postado em 24/02/2011 07:00
Quatro meses depois das eleições, o Twitter ; que durante a campanha funcionou como palanque eletrônico para candidatos ; continua popular entre os políticos. Passada a disputa, o microblog tornou-se espaço para debates, desabafos e até cobranças que, não raramente, evoluem para bate-boca. Território livre das amarras protocolares de um plenário, tuiteiros com ou sem mandato sentem-se mais à vontade para tecer comentários, às vezes espinhosos, sobre a atuação de colegas. Nos últimos dias, entreveros iniciados na Câmara Legislativa tiveram desdobramentos na rede social. Foi o caso de uma briga entre os distritais Chico Vigilante (PT) e Celina Leão (PMN), que se desentenderam em plenário. Celina criticou o governo, mais especificamente o secretário de Saúde. Vigilante tomou as dores. Os dois discutiram. Chico disse que ;Celina não tinha autoridade moral; para falar de Rafael Barbosa, o secretário. Celina retrucou questionando a ;capacidade intelectual; de Vigilante para ;participar das discussões;.
O segundo round da discussão foi parar no Twitter e acabou incluindo um terceiro personagem, a secretária de Desenvolvimento Social do DF, Arlete Sampaio (PT). Em seu perfil, ela partiu em defesa do colega petista: ;Solidariedade ao Dep. Chico Vigilante, vítima de preconceito de uma deputada elitista;. Celina Leão sentiu que era a destinatária do comentário e contra-atacou: ;Nominar deputados como elitistas é também preconceituoso. #reflita;. O desabafo extrapolou os 140 toques e gerou mais um tuíte raivoso ;Quem fala o que quer escuta o que não quer, falar que um deputado não tem autoridade moral é altamente preconceituoso;.
Como no Twitter ninguém precisa ser chamado para opinar, Alberto Fraga (DEM), ex-deputado federal que disputou vaga ao Senado nas últimas eleições, fez um aparte na discussão alheia. ;@celina leão @ arlete sampaio falar de um parlamentar dessa forma, é desrespeitoso, é querer calar o parlamentar no grito, e deve ta (sic) com medo;. Dois dias depois do bafafá, Arlete encerrou o assunto com o que considerou uma abençoada constatação ;a direita não gosta de mim! Graças a Deus! Não consegue falar a verdade e se esconde atrás de manipulações. É lamentável;. Fraga tenta ganhar na internet o espaço que perdeu na tribuna. ;Fazer oposição sem mandato, só mesmo no Twitter. Não tenho mais plenário para ter ressonância;, ressente-se.
Quem também perdeu o mandato, mas não sumiu do Twitter foi o colega do DEM Adelmir Santana. Nesta semana, ele recebeu, on-line, a fatura de uma suposta dívida de campanha. No último domingo, um candidato derrotado para a vaga de deputado distrital pelo DEM acusou o ex-senador de ;trairagem; e ;calote;. A certa altura do relato, disse Fernando Fidelis, o autor dos tuítes: ;É pior quando o cara não ganha, aí não tem cristão que acha;. Às 13h29 do último domingo, o ex-senador Adelmir Santana reagiu aos comentários de Fidelis. ;Fernando, acordei cedo e fiquei surpreso com suas declarações. Onde falhei com você, sua esposa, o trabalho de ambos?;. ;O Sr. exonerou ela sem sequer avisar previamente, me demitiu da Fecomércio sem me dar chance de me defender, o que quer mais?;. Fidelis disse na rede social que Adelmir teria prometido bolsas de estudo para a equipe que ele mobilizou para trabalhar na campanha do ex-senador.
O caso foi notado por outro candidato ao Senado pelo PSol, Chico Sant;Anna, que aproveitou a discussão para fazer barulho. ;Este diálogo me levantou uma série de dúvidas que deveriam ser esclarecidas publicamente: Bolsas de estudo foram utilizadas para financiar cabos eleitorais?; O senador Adelmir Santana disse ao Correio que nunca prometeu nada a Fernando Fidelis nem a Girlene Fideles. ;Não prometi nem dei bolsa de estudos, lanchinho ou qualquer outra coisa do gênero a nenhum funcionário. Eles foram demitidos porque não apareciam para trabalhar;, rebateu o ex-senador.
A cobrança a Adelmir não foi um caso isolado. Uma ex-assessora de Washington Mesquita (PSDB) também botou a boca no microblog. Thereza Paes postou no Twitter que o distrital tem uma dívida de campanha com ela. A assessora afirma ter atuado na própria rede social em favor do deputado distrital. Disse que conquistaria em troca um cargo no atual governo ou o pagamento em dinheiro. ;Não recebi nenhum centavo do deputado, do mesmo jeito que levantei a moral dele no Twitter, agora abro o jogo;, alardeou pela rede. Washington Mesquita disse à reportagem que ela ofereceu trabalho voluntário. ;Não tenho acordo com essa senhora;, defendeu-se.
Críticas
A distrital Eliana Pedrosa (DEM) também resumiu em 140 toques a bronca no colega do próprio partido Raad Massouh (DEM). Aborrecida com o fato de o deputado ter aberto e fechado a sessão da Câmara em menos de meia hora, enquanto prestava atendimento em seu gabinete, Eliana atacou no Twitter: ;Deputado abre e fecha a sessão rapidamente, descumprindo o regimento interno, só para ficar bem na mídia. Tudo para aparecer;. Nesse dia, Raad substituía o presidente da Câmara.
Delegado de polícia, o distrital Dr. Michel (PSL) atacou o secretário de Segurança, Daniel Lorenz, em plenário, quando o mesmo opinou que, antes do governo Agnelo Queiroz (PT), o GDF não investigava político. Reforçou o juízo pela rede de relacionamento em 140 toques: ;Dizer que a polícia não investiga corrupção é um absurdo;.
Divagando sobre a própria atividade, Alírio Neto (PPS), secretário de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, desabafou filosofando com a ajuda de um iniciado: ;Negociação política é pauleira. Mas, como diz o Monge Sebastian Gracián: ;o que não vai na força, tem que ir na manha;.