Naira Trindade, Renato Alves
postado em 16/02/2011 07:53
A Polícia Civil de Goiás só reagiu às mortes em série cometidas por policiais militares comandados pelo então major Ricardo Rocha após o desaparecimento do fazendeiro José Eduardo Ferreira, 56 anos. Ele foi visto com vida pela última vez em 10 de março de 2009, quando saiu de casa pela manhã para visitar duas lojas de produtos agropecuários em Cabeceiras de Goiás. Seis meses depois, investigadores encontraram a ossada dele em uma cisterna, na área urbana de Formosa (GO). Um homem, uma mulher e quatro policiais militares acabaram presos sob a acusação de participar da emboscada e da execução da vítima. Mas todos foram soltos por causa do vencimento do prazo da detenção. O mandante, produtor rural da região, e um pistoleiro estão foragidos desde a descoberta dos restos mortais de José Eduardo.Após as prisões dos suspeitos, policiais civis goianos pararam a investigação sobre as denúncias de um esquadrão da morte no Entorno. Desde então, parentes das vítimas do bando ficaram reféns do medo. Muitos se mudaram das cidades goianas limítrofes de Brasília e nunca mais deram notícia. Os que ficaram, ontem, após saberem da prisão de 19 policiais militares durante a Operação Sexto Mandamento, manifestaram um sentimento de Justiça e de insegurança. Viúva do fazendeiro José Eduardo Ferreira, Luciene Maria de Mendonça Ferreira, 49 anos, comemorou a ação da Polícia Federal sem esconder a revolta. ;Os mesmos policiais que ajudaram a procurar pelo meu marido desaparecido participaram do crime;, afirmou a professora da rede pública de ensino do Distrito Federal.
Desde o desaparecimento de José Eduardo, os familiares travaram uma batalha em busca de notícias dele, sem o apoio das polícias goianas. A Polícia Civil de Goiás só mandou uma equipe especializada em homicídios assumir o caso após o Correio revelar as suspeitas de envolvimento de policiais militares no sumiço do fazendeiro. Seis meses após o suposto rapto dele, a ossada foi encontrada em um poço abandonado em terreno baldio, com 12m de profundidade, em Formosa. O local foi apontado por um dos acusados de envolvimento no caso. Ele confessou o sequestro da vítima. Disse ter feito o serviço a mando de outra pessoa e com a participação de um segundo homem, o autor dos disparos que teriam matado o produtor rural. As identidades eram mantidas em sigilo, mas agentes e delegados trabalhavam com a hipótese da participação de policiais militares.
Disputa por terras
No dia seguinte ao desaparecimento de José Eduardo, policiais da delegacia de Formosa encontraram o carro dele abandonado perto do Setor Vale do Amanhecer, na área rural do município, a mais de 70km de onde havia sumido. O Uno estava com as portas abertas, sem ocupantes. Moradores afirmaram à polícia ter visto um Fox e um Astra, ambos brancos, perto do Uno. O Fox não foi localizado. Mas um Astra parecido pertencia a um soldado da PM goiana. À época, ele alegou ter comprado o veículo de João Batista Brandão Amerces, 36 anos, preso sob a acusação de participação no sumiço e no assassinato do fazendeiro.
Em depoimento, testemunhas contaram ter presenciado José Eduardo reagir à abordagem de quatro homens e sair do bagageiro do Astra em uma tentativa de fuga. Elas reconheceram João Batista como o motorista do veículo. Contaram que ele correu atrás de José Eduardo. João agrediu o fazendeiro e o colocou de volta no Astra, ainda segundo testemunhas. Com base nas informações, os agentes de Formosa prenderam João Batista e América Cristina Gontijo de Sousa, 29 anos, em 24 de março de 2010, por ordem da Justiça goiana.
A mulher teria sido a isca para o fazendeiro. Por telefone, ela, que se apresentava como policial militar sem nunca ter sido, teria combinado de se encontrar com ele. Os dois ficaram detidos no cárcere da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Goiânia. Em 3 de abril, a Justiça acatou o pedido da polícia e expediu a prisão preventiva, que prorrogou a permanência de ambos na cadeia. Mas acabaram soltos há um mês. Deixaram a prisão em 15 de janeiro. ;Como podemos ficar tranquilos com essa gente solta?;, questionou o filho mais velho do fazendeiro, José Eduardo Ferreira Júnior, 30 anos. No entanto, ele confia na solução do caso com a entrada da Polícia Federal na investigação. ;Agora, com a Polícia Federal, alguma coisa vai acontecer;, apostou.
A maior preocupação de José Eduardo Júnior é quanto à impunidade. Os quatro PMs suspeitos de participar da execução de José Ferreira foram presos em 24 de março de 2010, em casa ou no 16; Batalhão da PM de Goiás, mas acabaram soltos (leia Memória). Foram presos ontem, novamente, pela PF. O mandante do crime é Wilson Lopes de Ataíde, segundo a investigação. Ele contratou um pistoleiro porque teria sido agredido com um tapa por José Eduardo.
Ligação
No boletim de ocorrência, o filho caçula do fazendeiro, Fernando Henrique Ferreira, 25 anos, disse que o pai esteve, no dia do desaparecimento, em um bar de Cabeceiras bebendo com amigos. Lá, o fazendeiro teria recebido a ligação de uma mulher e combinado de se encontrar com ela em Formosa. Tratava-se de América de Sousa.
Corpo em cisterna
Os quatro PMs suspeitos de participar da execução de José Ferreira foram presos em 24 de março de 2009, em casa ou no 16; Batalhão da PM de Goiás. A ação ficou por conta do Serviço de Inteligência da corporação, mas o pedido de prisão partiu da Divisão Antisequestro da Polícia Civil. O mandante do crime é Wilson Lopes de Ataíde, segundo a investigação. Ele contratou um pistoleiro porque teria sido agredido por José Eduardo, em função de um terreno comprado da vítima.
José Ferreira foi visto pela última vez em10 de março de 2009, quando saiu de casa pela manhã para visitar duas lojas de produtos agropecuários em Cabeceiras de Goiás, a 70km de Formosa. O paradeiro dele permaneceu ignorado até 17 de setembro de 2009, quando policiais civis encontraram uma ossada em um poço abandonado em terreno baldio, com 12m de profundidade, na periferia de Formosa.
O local foi apontado por um dos acusados de envolvimento no caso, João Batista Brandão Amerces, 37 anos, preso em julho. Exame feito com base na arcada dentária encontrada na cisterna apontou os restos mortais como sendo os de José Ferreira. João Batista confessou o sequestro da vítima. Em depoimento, testemunhas contaram ter presenciado José Eduardo reagir à abordagem de quatro homens, que seriam os PMs presos.