Uma maratona para garantir a chance de vida de um paciente mobilizou o Intituto de Cardiologia (IC) do Distrito Federal. Pela primeira vez, a unidade de saúde realizou um transplante com o coração vindo de fora da capital. O órgão de um doador residente em Goiânia (a 200km de Brasília) benefeciou um homem, de 45 anos, que aguardava na fila de transplantes desde maio de 2009. Segundo o cardiologista Renato Bueno Chaves, o receptor era vítima da doença de chagas e, nos últimos seis meses, praticamente morou no hospital.
A jornada da equipe médica teve início na noite desta quarta-feira (16/2) e adentrou a madrugada. Um grupo de profissionais deixou o instituto às 21h em direção à Base Aérea, onde embarcou para a capital goiana em um avião Bandeirante da Força Aérea Brasileira. O coração desembarcou na Base Área de Brasília por volta das 2h50 e foi imediatamente levado ao Hospital das Forças Armadas, onde chegou às 3h15.
"A agilidade é fundamental. São no máximo quatro horas de isquemia (tempo que o coração pode ficar fora do corpo) e seis horas para a cirurgia de transplante no receptor", explicou Alves. O pâncreas e o fígado do doador foram levados para São Paulo.
Para a diretora do IC, Núbia Welerson Vieira, o procedimento só se tornou possível graças à ajuda da Força Aérea Brasileira. O hospital não possui avião ou helicóptero. Nesse tipo de caso, a Central Nacional de Transplantes costuma bancar voos comerciais, mas nenhuma companhia aérea oferecia o serviço no horário necessário. Núbia ligou para a Secretaria da Presidência da República, que entrou em contato com a FAB.
Fila de transplante
O paciente estava em primeiro lugar na fila da CNT para transplante, pelas condições do coração e de compatibilidade. Outros seis pacientes do ICDF continuam à espera de doadores, sendo dois adultos e quatro crianças. Com a divulgação do procedimento desta quarta-feira, Renato Bueno Chaves espera sensibilizar as famílias de possíveis doadores. "Cada vez que um transplante bem sucedido é noticiado, aumenta o número de doações e fazemos várias cirurgias na sequência", disse.
De acordo com o médico, o que mais toca os doadores é a mudança de vida propiciada pelo transplante. Ele cita exemplo de quatro pacientes que mal conseguiam andar, mas após receber um novo coração correram 5km, cada um, em uma corrida de revezamento promovida pelo hospital.
O Instituto de Cardiologia do DF faz transplantes de coração desde 2007. O último foi realizado em setembro de 2010. Nesse período, houve 15 cirurgias, 13 em adultos e duas pediátricas, todas pela mesma equipe. A operação da madrugada desta quinta-feira contou com quatro cirurgiões, um clínico, uma enfermeira, dois anestesistas e um perfusionista (médico responsável por monitorar o coração durante o transporte).
Chaves explicou que os transplantes de coração são os mais complicados, assim como os de fígado e de pâncreas, por questões de compatibilidade. Esses são justamente os três órgãos retirados do doador em Goiânia. O fígado e o pâncreas foram para São Paulo, estado líder em transplantes no Brasil.
Após a cirurgia, serão 30 dias de internação, com os cinco primeiros na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dados como nome, profissão e causa da morte dos doadores de órgão são mantidos em sigilo.