Cidades

Abrigo não pode receber idosos até que se adapte às exigências sanitárias

A administração do local garante que está promovendo melhorias, que são acompanhadas pelo Ministério Público

postado em 17/03/2011 07:00
Eneida Queiroz, 77 anos: O abrigo Lar São José, em Sobradinho, pode ter que transferir os 50 idosos que vivem na instituição, caso não se adapte às exigências da Vigilância Sanitária. No dia 3 último, o órgão constatou irregularidades no funcionamento do lar. A principal delas era a ausência de cuidadores. Até que a situação seja resolvida, a entidade, conveniada da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do DF (Sedest), não pode receber mais nenhum idoso.

A administradora do lar, Ivone Menezes, afirma que a interdição foi uma surpresa e que o São José cumpre com as normas. ;Temos cuidadores suficientes. O que houve foi uma insatisfação dos servidores com a mudança na escala;, justifica. Antigamente, os funcionários tinham uma escala de 12 X 36 horas de descanso, mas a carga horária foi reduzida para que trabalhassem todos os dias. Segundo Ivone Menezes, a instituição contratou mais seis profissionais e agora dispõe de 12 cuidadores. Um médico voluntário visita o local semanalmente para examinar e prescrever medicamentos.

Problemas com a lavanderia foram observados pela Vigilância Sanitária. ;No momento da inspeção, não souberam ligar a máquina. Nunca houve problemas com a calandra (equipamento que submete as roupas a intenso calor para completar o processo de desinfecção). Ficamos desolados com essa decisão de interditar porque fazemos um trabalho muito sério aqui;, lamenta Ivone Menezes.

Maria das Mercês, 88 anos, mora há 26 no Lar São José. Para ela, é preciso ;consertar o que está torto; no abrigo, mas ela não concorda com o fechamento do lugar. ;Não acho nada engraçado quererem fechar (o lar). Esse é o melhor abrigo que conheço.; A freira Eneida Queiroz, 77 anos, concorda. ;Aqui nos tratam bem. Poderia ter ido morar com meu irmão, mas optei por ficar aqui. Não existe razão para fechar;, diz.

Medidas emergenciais

Segundo Tânia Heli, coordenadora do Programa de Vigilância Sanitária para Atenção ao Idoso, o Lar São José tem tomado as medidas emergenciais para sanar a crise, mas está sendo monitorado de perto. Somente novas inspeções poderão determinar a suspensão do auto de interdição. ;Precisamos, antes de qualquer coisa, pensar que os idosos precisam de cuidados básicos. Muitos são completamente dependentes dos cuidadores para alimentação e higiene. Felizmente, estamos sabendo que a instituição está tomando as providências;, comentou.

A 2; Promotoria de Defesa do Direito da Pessoa Idosa e com Deficiência (Prodide) acompanha a situação e já requereu a relação dos idosos que estão no local. Se preciso for, o Ministério Público do DF e Territórios coordenará a transferência dos moradores para suas famílias ou outros abrigos. A titular da promotoria, Sandra Julião, adianta, porém, que não há vagas na rede pública. ;A assistência social do DF está deixando muito a desejar porque não há investimento. Existe uma falta de vontade política. O valor que se paga para um adolescente infrator é infinitamente superior ao que se paga ao idoso dependente. O próprio governo não tem nenhum abrigo próprio. Só assiste por meio de convênios. Apesar disso, era uma situação gravíssima antes do Estatuto do Idoso;, afirma.

O Lar São José recebe menos de R$ 7 por dia para cada idoso, resultando numa receita mensal de cerca de R$ 10 mil. Tanto o MP quanto a Vigilância Sanitária alegam que a instituição é alvo de reclamações e infrações recorrentes, algumas de anos, portanto esperam que o abrigo realize melhorias tanto estruturais quanto de gestão.

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