, o comércio dos locais de origem dessa gente também está crescendo e a procura pelo nosso já não é tão grande assim. Não há mais tanto benefício do ponto de vista econômico;, diz Manuel Cardoso.

Moradores do Gama como Antônio de Nardo, 70 anos, enxergam tanto os avanços quanto as carências no lugar. Ele diz que o crescimento econômico é inegável. ;Eu vejo pela atividade que exerço. Sou corretor de imóveis. O Gama não é uma cidade rica, mas também não é miserável. Acredito que, hoje, poderíamos ter mais serviços;, afirma.

Embora o Setor de Indústria da cidade esteja se transformando em uma área de crescimento imobiliário, a atividade produtiva não perdeu de todo a força na cidade. Na Área Especial 3 situam-se a fábrica de latas Rexam e uma unidade da produtora multinacional de cervejas Ambev. Existe ainda a possibilidade de ocupação da Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) do Gama por empreendedores beneficiários do Programa de Desenvolvimento Sustentável do DF (Pró-DF). Mas a urbanização do local está interrompida por falta de licenciamento ambiental.

Shopping é referência de mudanças

Um lugar que simboliza o comércio aquecido e consolidado da região administrativa do Gama é o Gama Shopping. Inaugurada em 1997, a área, com espaço para 419 lojas, vem mudando de cara lentamente ao longo dos anos. De início, era um galpão com boxes de metal e vidro onde funcionavam somente comércios locais. Atualmente, dezenas de estabelecimentos incrementaram a decoração, deixando para trás a estrutura física básica. Além disso, é possível ver lojas que representam marcas renomadas.

Uma delas é a comandada pela empresária e funcionária pública aposentada Elena Magalhães, 50 anos. Moradora do Gama há 40, um ano e meio atrás Elena decidiu unir-se à nora e investir em uma filial da grife de sapatos Carmem Stephens, de projeção internacional. Os calçados saem por preços salgados, a uma média de R$ 200. Apesar disso, a dona do estabelecimento, garante que seu produto tem boa saída. Ela também vende modelos Raphael Stephens, braço masculino da marca.

Clientes
;Há clientes que gostam e são fiéis. A cidade está mudando, cada vez mais pessoas têm carro e casa própria. Meu público são servidores públicos, empresários, os próprios lojistas. Me sinto feliz em proporcionar isso à comunidade. Tenho uma cliente cuja mãe era empregada doméstica. Ela conta que a acompanhava ao trabalho, no Plano Piloto, via os sapatos da patroa e desejava usá-los. Hoje, ela encontra parecidos aqui na loja. Antes, isso era uma coisa impensável para o morador do Gama;, afirma Elena Magalhães. Além do estabelecimento de Elena, outros também de projeção internacional são M.Officer e Havaianas.

Marlene Francisca da Silva, 48 anos, vendedora de uma loja de roupas no Gama Shopping, aprova as mudanças, mas diz que gostaria de um comércio ainda mais diversificado. ;Em vista do que vemos em outras cidades, como Taguatinga, nossa atividade comercial ainda é fraca. É um quebra-galho. Temos alguns serviços, como as faculdades Fortium, JK, Uniplac, e um câmpus da UnB;, enumera.

A renda da população do Gama segundo a única medição disponível, realizada em 2004 pela Companhia de Desenvolvimento do Planalto (Codeplan), é de seis salários mínimos em média por família e 1,2 salário por pessoa.