Cidades

Rotam de Goiás tem atividades suspensas após tentar intimidar jornalistas

postado em 04/03/2011 10:25
O secretário de Segurança Pública de Goiás, João Furtado Neto, suspendeu temporariamente as atividades do batalhão da Polícia Militar de Rondas Ostensivas Tático Metropolitanas, a Rotam, e substituiu o comando da tropa. As mudanças se deram após uma tentativa de intimidação do jornal O Popular. Em matéria veiculada na quinta-feira (3/3), o veículo de comunicação divulgou trechos de escutas telefônicas em que policiais militares, acusados de integrar grupo de extermínio em Goiás e no Entorno do DF, dizem ter "prazer em matar". As escutas fazem parte do inquérito da Operação Sexto Mandamento, da Polícia Federal, que resultou na prisão de 19 PMs. Na manhã desta sexta-feira (4/3), o tenente-coronel Luiz Alberto Sardinha assumiu o batalhão no lugar do tenente-coronel Carlos Henrique da Silva. O novo comandante disse, durante coletiva, que não afasta a possibilidade de novas mudanças no Rotam. O comandante operacional da tropa, tenente Alex Siqueira, também deixou o cargo. Ele teria liderado um comboio de oito veículos que realizou o cerco ao jornal. Por alguns minutos, circulou o prédio da empresa em baixa velocidade e com as sirenes ligadas. Segundo funcionários, alguns policiais fizeram gestos obscenos ao passar pelo local. A ação foi gravada pelas câmeras de segurança da empresa. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, as atividades ficam suspensas até a conclusão da avaliação que é feita pelo comando geral da Polícia Militar juntamente com integrantes da Corregedoria-Geral e da própria secretaria. O estudo reavalia o papel da Rotam, como missão, valores, modelo e critérios de atuação. O órgão informou que a expectativa é de que a avaliação esteja concluída depois do feriado de Carnaval. O secretário João Furtado tranquilizou a população ao afirmar que a medida não vai afetar o policiamento nas ruas que será ostensivo no Carnaval. De acordo com o órgão, a suspensão não impede que os policiais do batalhão possam atuar caso haja necessidade. Entenda o caso [SAIBAMAIS]Desde maio de 2009, o Correio Braziliense publica uma série de reportagens sobre as execuções em Formosa cometidas por policiais militares a comando do então major Ricardo Rocha. As investigações da Polícia Civil de Goiás tiveram início após o desaparecimento do fazendeiro José Eduardo Ferreira em março de 2009. A ossada da vítima foi localizada seis meses depois de seu sumiço em uma cisterna, na área urbana de Formosa. Na época, um casal e quatro PMs acabaram presos acusados de participação na emboscada e execução do fazendeiro. Após as prisões dos suspeitos, os policiais civis goianos pararam a investigação sobre as denúncias de um esquadrão da morte no Entorno. Desde então, parentes das vítimas ficaram reféns do medo. Muitos se mudaram das cidades goianas. No dia 8 de fevereiro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sexto Mandamento, que resultou na prisão de 19 PMs suspeitos de integrar o grupo de extermínio. Dezessete deles foram transferidos no dia seguinte para Campo Grande (MS) e dois acabaram liberados. A investigação iniciada pela PF há um ano apontou que a maioria das execuções atribuídas aos policiais ocorreu com o uso de veículos e armas da corporação. São crimes cometidos após supostos confrontos, segundo a apuração da PF e denúncias do Ministério Público (MPGO) e da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás. Na maioria deles, houve trocas de tiros forjadas pelos militares até contra mulheres e crianças. Quase metade das vítimas nem sequer tinha ficha criminal. E morreram com tiros à queima-roupa. Muitas, com bala na nuca, sinal de execução identificado em laudos cadavéricos do Instituto Médico Legal. Depois que a operação foi desencadeada, a polícia começou a receber mais denúncias envolvendo os policiais goianos. Em apenas uma semana a quantidade de e-mails e de ligações telefônicas recebida triplicou.

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