postado em 14/02/2011 07:55
Já faz algum tempo que Santa Maria está em contagem regressiva para virar a página. A região administrativa, antes lembrada por ser um local violento e ter uma das populações mais carentes do Distrito Federal, vive um momento de expansão econômica. Devido a uma conjugação de motivos, a cidade hoje é atraente para empresários dos mais diversos ramos, do comércio varejista à construção civil, passando por produção e distribuição de produtos industrializados. Essa gama de atividades cria empregos para os habitantes, derruba o estigma de área miserável e atrai novos moradores, muitos deles vindos das regiões centrais do DF. Também é prevista uma elevação da renda média da população e uma semelhança com o perfil de cidades como Ceilândia, Gama e Taguatinga, promissores centros de concentração da classe média. Um movimento primordial para impulsionar a atividade econômica em Santa Maria foi a ocupação do Polo de Desenvolvimento Juscelino Kubitschek, mais conhecido como Polo JK. Criada em 1994, a área nos arredores da cidade, que pertence ao Programa de Promoção do Desenvolvimento Integrado e Sustentável do DF (Pró-DF), abriga lotes para empreendimentos industriais.
A instalação de empresas na região foi lenta, já que as licenças ambientais para o polo, segmentado em cinco trechos, demoraram para ser expedidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Com isso, obras de infraestrutura da área não puderam ser feitas e foi difícil captar investidores. Hoje, no entanto, com a urbanização acelerada, o local tem 150 indústrias funcionando principalmente nos Trechos 1 e 2. A maior parte abriu as portas em anos recentes. A capacidade total é para 3 mil indústrias, mas o avanço pode ser considerado significativo. Para se ter uma ideia, em 2004, havia só 13 empreendimentos na região industrial de Santa Maria.
Empreendimentos
Em um futuro próximo, o Polo JK, que atualmente garante pelo menos 7,5 mil empregos diretos, receberá dois empreendimentos de peso além dos existentes. A indústria farmacêutica francesa Sanofi-Aventis e a rede mexicana de panificação Bimbo S.A. confirmaram a instalação de unidades de grande porte na área. Cada uma delas deve ter capacidade para empregar mais de mil trabalhadores. Segundo as regras do Pró-DF ; gerido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), que tem a função de captar empresários interessados ; as multinacionais têm cinco anos para se instalarem nos terrenos concedidos no Polo JK e começarem a operar. A vantagem oferecida pelo programa de incentivo do Governo do Distrito Federal permite aos concessionários de lotes pagarem apenas 20% do valor do terreno, se cumprirem o prazo estipulado.
Além de indústrias, o polo de desenvolvimento abriga um ocupante vital para a economia do Distrito Federal. Trata-se do Porto Seco, estação aduaneira inaugurada em 2004. Explorado pela empresa Logística, Serviços e Armazenamento (Logserv), vencedora de licitação do governo federal, o Porto Seco emprega 48 pessoas. Segundo o gerente- geral Edward Libânio Martins, 80% da mão de obra é proveniente de Santa Maria. O restante dos funcionários vem de municípios do Entorno geograficamente próximos, como Valparaíso (GO) e Cidade Ocidental (GO).
Falta qualificação
Edward conta que, no início da operação do Porto Seco do DF, houve dificuldade em empregar a mão de obra local por falta de pessoal qualificado. ;Há uma grande carência, de pessoas e de cursos técnicos. Nós mesmos tivemos que cuidar do treinamento. Enviamos um operador de máquinas para Salvador, Bahia, e depois ele ensinou os demais;, conta. Para ele, o Polo JK tem potencial para empregar mais moradores da região administrativa do que os contratados atualmente. Muitas empresas trazem trabalhadores mais qualificados de outras unidades da Federação.
Além do aprofundamento da ocupação industrial, outro divisor de águas na história de Santa Maria foi a chegada, à cidade, do Minha Casa, Minha Vida, programa do governo federal para facilitar o acesso das classes populares ao imóvel próprio.
Santa Maria foi o berço nacional do programa, primeira área do Brasil a obter concessão governamental para construir imóveis, em 2009. A expansão da construção civil na cidade é comandada pelo Consórcio Direcional, formado pelos grupos Acioly e Gontijo. De acordo com a Administração Regional, os canteiros de obras criaram empregos. Mas, como ocorreu no caso das indústrias, as empresas esbarraram na falta de qualificação da mão de obra.
Empresas atraídas pelo aumento
da renda
Não existem números oficiais atualizados sobre a renda dos habitantes de Santa Maria. A última medição disponível está na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) do ano de 2004, realizada pela Companhia de Desenvolvimento do Planalto (Codeplan). Na ocasião, detectou-se que o ganho domiciliar médio na região administrativa era o equivalente a 3,7 salários mínimos. Por pessoa, a renda era de 0,9 mínimos. À época, o valor do menor salário da economia era R$ 240. Mesmo sem informação atualizada, é possível concluir que a situação mudou para melhor. De 2004 para cá, o salário mínimo foi reajustado em 125% sem correção inflacionária. Com a inflação segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), a alta foi mais modesta, de 52,2%. Ainda assim, representou um aumento significativo do poder de compra.
;O enriquecimento da classe C, fenômeno que está ocorrendo em todo o Brasil, fez toda a diferença nessa cidade;, destaca o consultor de varejo Alexandre Ayres. Para ele, o crescimento da indústria e o adensamento populacional em razão do Minha Casa, Minha Vida podem gerar na região uma elevação de renda maior. ;Por enquanto, a maioria da população de áreas mais centrais que compra imóvel em Santa Maria, faz isso só para investir. Mas a tendência é que, com melhorias na infraestrutura e ocupação esgotada em outras áreas urbanas do DF, a área torne-se opção de moradia;, acrescenta.
O aumento do poder aquisitivo em Santa Maria atrai comerciantes. Em dezembro de 2010, foi inaugurado o Santa Maria Shopping, primeiro empreendimento do tipo na história da cidade. O local foi erguido e é explorado pela Broto Construtora, grupo dono de edifícios comerciais também no Gama.
Oscar Frota, um dos proprietários, explica que a empreiteira tinha três pequenos prédios de comércio no centro de Santa Maria. O bom movimento nessas áreas deixou Frota seguro para investir no shopping. ;Fizemos propaganda. Veio um lojista do Gama Shopping, que trouxe outro, e depois outro. Também conseguimos trazer franquias, como a loja de chocolates Cacau Show. Teremos o Subway. Aguardamos resposta da Marisa e das Lojas Americanas, que fizeram prospecção de mercado;, conta.
Treze lojas foram abertas antes dos quatro andares do Santa Maria Shopping. O primeiro e o segundo têm capacidade para 60 estabelecimentos. Nos dois últimos, funcionará uma faculdade.
Para o empresário Fábio Cardoso Medeiros, que comanda a franquia da Cacau Show no Santa Maria Shopping, a presença do centro de compras e das marcas famosas deixou os moradores felizes. ;As pessoas sentem a autoestima elevada. É uma sensação de ;a gente merecia;;, analisa ele, que também é dono de unidade da mesma franquia na 113 Norte. O coordenador de eventos Sharley Pinto de Souza, 36 anos, morador de Santa Maria há 19 anos, concorda com a opinião do comerciante. ;Tem que mudar a mentalidade do empresariado. Eles não acham que vale a pena investir aqui;, afirma.