Cidades

Novo presidente do BRB promete criar mecanismos para evitar escândalos

Servidor de carreira da Caixa, presidente do Banco de Brasília promete criar mecanismos para evitar escândalos registrados no passado

postado em 27/02/2011 08:59
O nome do Banco de Brasília (BRB), no passado, esteve envolvido em escândalos no Distrito Federal. Alvo de investigações nos últimos anos, a instituição chegou a ter dois ex-presidentes presos. Diante disso, para melhorar a imagem da entidade, o governador Agnelo Queiroz (PT) resolveu apostar em um técnico experiente. Edmilson Gama, servidor de carreira da Caixa Econômica Federal (CEF), foi indicado para presidir o banco ainda na fase de transição, mas somente há 10 dias foi sabatinado e aprovado na Câmara Legislativa. Formado em engenharia civil, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), e em direito, pela Universidade de São Paulo (USP), Gama lista no currículo diversas especializações, como em finanças públicas, em gestão de riscos e em desenvolvimento regional sustentável. Ele garante ter sido escolhido justamente pelo currículo. %u201CEle (Agnelo) disse que queria colocar uma pessoa com perfil técnico para evitar os abusos cometidos no passado%u201D, ressalta. Para tanto, Gama diz que o banco vai investir no gerenciamento de riscos e adotar um conjunto de regras de governança. %u201CAgora, questões ligadas a caráter são difíceis de se evitar%u201D, avalia. Como essa gestão pensa em recuperar o nome do BRB, que já teve ex-presidentes envolvidos em escândalos? A partir da indicação feita pelo governador do nosso nome e do apoio que temos do secretário de Fazenda (Valdir Moysés Simões), montamos uma equipe técnica. Além da minha presença na presidência, temos toda a diretoria com esse perfil. Trouxemos pessoas do governo federal, temos dois diretores do quadro do próprio banco e montamos um time com muito conhecimento das práticas bancárias. Nesse sentido, a ideia é trabalhar para atingir a missão do banco: o fomento do desenvolvimento econômico e social do DF. Vamos atuar muito forte no gerenciamento dos riscos %u2014 de mercado, de liquidez e operacionais %u2014 sem deixar de cumprir a nossa missão. Com o fortalecimento das regras de governança e prudência, temos a condição de deixar o banco em uma situação mais confortável. O BRB era um foco de corrupção, como disse Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais que delatou o esquema investigado pela Operação Caixa de Pandora? Não posso falar pelo ex-secretário, mas todas as denúncias que chegarem ao nosso conhecimento em relação às operações do passado, e eventualmente sobre alguma nova, serão apuradas com rigor. Temos uma parceria estreita com o Tribunal de Contas, com o Ministério Público e com a Secretaria de Transparência, no sentido de apurar qualquer irregularidade e encaminhar os processos para as instâncias de controle. Ao mesmo tempo, vamos dotar o banco de mecanismos que possam evitar ocorrências similares. Que tipo de mecanismos? Um deles envolve justamente os comitês de crédito e de risco. Com um conjunto de regras de governança, é possível ter uma condição muito peculiar para afastar o banco desse tipo de ingerência. Esses comitês são compostos por funcionários de carreira do próprio BRB. Inclusive, estamos fazendo uma parceria com o Instituto Brasileiro de Governança para reforçar a capacitação deles. Agora, questões ligadas a caráter são difíceis de se evitar. Essa área de gestão de riscos é vista como um dos pontos fracos? Eu diria que é um ponto de atenção. Hoje em dia, todos os bancos públicos e privados são constantemente levados ao Banco Central para ampliar os mecanismos de controle de gerenciamento de riscos. Na semana passada, o BC colocou o Basileia III (conjunto de regras que estipula uma reserva de capital, uma espécie de colchão de proteção para as instituições financeiras). Hoje, o Banco de Brasília, no requisito de requerimento de capital, está acima de 16% quando a regra é 11%. Estamos confortáveis em relação a esse ponto, o que não quer dizer que não podemos aprimorar os mecanismos. O gerenciamento de riscos para o banco é uma coisa fundamental. Servidores do DF têm comprometido quase todo o salário com empréstimos. O BRB tem alguma política para evitar esse alto grau de endividamento? As políticas de gestão de pessoas não são do banco, mas da Secretaria de Administração do DF. O que nós apresentamos como proposta para o secretário (Denilson Bento da Costa) é que o banco possa ser instrumento de educação financeira e de crédito consciente. Realmente, a gente tem conhecimento de um número de servidores que está com endividamento alto. A grande maioria deles não tem dívida só no Banco de Brasília, mas em outras instituições financeiras, em cooperativas e outros agentes. Uma das nossas primeiras medidas foi rever os procedimentos de refinanciamento de créditos em atraso. Uma operação que antes era feita em até 60 meses, a gente estendeu o prazo para 70 ou 80 meses, em casos especiais, renegociamos para até 90 meses. Essa renegociação está sendo feita quando o cliente está atrasado ou quando o financiamento supera os 30% (do valor do salário). Quantas pessoas estão nessa situação? Com demandas judiciais contra o BRB, o número é muito pequeno, de apenas 340 servidores. As pessoas que têm um volume de endividamento não passa de 10% da nossa carteira de tomadores %u2014 a carteira de crédito comercial de pessoa física está em R$ 3,5 bilhões. A questão de endividamento não é um problema só do servidor, mas das famílias brasileiras. O acesso mais fácil ao crédito, com financiamento de veículos e de bens de consumo durável, propiciou condições mais tranquilas e fez com que mais gente tomasse crédito. Esse aumento