O homem de 45 anos, que recebeu o coração de um doador de Goiânia em um transplante ocorrido durante a madrugada desta quinta-feira (17/2), está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Cirúrgica do Instituto de Cardiologia (IC) do Hospital das Forças Armadas (HFA). Lá deve permanecer nos próximos dois ou três dias. Em seguida, será encaminhado para um quarto, onde ficará por mais 10 dias. Os médicos comentaram a possibilidade de o paciente acordar no fim do dia, mas, segundo a assessoria de comunicação, a expectativa é que ele não esteja mais sedado somente no início da tarde de amanhã.
[SAIBAMAIS]Durante uma entrevista coletiva, médicos que realizaram o transplante explicaram como ocorreu o procedimento. Duas equipes foram responsáveis pelo sucesso da cirurgia. Enquanto uma, composta por quatro médicos, retirava o órgão do doador em Goiânia, outra, formada pela mesma quantidade de profissionais, preparava o paciente aqui em Brasília, no IC. A preocupação dos médicos era fazer o processo em sintonia para otimizar o tempo. Durante o trajeto, o coração ficou 2h40 fora do corpo, o tempo máximo ideal é de quatro horas.
Participaram da coletiva o diretor do HFA, o brigadeiro José Maria Lins Calheiros, a diretora médica do IC, Núbia Welerson Vieira, o superintendente do IC, João Gabardo, e dois médicos que fizeram parte da equipe, Fernando Atik e Renato Bueno Chaves.
Tentativas
O cirurgião Fernando Atik destaca que essa foi a segunda tentativa de realizar um transplante com coração extraído fora do DF. A primeira teria ocorrido há duas semanas, tambem com um doador de Goiânia. "Infelizmente não houve compatibilidade", revela.
A equipe disse esperar que a ação se torne rotineira. "Mais de 50% de todas as nossas recusas de coração acontecem porque os órgãos são de outros estados. Conseguindo trabalhar com órgãos de outras cidades, ampliaremos nossa capacidade de fazer transplantes", comenta Fernando.
De acordo com os médicos, há a intenção de fazer uma parceria com a Secretaria de Saúde (SES) do DF para possibilitar a realização de cirurgias com corações vindos de outras cidades. Em visita realizada ao HFA, o governador Agnelo Queiroz teria destacado o desejo de transformar o IC em uma referência em transplantes. A ideia é que a SES forneça o transporte aéreo para busca dos órgãos.
Transplantes
Segundo os médicos, a oferta no Distrito Federal é de cerca de dois corações por mês, vindos do Hospital de Base do DF. A quantidade não é suficiente para a demanda. Alem disso, segundo os médicos, em torno de 60% dos transplantes não pode ser realizado, pois os corações chegam em um estado inapropriado.
De acordo com a diretora médica do IC, Núbia Welerson Vieira, há duas principais razões para não aproveitamento dos órgãos. A primeira delas é a demora na captação do coração e a segunda é a descoberta, durante os exames para testar o potencial de transplante, que o doador tinha problemas cardíacos.
Os médicos tambem destacam outras dificuldades para a realização das cirurgias. Entre elas está o fato de que "alguns profissionais, sobrecarregados com os trabalhos nas UTIs, não estão alertas para identificar a ocorrência de morte encefálica", aponta Núbia. Alem disso, os órgãos se deterioram com a falta de assistência adequada para o doador.
Desde 2007, quando o programa de transplantes foi implantado, já foram realizadas 16 cirurgias. Nesse tempo, 26 pessoas morreram na fila. Atualmente, há oito pessoas na fila.