postado em 05/03/2011 07:00
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recomendou ontem ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram) o cancelamento da autorização concedida à igreja evangélica Comunidade Cristã Ministério da Fé para a realização da Festa das Águas, prevista para segunda-feira, no Parque Ecológico Dom Bosco. Durante o evento, cerca de mil evangélicos serão batizados e, no decorrer do dia, outros 10 mil deverão passar pelo local. Provocada por uma representação da Fundação Sustentabilidade de Desenvolvimento (FSD), a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente (Prodema) lembrou ao Ibram que o parque é unidade de conservação e que ;tem como objetivo conservar amostras dos ecossistemas naturais da vegetação exótica e paisagens de grande beleza cênica, além de propiciar a recuperação dos recursos hídricos;. De acordo com a promotora Marta Eliana de Oliveira, a Lei Complementar 827/2010 sujeita a visitação pública às normas e restrições impostas pelo plano de manejo da unidade. ;O Parque Ecológico Dom Bosco não possui plano de manejo, de forma que não há como determinar a capacidade de suporte da referida unidade de conservação;, avisa a promotora no documento enviado ao Ibram. Na recomendação, ela adverte que o barulho dos trios elétricos pode causar impacto à fauna silvestre. Caso a diretoria do Ibram não acate a orientação e não suspenda o evento, seus diretores poderão ser penalizados civil e criminalmente.
Segundo os organizadores da festa, a programação prevê que os fiéis deverão se encontrar, a partir das 8h de segunda-feira, no Estádio Mané Garrincha, de onde seguirão em carreata conduzida por um trio elétrico para a Ermida Dom Bosco, no Lago Sul. No local, às 10h30, haverá um piquenique.
Antes mesmo da recomendação do MPDFT, o Ibram havia negado autorização para a realização da festa. Entre os argumentos, estava o de incapacidade da área para receber o elevado número de pessoas e o da proximidade com o Mosteiro de São Bento, instituição da Igreja Católica. Para o pastor Fadi Fayez Faraj, a negativa do instituto foi uma demonstração de intolerância religiosa .
Faraj disse que a igreja estuda a possibilidade de processar o Ibram por preconceito religioso. ;Cumprimos todas as exigências com o Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Administração do Lago Sul e Defesa Civil. Não há motivo para suspender o evento. É questão de justiça.; Segundo o pastor, esta é a primeira vez, em três anos de batismo nas águas do Lago Paranoá, na área da Ermida Dom Bosco, que o órgão ambiental rejeita a atividade e o Ministério Público recomenda a suspensão da festa. Ontem, o pastor ficou surpreso com a recomendação do MPDFT. Na véspera, o Ibram havia recuado da decisão de proibir o evento e autorizado a sua realização (ver fac-símile).
Em nota no início da tarde de ontem, o Ibram disse ter sido consultado no sentido de dar orientações ao uso e à conservação da unidade e de estabelecer algumas precauções para a realização do evento, entre elas: o isolamento da área do bosque, coleta de lixo, organização e limpeza do parque após o evento, bem como a presença da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Batalhão Lacustre e salva-vidas. Atendidas as medidas citadas, o Ibram disse não ter objeção à realização do evento. A nota destacou ainda que atividades desse tipo em unidades de conservação sob administração do Ibram necessita ser avaliada caso a caso, com base tanto nas especificidades de cada área protegida, quanto nas condições de realização do evento.
Em relação aos dois requerimentos emitidos pelo Ibram em datas diferentes, o secretário de Meio Ambiente, Eduardo Brandão, explicou que isso ocorreu em razão da falta de alguns itens para a realização da festa. ;Nesse primeiro requerimento, tinha carro de som com volume muito alto e pouca segurança. Eles pediram uma reunião e foram atendidos por se adequarem às condições exigidas;, disse o secretário.
Para que não haja dano ao meio ambiente, uma parte do parque será isolada. ;É uma manifestação religiosa e popular natural. O espaço da Ermida tem de estar disponível para a população.; Brandão afirmou que não foi notificado em relação à recomendação do MPDFT. ;Não tenho informação de o Ministério Público querer suspender essa autorização, uma vez que a igreja cumpre as condições estabelecidas. Se houver alguma ação nesse sentido, vamos verificar.;
Expectativa
Caso o Ibram acate a recomendação do Ministério Público, a expectativa de mais de mil pessoas que esperam ser batizadas será frustrada. A dona de casa Valdirene da Costa de Lima, 34 anos, e a filha Ana Elisa, 12, marcaram para mergulharem nas águas juntas. ;É o recomeço de tudo e de uma nova vida. É um momento de intimidade com Deus;, disse a evangélica. A filha está ainda mais ansiosa.
Valdirene comentou ainda a importância do evento se concretizar. ;É um absurdo se não tiver a festa. Ninguém vai danificar nada. Por que proibir?;, questionou.
O casal de namorados Erick César de Gouveia Freire, 17 anos, e Bruna Santos, 20, decidiu se batizar no mesmo dia. O pastor Fadi Faraj garante que na segunda-feira de carnaval o Lago Paranoá se transformará no Rio Jordão.
Poluição
O Rio Jordão é onde os cristãos acreditam que Jesus foi batizado. Ele fica em Israel, na Terra Santa, e deságua no Mar Morto. O rio tem profundidade média de 1 a 3 metros e largura de 30 metros. Devido ao intenso uso de suas águas para consumo humano e para atividades agrícolas, o rio está poluído e teve sua vazão original reduzida em 90%
RITO DE PASSAGEM
; É um rito de passagem feito normalmente com imersão, efusão ou aspersão com água. A cerimônia está presente em vários grupos religiosos, como católicos, evangélicos, unicistas, mórmons. Entre os católicos e os adeptos da igreja reformada, o batismo é um sacramento e o fundamento da comunhão entre todos os cristãos. Na Igreja Católica, a pessoa é batizada ainda criança. Em algumas evangélicas, o batismo acontece somente a partir dos 12 anos. O profeta João Batista introduziu o batismo de gentios nos rituais de conversão judaicos, que mais tarde foram adotados pelo cristianismo. Foi ele quem batizou Jesus no Rio Jordão, em afirmação pública da fé do povo.