de prazo não vai gerar uma sobrecarga na capacidade de empréstimo do banco? Não, porque são duas situações: refinanciamentos e renegociações. A renegociação acontece quando o cliente está em atraso há mais de 60 dias. A gente faz com que ele volte para o jogo, dando condições para consumo e jogando mais recursos na economia local. Isso não altera o nosso perfil de endividamento. O refinanciamento ocorre quando o cliente está acima de 30% (do salário comprometido) conosco. É razoável que ele tenha condições de voltar a atuar com o restante do salário. A gente chegou a ver situações de até 100% de endividamento do salário. Mas isso não afeta, porque, proporcionalmente à nossa carteira, esse volume é pequeno. Como o BRB está se preparando para a portabilidade bancária? A gente vê essa questão de uma forma bem peculiar. Quem vai tomar a decisão de receber o salário no banco ou de migrar é o servidor. O nosso papel nos próximos meses é mostrar para ele que o Banco de Brasília é a melhor opção. Não vamos blindar o servidor, mas colocar informações para que ele tome a decisão. Além disso, fala-se muito dos eventuais clientes que podem sair do banco. A gente está preparado também para buscar novos servidores, porque a portabilidade é uma via de duas mãos. Acho que temos a condição de aumentar a nossa base em mais de 50%. A qualidade do atendimento e o número de agências são satisfatórios para enfrentar a concorrência? Estamos implantando um novo modelo de atendimento. O conceito para nós de cliente é muito amplo. Ele não é apenas o correntista, mas todo o cidadão de Brasília. Estamos fazendo um trabalho para ampliar o número de correspondentes e pretendemos abrir ou reformar mais de 20 agências até o fim do ano, principalmente no Entorno de Brasília. A venda do BRB é cogitada? Essa é uma decisão que cabe ao controlador: o Governo do DF. Nas reuniões que tivemos com o governador e com o secretário de Fazenda, essa possibilidade foi absolutamente descartada. A proposta é aprofundar as ações do banco. De forma nenhuma, é cogitado vender o controle do banco ou fazer uma fusão. Isso está absolutamente descartado. Acho que até pelo meu perfil, de funcionário de carreira da Caixa, eu não seria a pessoa mais capacitada para conduzir um processo como esse. Meu perfil é de fazer acontecer em um banco público. Como o banco pode ajudar no fomento do setor empresarial? A nossa atuação pode ser muito alavancada em relação à operação com micro e pequenas empresas. Temos iniciado entendimentos com a Secretaria de Micro e Pequenas Empresas e Economia Solidária para retomar os financiamentos. Temos uma parceria muito boa com o Sebrae-DF. Estamos ampliando nossa atuação no microcrédito e procuramos a Secretaria de Trabalho nesse sentido, por meio do Funger. Também estamos ampliando nossa atuação nos créditos agrícola, comercial e industrial com recursos do FCO, do BNDES e do próprio banco, tanto para giro como para investimento. E hoje temos uma liquidez de mais R$ 2 bilhões. O banco está em uma situação muito interessante e faz com que tenhamos condições de ampliar as nossas operações com recursos do banco e desses fundos. O foco daqui para frente será aumentar a parcela de crédito? A proposta é elevar o crédito para pessoa jurídica e ampliar na carteira de desenvolvimento, mas sem abrir mão daquilo que a gente já tem de pessoa física. Qual é o principal problema do banco? Temos um grande número de empregados terceirizados. São 400 pessoas na equipe de Tecnologia da Informação, sendo 300 terceirizados e 100 pessoas do quadro. Queremos inverter essa equação ao longo do ano. A diretoria aprovou a realização de concurso para contratar mais 100 profissionais. Além disso, criamos uma área de governança e inovação na Diretoria de Tecnologia. Vai mudar alguma coisa em relação aos contratos feitos pelas gestões passadas? Criamos no banco a empresa Brasília Ativos, que tem o objetivo de absorver os contratos de telemarketing. A empresa vai migrar, paulatinamente, os contratos estratégicos dessa área. Aprovamos um conjunto com 131 ações que pretendemos concluir em 100 dias. Uma delas é revisar todos os contratos em vigor, com o objetivo de verificar a legalidade, a eficiência e os preços praticados. Aqueles que são bons serão mantidos, e aqueles que não são serão suspensos e renegociados. A ideia é fazer um choque de gestão. O uso político do BRB nas gestões anteriores foi prejudicial para o banco? O grande problema que o banco teve foi a descontinuidade de gestão. Tivemos nos últimos anos quatro presidentes, interinos ou não. Isso foi muito ruim. Se isso foi resultado de questões políticas, eu diria que realmente elas prejudicaram o andamento do banco. É importante que se tenha visão de médio a longo prazo. Temos uma pesquisa que mostra que o banco continua sendo muito bem aceito pela população de Brasília. Claro que as pessoas comentam esses desvios, que são muito danosos, mas isso não chegou a afetar a credibilidade da instituição. O problema são os projetos que acabaram não tendo finalização e as ações que ficaram pelo caminho. Quais são os números do BRB? O conglomerado conta com 4 mil pessoas, considerando as seis empresas do grupo. Os depósitos totais somam R$ 6 bilhões. O patrimônio é de R$ 733 milhões. O total de clientes é de 600 mil pessoas, correntistas e poupadores. Como foi o processo de escolha do seu nome para a presidência? Foi uma escolha do governador do ponto de vista técnico. Nosso contato sempre ocorreu em reuniões técnicas, quando ele era ministro dos Esportes. Ele disse que queria colocar uma pessoa que pudesse desenvolver esses trabalhos, com perfil técnico para evitar os abusos cometidos no passado

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação