Cidades

Em 9 anos, socorro pelos Bombeiros a vítimas por arma de fogo subiu 68,7%

Cada minuto de espera reduz a chance de sobrevivência

Adriana Bernardes
postado em 21/02/2011 07:00
Cada minuto de espera reduz a chance de sobrevivência

O telefone da emergência do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal toca pelo menos três vezes por dia com pedidos de socorro para vítimas de arma de fogo. Em 2010, foram 1.163 chamados, 68,7% a mais que em 2001. Os ferimentos por armas brancas também são recorrentes. Ano passado, 1.231 vítimas tiveram de ser levadas ao hospital, 149,1% a mais que em 2001. Para os Bombeiros não importa se os ferimentos são acidentais ou tentativas de homicídio. Por esse motivo, é impossível afirmar que o aumento das estatísticas tem relação com o crescimento da violência. A corporação também não monitora se a vítima sobreviveu.

Há dois anos e três meses, a vida da família Domingues mudou radicalmente. Um acerto de contas entre grupos rivais deixou José Ronaldo Domingues, 55 anos, em uma cadeira de rodas. Era 1; de novembro de 2008, quando ele estacionou o carro em frente à sua casa. ;Era meu aniversário e eu estava chegando para comemorar. Ouvi os tiros e, quando tentei olhar, já estava no chão. Depois disso, me lembro de pouca coisa;, relata. Desesperada, a família colocou José Ronaldo no carro e correu para o hospital. ;Ele sangrava muito. Ficamos com medo de fazer alguma coisa e piorar a situação, mas acabamos socorrendo. Eu fui dirigindo e outra pessoa foi atrás com ele. O sangue esguichava e eu falei: estanca esse sangue. Coloca a mão e aperta;, relata Marcos Pinto, 39 anos, genro da vítima.

Tiroteio
A sensação de não saber o que fazer diante de uma tragédia assim é natural. Chefe da Comunicação Social dos Bombeiros, o tenente Gabriel Motta de Carvalho, explica que o ideal é estancar a hemorragia com material esterilizado, como gazes (Leia quadro com dicas). ;Mas se não tiver, usa uma toalha, um lençol ou uma camisa e liga para os Bombeiros. Pelo telefone mesmo o socorrista já vai dar orientações;, ensina. Durante o tiroteio em que José Ronaldo foi vítima, outras três pessoas também ficaram feridas. O autor dos disparos está preso e vai ser julgado na próxima quarta-feira.

Apesar de os atendimentos dos bombeiros às vítimas de arma branca e de fogo estarem em crescimento constante, dados da Polícia Civil sobre homicídios no DF revelam uma pequena redução. As estatísticas levam em conta quem morre no local e também os casos em que a pessoa perde a vida 45 dias após o fato. Em 2001, foram registrados 540 assassinatos no DF, uma taxa de 25,7 casos por 100 mil habitantes. No ano passado, foram 639 registros, mas a taxa por 100 mil habitantes caiu para 24,8.

O tenente Gabriel explica que para relacionar o aumento do número de atendimentos ao da violência seria preciso uma pesquisa abrangente que levasse em conta o crescimento populacional, a ampliação do número de quartéis e de veículos oficiais. ;Se eu abro um quartel em uma localidade, isso reflete imediatamente nas minhas estatísticas porque passo a oferecer um serviço que não existia;, explicou.

Se por um lado é impossível relacionar o aumento de atendimentos dos bombeiros a vítimas de arma de fogo e arma branca, por outro, é inegável que a violência de algumas regiões impõe à corporação alterações na rotina. ;Em alguns lugares e, dependendo do motivo do atendimento, solicitamos o apoio da Polícia Militar para resguardar a segurança da corporação e garantir o socorro à vítima;, explica o tenente Gabriel.

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