Cidades

Apesar de o ano letivo ter reiniciado, faltam professores nos colégios

Faltam 2,6 mil educadores. Sem alternativa, alunos são mandados de volta para casa

postado em 12/02/2011 08:55
Na Escola Classe 425 de Samambaia, cerca de 240 estudantes estão sem aula por falta de mestresRetorno para alguns estudantes, espera para outros. Levantamento da Secretaria de Educação do Distrito Federal aponta para a falta de pelo menos 2,6 mil professores nas salas de aulas da rede pública de ensino. Apesar de o Governo do Distrito Federal (GDF) não divulgar a quantidade de escolas com deficit de educadores, o Correio apurou que todas as cidades apresentam algum colégio com problemas nas escalas e nos quadros de mestres. O ano letivo reiniciou na última quinta-feira nas 649 instituições da capital do país. No início do mês, 400 docentes foram convocados para assumir as vagas conquistadas por meio de concurso (leia Entenda o caso).

Um do centros de ensino com dificuldades é a Escola Classe 425 de Samambaia, onde cerca de 240 alunos estão sem aula. Oito turmas do 4; e do 5; ano tiveram de ser liberadas por falta de professores. E outras quatro do 6; e do 7; ano sofrem com a ausência de profissionais de artes, educação física, geografia e matemática. ;Desde o início da semana, estamos esperando uma resposta sobre o assunto e todos os dias nos pedem para aguardar mais;, afirmou o diretor do colégio, Manoel Alves Filho. Há 834 alunos matriculados no ensino fundamental. ;Hoje (ontem), recebemos o primeiro professor enviado pela regional de ensino para ocupar a vaga temporária de geografia. Quanto ao restante, só resta cobrar e aguardar.;

Representantes da instituição se reuniram ontem para tentar redistribuir os professores da escola e amenizar a falta de profissionais nas áreas específicas para as turmas mais avançadas. ;Encaixamos aqui e ali para tentar não deixar os alunos ociosos. Mas para as turmas iniciais não há muito o que fazer. Tivemos que mandar os alunos de volta para casa;, lamentou Alves Filho. O centro de ensino conta com oito vagas para educadores permanentes e 14 temporárias.

Enquanto aguardam uma definição, pais e estudantes temem que a espera comprometa o andamento das aulas. A dona de casa Luiza Maria do Nascimento vive o drama dos filhos Vitória, 11 anos, e João Vítor. A menina, aluna do 6; ano, conseguiu retornar às aulas. Já o menino está em casa, aguardando que alguém assuma a turma de 4; ano. ;Fico preocupada. Se o ano já começa assim, imagina como vai ser o resto. Não quero que o João seja prejudicado com conteúdo atrasado e correria para encerrar o ano;, afirmou a mãe. ;Meu irmão está em casa, chateado porque não pode voltar à escola com os colegas;, disse Vitória.

A servidora pública Leila Maria Garcês Ferreira preferiu não arriscar. Mãe de Thalia, aluna do 7; ano, ela decidiu garantir a vaga da filha em outra escola para evitar as recorrentes dores de cabeça. ;Ela estuda aqui desde a 1; série. Sei como as coisas caminham, a escola está abandonada. Este ano está melhor do que o ano passado, quando os pais passaram por coisas piores;, lembrou. Membro do Conselho Escolar da Escola Classe 425, Leila se preocupa com o andamento das aulas. ;Nossa comunidade depende muito dessa escola. A marginalidade ao nosso redor é grande, e a esperança sempre é a mesma: de que nós sejamos valorizados;, explicou.

Espera
Enquanto os professores temporários não chegam, os alunos da Escola Classe 67 de Ceilândia preenchem os horários vagos com atividades físicas e lúdicas propostas pela direção da escola. ;Liberar os alunos eu não posso. O melhor é mantê-los na escola até que todas as aulas possam ser dadas nos horários certos;, afirmou o diretor do colégio, Aleksandro Azevedo. Oito educadores são esperados para suprir as vagas nas áreas de matemática, ciências, história, geografia, português e educação infantil nas turmas do 1;, 5;, 6; e 7; ano.

Para o diretor, a espera não é surpresa. ;Sabemos que o governo está trabalhando para distribuir os novos professores. Temos que esperar. Na verdade, é sempre a mesma coisa a que acabamos nos acostumando, sendo obrigados a mais uma vez passar por isso;, reclamou. A escola, inaugurada em Ceilândia, em 2009, aguarda a contratação de mais educadores efetivos.


