postado em 15/03/2011 07:20
Talentos do automobilismo podem estar guardados no Bloco G da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB). Em sua maioria, são alunos da engenharia mecânica. Eles não pensam em ser pilotos. Essa não é prioridade. O sonho dos universitários é trabalhar nos bastidores, atuando nas áreas de montagem e manutenção de carros de corrida. Como ensaio para o ousado plano, eles criaram uma equipe, a Apuama Racing. Formado por 26 estudantes, o grupo participará, de 25 a 27 de março, da 1; edição da Fórmula Universitária, em Porto Alegre (RS).Eles serão os únicos representantes do DF na corrida automobilística. A disputa amadora vai ocorrer nos intervalos da prova da Fórmula 3 Sul-Americana, um dos campeonatos mais importantes do país, disputado desde 1987 e organizado pela Confederação Esportiva Automobilística Sul-Americana. A competição é famosa por trazer novos nomes ao esporte.
Apuama é uma palavra de origem tupi. Significa veloz. Depois de inscrever-se no prêmio, o grupo recebeu, em julho de 2009, um carro doado pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). A missão era preparar o veículo, que estava quebrado, para o evento universitário, marcado, a princípio, para 2010. ;O carro chegou todo enferrujado e tivemos que o reformar por inteiro;, relata Rafael Nunes, 21 anos, responsável pela logística da equipe brasiliense. A corrida, porém, precisou ser adiada por um ano.
Em 2010, não houve a edição universitária porque os automóveis das instituições inscritas não ficaram prontos a tempo. São necessários, no mínimo, seis carros para que seja possível montar um grid ; a fila de veículos formada antes da prova, que obedece à ordem de classificação. Dessa vez, pelo menos 15 equipes de estudantes de todo o Brasil devem concorrer. Cada equipe recebeu um automóvel que deveria ser totalmente revitalizado.
;Fizemos o que chamam de engenharia reversa: desmontar para depois montar de novo;, explicou Pedro Henrique Carmo, 21 anos, capitão da equipe Apuama, destacando que a suspensão e os aerofólios foram trocados. ;Nosso papel é deixar o carro nas condições ideais para ir à pista;, disse, em tom profissional. ;Foi muito interessante porque aprendemos a resolver todo tipo de problema e entender para que cada peça. Estamos prontos para o mercado;, acredita Ernane Ruas, 21.
A CBA indicou o nome de vários pilotos e os grupos convidaram os profissionais para participarem do projeto. ;Convidamos um piloto de Brasília, o Raphael Reis, para nos representar. Ele tem patrocínio e topou a parceria;, explica Pedro.
Investimento
É o piloto quem desembolsa o valor para o conserto do carro e outras despesas. ;Eles têm ideias novas muito interessantes. Por isso, quis participar com eles. Sou piloto de kart e é uma boa opção partir para essa categoria;, justificou o piloto Raphael Reis, 17 anos. Como recompensa pela participação, as equipes ganham somente experiência. Quem vai dirigir os carros, porém, tem a chance de participar gratuitamente de uma competição profissional que pode projetar suas carreiras, a Fórmula 3 Light.
;O piloto precisa pagar R$ 600 mil para correr nessa categoria. O vencedor da Fórmula Universitária poderá participar de graça ou ganhar um grande desconto na Fórmula 3 Light;, explica Pedro. O veículo da Apuama tem 3,5 metros, possui como combustível a gasolina e 1,6 mil cilindradas, com motor de Corsa. Pode chegar a 200km/h. ;Estamos confiantes para vencer essa prova. Nosso carro está no nível dos de outras boas universidades;, garante Leandro Burbo, 21 anos.
O carro já está pronto. Peças foram trocadas, e o veículo ganhou pintura nova. Mas percorrer o caminho até esse resultado foi cansativo. ;Não temos uma sala adequada para trabalhar ou guardar o carro. Usamos um galpão improvisado. Isso dificulta muito as coisas;, reclama Vinícius Guzman, 20 anos, aluno do curso de engenharia mecânica.
Preparação
A UnB e outras quatro universidades já estão prontas para a competição. ;Temos certeza de que, agora, o evento vai acontecer, porque tem universidades que competirão com dois carros;, afirma Pedro. ;No ano passado, fizemos apenas treinos em Brasília, Curitiba e Campo Grande. Foi bom para fazermos os ajustes que o carro precisava.;
No primeiro dia da competição, haverá o treino livre. No seguinte, será a vez do treino classificatório e, à tarde, a tão esperada primeira corrida. No encerramento, ocorre uma nova disputa, com o grid invertido. ;É para garantir equilíbrio. As duas corridas têm o mesmo peso, mas quem saiu nos primeiros lugares na primeira ocupará as últimas posições no segundo dia;, explica Pedro. Outras quatro etapas estão marcadas.
Além dos estudantes de engenharia mecânica, a equipe Apuama Racing também conta com a participação de estudantes das engenharias mecatrônica, de software, de produção e automotiva. Além de alunos de psicologia, comunicação, nutrição e música. Pablo Marquine, 23 anos, aluno da música, faz um trabalho de musicoterapia com o piloto.
A Apuama Racing foi fundada em 2004, por alunos do Departamento de Engenharia Mecânica. O projeto nasceu da vontade de ver, na prática, a teoria aprendida em sala de aula. À época, os universitários queriam participar de um evento internacional voltado para esse público, a Fórmula SAE, organizada pela Sociedade dos Engenheiros Automotivos. Em 2005, eles ficaram em 4; lugar na disputa, que é diferente da Fórmula Universitária, pois apresenta um desafio ainda maior. Na SAE, a equipe precisa montar e dirigir o próprio carro. A Apuama já se prepara para concorrer na SAE 2011, que ocorre em novembro.