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Mais de mil pacientes aguardam doação de órgãos no Distrito Federal

Em menos de uma semana, foram realizadas duas cirurgias de transplante de coração no Instituto de Cardiologia. Outro homem é o segundo caso de sucesso neste ano, em operação feita neste sábado

postado em 20/02/2011 19:12
Em menos de uma semana, foram realizadas duas cirurgias de transplante de coração no Instituto de Cardiologia. Outro homem é o segundo caso de sucesso neste ano, em operação feita neste sábadoConseguir um transplante no Distrito Federal tem sido uma luta diária para pacientes da rede pública. Nos últimos 10 anos, 5.107 procedimentos foram feitos nos hospitais públicos, mas a maioria dos pacientes em espera esbarram na falta de estrutura dos hospitais públicos. Some-se a isso à resistência das famílias em fazer a doação após a morte do ente querido. A realização do transplante cardíaco no agricultor Noé das Dores Silva, 45 anos, foi um caso de sucesso em meio a tantos outros ainda com futuro incerto. Ele passou por cirurgia no Instituto de Cardiologia do DF (IC-DF) e foi a 16; pessoa da capital federal a receber um coração desde 2007. Noé deve receber alta na próxima semana.

Na fila para receber um coração novo ainda há seis pessoas. Por volta das 10h de ontem, um homem que não teve o nome divulgado fez o segundo transplante cardíaco de 2011 em menos de uma semana. O número deste ano já se iguala ao total de cirurgias feitas em 2008. Mas a capital do país teve momentos melhores na história de transplantes. Em 2000, a marca chegou a atingir quase 100 transplantes renais no período de um ano. No ano seguinte, o programa do Governo do Distrito Federal foi suspenso e, a quantidade caiu 30%. Em 2004, a situação piorou ainda mais, com 23 procedimento renais ; uma queda de 75% em relação a 2000.

Atualmente, existem mais de 1,3 mil pessoas na fila para hemodiálise e à espera de um rim. Segundo o ex-presidente da Associação dos Renais de Brasília, Carlos Alberto Rosa, quem depende da rede de saúde padece da espera de atendimento. Ele, por exemplo, fez o primeiro transplante em 1999, após seis anos na fila. Depois da cirurgia, Carlos precisou ficar dois anos internado no Hospital de Base em razão de uma infecção adquirida na unidade de saúde. Passados 12 anos, ele voltou a fazer hemodiálise por causa da rejeição do órgão e é dependente de remédios que muitas vezes faltam na farmácia de alto custo. ;Eu quero viver bastante ainda, mas os pacientes renais são prisioneiros de uma máquina de hemodiálise. O sonho de qualquer renal é fazer um transplante, mas estamos reféns da falta de investimentos do estado;, disse.

Falta doação
Segundo Lúcio Lucas Pereira, coordenador de transplantes da Secretaria de Saúde, ainda há muito o que se fazer para mudar a realidade no DF que, apesar do ritmo lento, está entre as melhores do cenário nacional. Uma boa indicação é a média é de 30 doadores por ano. Em 2010, por exemplo, 42 pessoas doaram órgãos. Lúcio destacou que toda a rede pública de saúde tem condições de diagnosticar um paciente com morte cerebral. ;Dispomos de aparelhos para isso, o que acelera o diagnóstico;, disse. Se a situação dos transplantes de rins não tem sido das melhores, por outro lado o transplante de córneas tem aumentado com o passar dos anos. Enquanto em 2000 foram 145 casos, no ano passado o número de cirurgias fechou com 432 transplantes, um aumento de 197%. ;Em 2002 o tempo de espera de transplante de córnea era de cinco anos, hoje a média é um a dois meses;, disse.

Lúcio atribuiu os índices a uma melhora de gestão. Atualmente, o Instituto Médico Legal (IML) informa ao banco de olhos sobre mortes em via pública. Assim, o banco entra em contato com familiares da vítima para saber se eles têm intenção de fazer a doação, procedimento que não existia há 10 anos. Mesmo assim, o índice de rejeição ainda é alto. Segundo Lucas, cerca de 40% das famílias não aceitam a doação dos órgãos. Entre os motivos estão convicções de cunho religioso ou até mesmo revolta da família pela perda do parente devido a uma possível falta de acolhimento adequado.

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