Cidades

Farmácias do Entorno vendem antibiótico sem receita médica

O Correio foi a seis drogarias em Valparaíso, Cidade Ocidental e Novo Gama. Em todas, comprou antibiótico sem apresentar receita. Vigilância Sanitária diz que fiscalização depende do custeio, pelo governo de Goiás, do deslocamento de agentes para os municípios

postado em 11/02/2011 08:00
Mesmo sem as receitas médicas que devem ser retidas obrigatoriamente pelas drogarias, o Correio não teve nenhuma dificuldade para comprar antibióticos em seis farmácias do Entorno do Distrito Federal. Durante quatro horas, a reportagem percorreu os municípios de Valparaíso, Cidade Ocidental e Novo Gama, em Goiás, e, em todos, saiu dos estabelecimentos com o medicamento nas mãos.

A venda controlada de antibióticos com a retenção da segunda via das receitas é uma determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que entrou em vigor em 26 de outubro de 2010. Cabe às vigilâncias sanitárias estaduais fiscalizarem o seu cumprimento. A ação do órgão regulador é uma medida para dificultar o hábito da automedicação, uma das causas para a crescente resistência de bactérias como a Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), que desafiam a eficácia de poderosos antimicrobianos.

Farra
Enquanto no DF a determinação da Anvisa tem sido cumprida a risca pelas farmácias, a festa é feita no Entorno. O primeiro município a ser visitado pelo Correio foi a Cidade Ocidental, distante 45 km de Brasília. Na drogaria Santa Clara, situada na Quadra 61 do bairro Parque das Américas, próxima do Condomínio Alphaville, e na Droga Certa, localizada na Super Quadra 16, Quadra 12, os vendedores sequer alertaram sobre a necessidade da receita para compra de um antibiótico. Cada balconista vendeu uma caixa de amoxicilina 500 mg, sem impor nenhuma dificuldade. O uso do medicamento é frequentemente indicado em casos de infecção de garganta.

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Em Valparaíso, a 35km da capital federal, o rigor das farmácias na venda dos medicamentos foi semelhante. Na Droga Lene e na Drogallan, vizinhas na Quadra 5 da Etapa A, a reportagem comprou duas caixas de cefalexina 500 mg, indicada para o tratamento de sinusites bacterianas. No Novo Gama, cidade próxima a Santa Maria, o vendedor da Drogaria Bem Viver, na Avenida Central, não fez cerimônias e em menos de 30 segundos registrou a venda do Norfloxacino 400g, prescrito para casos de infecção urinária.

Na Drogaria Pioneira, que fica no bairro Pedregal, Rua 43, outra caixa de cefalexina 500 mg foi comprada sem a retenção da receita e a anotação dos dados de quem compra o medicamento.

Controle
Na avaliação da presidente do Conselho Regional de Farmácia de Goiás (CRF-GO), Ernestina Rocha de Sousa e Silva, o cumprimento da resolução da Anvisa é uma obrigação dos estabelecimentos, mas cabe à Vigilância Sanitária do estado fazer a fiscalização. O CRF-GO, que tem sede em Goiânia e é responsável por fiscalizar as condutas éticas dos farmacêuticos, não possui nenhuma associação ou seccional no Entorno do DF. Ernestina crê que o controle da venda de antibióticos é necessário porque o medicamento só deve ser tomado sob prescrição médica, no tempo certo, na dose correta para que se tenha um resultado satisfatório no fim de um tratamento.

Entretanto, ela comenta que a resolução ainda deixa em aberto até 25 de abril os controles de estoque por meio do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC). ;Até agora se tem apenas a retenção das receitas, mas não se controla a entrada e a saída do estoque. Só com a informatização desse controle a fiscalização será mais apurada. Hoje, a farmácia tem um estoque de antibióticos que não é controlado;, destacou.

A gerente de Desenvolvimento Técnico em Produtos da Vigilância Sanitária de Goiás, Angela Maria de Miranda Melo, explica que a fiscalização em todo o estado já está programada, mas depende da abertura do orçamento do novo governo para a liberação de diárias que vão custear as despesas dos fiscais deslocados para os municípios. Segundo Angela, desde o ano passado alguns municípios tiveram a fiscalização descentralizada do órgão, pois tinham condições de fazê-la por meio da própria vigilância sanitária da prefeitura. Entretanto, apenas 25 dos 256 municípios do estado possuem um farmacêutico na equipe de fiscalização. E, nesse caso, a obrigação de supervisionar as condutas das drogarias é repassada para as Regionais de Saúde. Cabe à regional de Luziânia atuar em Valparaíso, Cidade Ocidental e Novo Gama.

;Nosso estado é dividido em 15 regionais e já passamos as orientações para que a fiscalização seja feita. Tão logo a gente comece, vamos dar prioridade justamente nessa área, porque isso para mim é uma novidade. Acredito que na próxima segunda-feira já teremos o orçamento liberado e a fiscalização será retomada nos municípios que não são descentralizados;, esclareceu.

Receita recolhida
A Resolução n; 44/2010 da Anvisa, publicada no Diário Oficial da União em 26 de outubro, estipula que os dados do paciente e de quem faz a compra serão recolhidos pelo estabelecimento e os dados do antibiótico vendido terão de ser registrados no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) ou anotadas em um livro exclusivo para este cadastro. O procedimento já é adotado para outras classes de medicamento, como os antidepressivos.

Fique atento
; A prescrição de antibióticos deve ser em duas vias: uma será retida pela farmácia e outra será carimbada e ficará com o paciente.

; Os dados do paciente e de quem comprar ficarão registrados na farmácia.

; O receituário terá validade de 10 dias. Se o medicamento não for comprado nesse prazo, o paciente terá que voltar ao médico e pedir nova prescrição.

Fonte: Anvisa

Denuncie
Para informar à Anvisa sobre estabelecimentos que não cumprem a lei, ligue 0800 642 9782

Falso médico é preso em Taguatinga
Um homem foi preso em flagrante com um diploma falso de medicina, em Taguatinga, na segunda-feira. Durante dois meses, o acusado, de 28 anos, exerceu atividade médica de maneira ilegal em uma clínica na QNE 7, em Taguatinga Norte.

A prisão foi realizada pelos policiais da Delegacia do Consumidor (Decon), por volta das 15h. O homem teria começado a trabalhar na clínica há cerca de dois meses. De acordo com o delegado Virgílio Ozelami, o suspeito emitia atestados de saúde, exames admissionais e demissionais. ;Quando o paciente tinha algo mais sério, ele mandava procurar um posto de saúde;, contou.

Segundo o delegado, o falso médico teria apresentado o diploma de uma faculdade do Espírito Santo e disse que o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) estava em trâmite. O diploma foi apreendido e mostrado a representantes da faculdade, que confirmaram tratar-se de documento falso. Diante das evidências, o homem, que na realidade é técnico em informática, confessou o crime.

O acusado disse em depoimento que teria aprendido noções básicas de medicina com um amigo e pela internet. ;Além do diploma, foram apreendidos um estetoscpóio, um jaleco branco, um aparelho medidor de pressão arterial e várias notas de R$ 50 também falsificadas;, disse Ozelami.

Registro
O delegado lembra que, em caso de desconfiança, é possível conferir o registro do médico pela internet. Para isso, basta solicitar ao profissional o número do registro no Conselho Federal de Medicina (CFM), e consultar no site da instituição ().

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