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Águas Claras atrai mercado consumidor para setores varejista e de serviços

Comércio chega aos arranha-céus Águas Claras, com 135 mil moradores, não é somente o paraíso das imobiliárias e da construção civil. Agora, a cidade é vista como um forte e atraente mercado consumidor para os setores varejista e de serviços. Apenas as ações do poder público ficam aquém do ritmo de crescimento

postado em 12/02/2011 13:23
Alexandre Oliveira diz que o morador de Águas Claras Águas Claras ganhou destaque depois que passou a ser considerada o maior canteiro de obras da América Latina. Na última década, o avanço das construções chamou a atenção do país inteiro. A velocidade com que os prédios eram erguidos rendeu à cidade títulos como o novo Eldorado e a Abu Dhabi brasileira. Com 600 edifícios prontos e lançamentos ainda a todo vapor, a região administrativa do Distrito Federal que mais tem cara de metrópole agora vive um boom de comércio e serviços para atender a uma população de 135 mil habitantes.

Livre das rígidas restrições impostas no tombado Plano Piloto, Águas Claras logo virou o paraíso das empreiteiras. O rápido adensamento populacional deu um nó no trânsito da região e fez com que os moradores desejassem se locomover o mínimo possível para consumir. Entre os espigões com mais de 20 andares, existem pelo menos cinco centros comerciais, sendo dois importantes shoppings: Águas Claras e Quê. Somando os estabelecimentos que ocupam a Área de Desenvolvimento Econômico (ADE), a cidade abriga cerca de 1,8 mil empresas.

A maior parte dos investimentos, principalmente na área gastronômica, surgiu nos últimos três anos, quando bares e restaurantes se proliferaram. Em dezembro do ano passado, a multinacional Walmart se instalou em Águas Claras, de olho no potencial dos consumidores locais. Big Box, Comper e Oba também disputam espaço no mercado. ;Finalmente, o comércio resolveu deslanchar e, com isso, a economia da cidade passou a ter uma dinâmica própria;, comenta Marcos André Melo, analista de mercado.

A urbanização e os serviços públicos não conseguiram acompanhar o crescimento de Águas Claras, o que retardou a aposta do setor privado. Hoje a cidade conta com duas universidades ; Unieuro e Uniplan ; e pelo menos 15 escolas de idiomas abriram as portas na última década.

Com melhorias em andamento e um trânsito cada vez mais complicado, a tendência é que mais empresas sejam atraídas daqui para frente. ;Está muito difícil andar de carro dentro da própria cidade. Ninguém vai querer ir muito longe para consumir bens e serviços;, avalia Marcos André.

Em 2004, os sócios Marco Antônio Wanderlei e Jonas Mosquéra confiaram naquele Eldorado e abriram a terceira academia de ginástica da região. Hoje, a Fitway tem quatro unidades, todas em Águas Claras, onde há 3 mil alunos matriculados. Somente em uma delas, o investimento chegou a R$ 1 milhão. ;Ficamos conhecidos no mercado fitness como especialistas da cidade;, diz Wanderlei. ;Quando chegamos, o mercado era carente. Ninguém estava acreditando muito porque era, de fato, um lugar novo;, completa Mosquéra.

Bairrismo
O perfil dos moradores de Águas Claras tem mudado. No início, a predominância era de jovens, solteiros ou recém-casados, e servidores públicos transferidos de outras localidades. Com o surgimento de prédios mais sofisticados e com apartamentos maiores, famílias inteiras do DF se mudaram para o bairro. ;O público é outro, e o crescimento vai ser inevitável;, acredita Mosquéra, ao mostrar o edifício que está sendo erguido bem ao lado do Shopping Quê, onde há uma academia do grupo. ;O povo de Águas Claras é bairrista. Todo mundo vai querer malhar aqui;, acrescenta Wanderlei.

A sexta loja do mercado Oba no DF, em Águas Claras, foi um pedido dos moradores da cidade, segundo o gerente Alexandre Oliveira. ;Eles compravam da gente no Plano Piloto, mas cobravam uma unidade perto deles;, conta. Em outubro do ano passado, o espaço de 500 metros quadrados começou a funcionar na área comercial do térreo de três prédios residenciais. O faturamento no primeiro mês surpreendeu a rede, cuja matriz fica em São Paulo. ;Só não estamos vendendo mais do que na loja do Lago Sul. O cliente de Águas Claras compra todos os dias;, afirma Oliveira.

Saúde não acompanha crescimento

Para o casal Robson e Silvânia, faltam escritórios de profissionais liberais e serviços médicos para completar a cidadeApós a consolidação do comércio em Águas Claras, chegou a hora de os serviços encontrarem espaço na cidade. Para o consultor em varejo Alexandre Ayres, a tendência para os próximos anos é que novos investimentos na região administrativa passem a suprir carências como escritórios de advocacia, contabilidade e clínicas médicas. ;O comércio costuma se instalar primeiro, faz parte de um processo quase que padrão de ocupação urbana. Depois, surgem os serviços;, comenta. Na avaliação dele, em cinco anos a Abu Dhabi brasileira conquistará uma independência completa na vida comercial.

O casal Robson Silva, 40 anos, e Silvânia Silva, 36, se mudou para Águas Claras assim que a filha Giovanna, hoje com 5 anos, nasceu. ;No início, era muito precário. Não tinha nada além de obras;, lembra a mulher. Segundo ela, o crescimento da cidade e a abertura dos shoppings atraiu empresas. ;Agora, pelo menos as necessidades básicas estão atendidas. E a tendência natural é que, com o trânsito intenso, a gente faça tudo por aqui;, acrescenta. A principal queixa da família é quanto à ausência de serviços médicos. ;Não temos hospitais nem sequer clínicas;, reforça Silva. (DA)

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