Naira Trindade
postado em 12/02/2011 08:45
Três semanas após apresentar desníveis e oscilações na estrutura, a Ponte JK começou a ser reformada. Sete técnicos deram início ontem à substituição dos apoios dos pilares 6B e 7B, que sustentam o segundo arco do cartão-postal. A previsão é de que a obra ; que vai custar R$ 721 mil aos cofres públicos ; termine em até 30 dias.Durante os trabalhos, o trânsito no local pode sofrer alterações e interdições.Relatórios da Secretaria de Obras e da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) apontaram um desgaste natural em dois apoios da mais nova e maior ponte do Lago Paranoá. O estudo começou depois de um ciclista identificar por acaso as fissuras de quatro centímetros na estrutura. A descoberta ocorreu em 20 de janeiro, quando o tráfego chegou a ficar interditado por seis horas. A liberação aconteceu após vistoria da Novacap, da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, do Detran e da Secretaria de Obras.
A estrutura passou, desde então, a ser monitorada. Veículos de grande porte e ônibus tiveram trajetória desviada para não prejudicar ainda mais os apoios já danificados. O trânsito ficou liberado apenas para veículos leves, com velocidade máxima de 40km/h. Antes, o limite era de 60km/h. Quatro macacos hidráulicos foram instalados para reposicionar as pranchas de madeira e garantir nivelamento da ponte até a recuperação dos apoios.
A constatação da situação emergencial levou a Secretaria de Obras a pedir dispensa de licitação. O processo, no entanto, exigiu projetos e orçamentos de quatro empresas nacionais especializadas em construções de pontes. Cobrando R$ 721 mil pelo reparo, a paulista Protende Sistemas e Métodos de Construções foi a escolhida. ;A empresa apresentou a proposta mais barata e tecnicamente viável;, garantiu o secretário de Obras, Luiz Pitman, ontem, em coletiva de imprensa. No último dia 3, o GDF publicou no Diário Oficial do Distrito Federal a ordem para a descentralização de R$ 880 mil à Novacap para a realização desse serviço de troca.
A reforma dos dois apoios garante a liberação total da ponte. Nos próximos 30 dias, o trânsito pode ser modificado. ;A previsão é de que não haja necessidade de interditar o tráfego, mas, se por algum momento for preciso, nós faremos uma programação fora de qualquer horário de pico;, garantiu Pitman. ;Na questão da velocidade, continuam os radares e controles instalados nos últimos 20 dias;, adiantou.
Especialista em patologia de estruturas e professor de engenharia civil da UnB, Dickran Berberian considerou a reforma suficiente para um primeiro passo do GDF. ;A troca de apoios é de bom senso e vai agilizar na liberação do tráfego;, admitiu. Mas, com relação à manutenção da ponte, Pitman garantiu que vai dar início ao edital para licitação de uma empresa que ficará responsável por cuidar da estrutura. ;Emergencialmente serão somente esses dois pilares. Mas já estamos providenciando uma nova licitação que irá fazer os reparos da ponte para os próximos cincos anos. Nisso estão incluídos pintura, iluminação e todo o monitoramento necessário para resgatar nosso monumento.;
Colaborou Ariadne Sakkis
MEMÓRIA
Prêmio e denúncias
A Ponte JK começou a ser construída em meados de 2000, na gestão do então governador Joaquim Roriz. A estrutura de 1,2 quilômetro de comprimento e 40 metros de altura foi inaugurada em 15 de dezembro de 2002, após ter a data de entrega adiada três vezes. Além de ter ostentado o título de mais bela ponte do mundo ; o projeto de Alexandre Chan recebeu o prêmio Gustave Lindenthal Medal na Conferência Internacional de Pontes, em 2003 ;, a estrutura monumental, erguida por um consórcio liderado pela Via Engenharia, ficou conhecida também por seu custo.
O governo pagou R$ 186 milhões, quase cinco vezes mais do que a estimativa inicial. A cifra chamou a atenção do Ministério Público, que acusou Roriz de desvio de recursos da saúde para as obras da ponte e de superfaturamento dos materiais. Técnicos do Tribunal de Contas do DF detectaram preços de materiais até 500% mais caros que o valor de mercado. Apesar disso, nenhum centavo retornou aos cofres públicos e ninguém acabou condenado.
Transtornos diários ao motorista
Desde que a Ponte JK foi inaugurada, em dezembro de 2002, as distâncias ficaram mais curtas para o professor de inglês Ricardo de Andrade Monteiro, 47 anos. Morador de um dos condomínios que ficam depois da QI 29, ele se acostumou a usar a ponte como ligação a qualquer parte do Plano Piloto. As facilidades para Ricardo terminaram em 20 de janeiro, quando a ponte foi interditada devido a um desnivelamento da pista, causado pelo desgaste de um dos aparelhos de apoio que dão sustentação à ponte. De lá para cá, os usuários da ponte tiveram de se acostumar com um cenário pouco comum: engarrafamentos constantes.
Depois que as falhas foram detectadas, algumas das medidas tomadas pelo Departamento de Trânsito (Detran) e pela Polícia Militar incluem o fechamento de acessos, a colocação de cones para obrigar os condutores a respeitar o limite de velocidade reduzido a 40km/h e o fechamento eventual de uma das pistas. ;Isso só causou o caos na ponte. Todo os dias há engarrafamentos, inclusive fora do horário de rush. Não sou engenheiro, mas acredito que o peso dos carros parados deve prejudicar ainda mais a situação;, diz Ricardo. As barreiras talvez suscitem a maior revolta do professor. ;Eu já vi dois acidentes por causa deles, pois carros e ônibus têm que andar em zigue-zague;, conta. Ricardo afirma que, de sua casa até a sucursal da escola de inglês onde trabalha, na Asa Norte, levava 20 minutos. ;Um dia, demorei 55 minutos para fazer o trajeto;, lembra. (NT)