postado em 06/03/2011 11:22
Uma discussão entre dois funcionários do restaurante Feitiço Mineiro, na 306 Norte, acabou em morte. O copeiro Tarik Camargo, 22 anos, foi assassinado com uma facada no peito desferida pelo cozinheiro Francisco Nascimento Ramos, 40. O crime ocorreu por volta das 5h30 de ontem, numa quitinete do Bloco B do Edifício Paulo Argelo, usada como alojamento pelos empregados do estabelecimento que saem de madrugada do serviço e não têm como pegar condução no horário. O homicídio, segundo policias militares que atenderam a ocorrência foi motivado por uma desavença durante um de jogo de cartas.
O chefe da 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte), Marcelo de Paula Araújo, contou que Tarik e Francisco encerraram o expediente às 2h. Em vez de repousarem depois de mais um dia de trabalho, saíram para beber em um outro bar. Cogitaram passar a noite com garotas de programas, mas desistiram da ideia devido aos altos valores cobrados pelas mulheres. Era dia de receber o pagamento do mês e os colegas queriam se divertir. Tarik carregava R$ 600 dentro da cueca e Francisco o mesmo valor, mas em cheque. Por volta das 4h, eles voltaram para pernoitar no alojamento, mas encontraram outros quatro trabalhadores do Feitiço jogando carteado.
Relatos das testemunhas que estavam no local dão conta que Tarik estava muito alterado com a jogatina. Achava que estava sendo "roubado" nas cartas. Chegou a empurrar um outro homem que participava do evento e, por fim, teve uma discussão áspera com Francisco, que, com medo do comportamento do copeiro, se armou com uma faca de 25 cm. Quando Tarik se descontrolou novamente e esboçou uma agressão, Francisco sacou a arma branca da cintura e aplicou um golpe certeiro no lado esquerdo do peito do jovem, que ainda conseguiu abrir a porta da quitinete e descer dois lances de escada até desabar na porta nos fundos do Feitiço Mineiro.
Agonizou por cerca de 10 minutos e não suportou até a chegada do Corpo de Bombeiros. Francisco, ainda muito embriagado, trocou a camiseta suja de sangue, guardou-a numa bolsa e se dirigiu até o ponto de ônibus da 708 Norte, como se nada tivesse acontecido. Pretendia ir para casa, no Paranoá, mas antes de o coletivo passar, policiais do 3; Batalhão (Asa Norte) o prenderam.
A faca usada para tirar a vida de Tarik foi jogada pela janela por um dos funcionários que presenciou o assassinato, mas, segundo o delegado, o homem não teve a intenção de esconder a prova do crime. "A testemunha tirou a faca da mão do autor e, num impulso, jogou-a pela janela", contou Marcelo de Paula.
Briga antiga
Tarik e Francisco já tinham se desentendido no mês passado, quando, também por conta de um jogo, o mais jovem atirou uma lata de cerveja contra o mais velho. Na mesma ocasião, o copeiro ameaçou "dar uns tiros" no cozinheiro. "Pelos relatos, a vítima era uma pessoa de temperamento explosivo. Mesmo assim, o meio empregado pelo autor para se defender foi desproporcional e não configura legítima defesa", explicou o delegado.
Não é a primeira vez que Francisco tira a vida de uma pessoa. Em 1993, ele matou a tiros um homem no Paranoá. Conseguiu a progressão de pena e, em 2002, alcançou a liberdade. Dois anos depois, foi detido novamente por porte ilegal de arma de fogo. O gerente do Feitiço Mineiro, Everson Repeto, diz que a orientação para se contratar um profissional é checar os antecedentes criminais do candidato, mas, no caso de Francisco, não sabe o que ocorreu. "Não sei em que ocasião ocorreu a contratação dele. Eu não sabia que ele tinha esses antecedentes. Se soubesse, ele com certeza não teria sido contratado", disse Repeto.
Francisco exercia o cargo de cozinheiro há pouco mais de 10 meses. Ele responderá por homicídio qualificado por motivo fútil. Já Tarik tinha apenas três meses de experiência no restaurante. Ele morava em São Sebastião e deixa uma filha de um ano.
Quadra marcada por tragédias
Não é a primeira vez que a 306 Norte ganha destaque por conta da violência. Há um ano, o segurança da matriz do Hortifruti Oba, - que fica a alguns metros do Feitiço Mineiro- Thiago de Almeida Martins, 29 anos, foi assassinado ao tentar impedir o roubo de um malote de dinheiro. O rapaz foi atingido com dois tiros nas costas e morreu antes de ser socorrido.