Eu acho...
Faltam 2,6 mil educadores. Sem alternativa, alunos são mandados de volta para casa;A escola é a principal responsável por valorizar os direitos e a segurança dessas crianças que vivem o tempo todo sob a ameaça da violência e da falta de respeito. Agora, o que será da escola se não há professor na sala de aula? Por que esquecem de valorizar o educador, assim como os pais e os alunos? Acho que o governo acaba esquecendo que estamos aqui, tão longe, em busca de um pouco mais de respeito.;;A escola é a principal responsável por valorizar os direitos e a segurança dessas crianças que vivem o tempo todo sob a ameaça da violência e da falta de respeito. Agora, o que será da escola se não há professor na sala de aula? Por que esquecem de valorizar o educador, assim como os pais e os alunos? Acho que o governo acaba esquecendo que estamos aqui, tão longe, em busca de um pouco mais de respeito.;
Leila Maria Garcês Ferreira, mãe e representante do Conselho Escolar da Escola Classe 425 de Samambaia


Vagas temporárias

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) publicou uma recomendação em 28 de janeiro para que o Governo do Distrito Federal (GDF) só chame os professores temporários em situações previstas pela lei. Segundo o órgão, as contratações devem ocorrer apenas para os casos de ausência de docentes efetivos ou quando não houver concursados na reserva. Em resposta, o governo local afirmou que a prioridade é garantir mestres nas salas de aula. De acordo com orientação do governador Agnelo Queiroz, a diminuição dos contratos temporários, mediante a substituição por profissionais concursados, ocorrerá de forma gradativa, a fim de não prejudicar os alunos.

O diretor jurídico do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Washinton Dourado, condenou a prática adotada pelo GDF. Acrescentou que o sindicato está pronto para denunciar ao Ministério Público a ilegalidade da decisão. ;Lamentamos a incoerência das ações tomadas pela Secretaria (de Educação). O governo prefere repetir o erro cometido anteriormente, quando duas ex-secretárias de Educação foram condenadas pelo Ministério Público, após denúncia do Sinpro, por improbidade administrativa pela contratação de temporários para vagas de concursados.;

Segundo ele, a justificativa usada pelo governo para desconvocar 1.545 professores efetivos não pode ser usada. ;Não há como justificar falta de orçamento, já que o investimento para um temporário e para um efetivo é o mesmo. Novamente, entraremos com denúncia no MPDFT para impedir a reprodução das trapalhadas cometidas por outros governos.; A Secretaria de Educação do DF informou, por meio de assessoria de imprensa, que os novos professores estão sendo chamados desde ontem. Não há balanço de quantos começaram a dar aulas.


ENTENDA O CASO
Protestos e desconvocações

No início do ano, 1.545 professores aprovados em processo seletivo realizado em outubro de 2010 foram convocados pela Secretaria de Educação do DF para reforçar o quadro de docentes da rede pública. No entanto, em 24 de janeiro, os docentes foram desconvocados sob a alegação de problemas orçamentários. A decisão causou alvoroço entre os representantes da categoria.

Na mesma tarde em que foi anunciada a mudança, manifestação organizada por professores tumultuou o trânsito no Eixo Monumental por cerca de quatro horas. Enquanto uma comissão dos profissionais afetados pela decisão era recebida por secretários do Governo do Distrito Federal (GDF), 300 pessoas protestaram em frente ao Palácio do Buriti. Em 28 de janeiro, o governador Agnelo Queiroz anunciou que seriam chamados apenas 400 aprovados no concurso, convocação que seria publicada no Diário Oficial do Distrito Federal em 1; de fevereiro.

Em entrevista ao Correio, a secretária de Educação do DF, Regina Vinhaes afirmou que o número de contratações ainda está aquém das necessidades do corpo de docentes do DF. Reforçou ainda que a Lei Orçamentária permitiu apenas a contratação dos 400 educadores em 2011. Durante a cerimônia de abertura do ano letivo, a categoria voltou a reivindicar as vagas nas escolas. Regina assumiu o deficit de 3 mil professores e prometeu a convocação gradual dos profissionais, mas dentro da lei e conforme o orçamento.

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