postado em 20/03/2011 09:07
Elas sobem ao palco com a coluna ereta e o coração acelerado. O sorriso estampado no rosto nem sempre parece natural. Às vezes, demonstra o nervosismo. Mas há de se relevar. Afinal, para as participantes, a possibilidade de tornar-se miss é um momento e tanto. Centenas de jovens de todo o Distrito Federal alimentam o sonho de representar a capital no Miss Brasil. Para isso, precisam se encaixar em muitos critérios. A candidata deve ter entre 18 e 24 anos, pelo menos 1,70m, nunca ter sido casada (nem ser, no momento), não ter filhos nem ter posado nua. A jovem também deve ter boa saúde. ;Mas isso não impede que, por exemplo, uma portadora de HIV participe. Já tivemos miss surda e muda. O que não pode é estar com sarampo ou catapora, porque poderia contaminar as outras e comprometer o concurso;, explica o coordenador da seleção do DF, o empresário Cloves Nunes.A exigência de que a miss não tenha marido ou filhos é justificada sob a alegação de que, se vencer o concurso nacional, precisa mudar de cidade e viajar com frequência. ;Elas não devem exibir impedimentos;, destaca Nunes. As meninas, que representam diferentes regiões administrativas do DF, precisam apresentar as seguintes medidas: 90cm de busto, 60cm de cintura e 90cm de quadril.
Este ano, serão 28 candidatas. Nas últimas semanas, a maioria das cidades escolheu representantes no concurso, marcado para 7 de maio, no Quartel-General do Exército. Miss Ceilândia, Varjão, Lago Norte ou Lago Sul. Não importa a cidade onde vivam ou a condição social, todas elas carregam o mesmo sonho: conhecer um mundo novo. Mas para isso é preciso investimento. A inscrição do Miss DF custa R$ 3 mil. A do concurso nacional, R$ 30 mil. Algumas meninas conseguem patrocínio ou ganham a inscrição quando vencem as competições da respectivas regiões administrativas.
Concursos de beleza costumam dividir opiniões. Há quem considere futilidade, um reforço aos padrões estéticos massacrantes. Para outros, a competição é puro entretenimento. Os eventos, no entanto, resistem. Em vários países, o glamour da competição continua atraindo milhares de candidatas.
Em Ceilândia, foram 20 inscrições para a etapa regional. No Miss Varjão, realizado ontem, havia as categorias mirim, juvenil e adulta, com 35 candidatas, no total. O Miss Brasília ; que escolhe meninas das asas Sul e Norte ; seria realizado neste fim de semana, mas foi adiado por conta da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à capital. Alguns dos jurados estavam na lista dos convidados de compromissos oficiais do líder americano. Diante disso, o evento ocorrerá no próximo dia 28.
A disputa é levada a sério. A estudante de publicidade e propaganda Cinthia Braga, 18 anos, pediu demissão do emprego para se dedicar à preparação do Miss Ceilândia. ;Não me liberaram para ensaiar ou fazer as provas de roupa;, justifica. Ela ganhou o título de mais simpática na edição deste ano, realizada dia 12 último.
A mãe de Cinthia, Maria Lúcia Pereira, 47 anos, dona de casa, apoia a filha. ;Ela participa desses eventos desde pequena. Quando era criança, dançava e fazia poses em frente ao espelho. Esses concursos podem abrir muitas portas;, acredita. Tudo o que essas jovens mais querem é justamente a chance de ter novas oportunidades.A maioria sonha ser modelo e vê nas seleções de miss uma chance de melhorar de vida.
A moradora da Asa Sul Thayana Rodrigues, 21 anos, deseja o glamour. ;Gosto quando as pessoas aplaudem, sinto o reconhecimento. Só desfilar, já é um sonho;, disse a participante do Miss Brasília 2011. Já Caroline Almeida, 20, que vive na Asa Norte e estuda arquitetura, iniciou a carreira para realizar um sonho da mãe, a pedagoga Francis Almeida, 48. ;A gente assistia ao concurso de miss juntas, quando eu era criança. Eu quis deixá-la orgulhosa, mas acabei me apaixonando. Hoje, faço tudo por nós duas;, garante.
Autoestima
Ao contrário do que se poderia pensar, a autoestima é uma concorrente que preocupa muito as candidatas a miss. Algumas entram na disputa para sentirem-se mais atraentes. Tassila Teresa Medeiros, 18 anos, moradora do Riacho Fundo II e candidata da cidade na disputa do DF, costumava se achar muito alta e magra. ;Era muito complexada. Hoje vejo que dá para ser feliz sendo magrinha;, afirma.
A vencedora do Miss Ceilândia 2011, Thaís Lianne, 22 anos, ajuda a quebrar o preconceito de que as misses são superficiais. Formada em administração de empresas, ela é funcionária pública. É discreta, sem deslumbramentos. ;Ganhei logo na minha primeira participação em concurso. As pessoas diziam que eu levava jeito e resolvi experimentar. Eu busco autoestima, quero me sentir mais mulher;, revela.
Silvana Brandão, 20 anos, ficou em segundo lugar no mesmo concurso. Ela trabalha, de madrugada, como publicitária em uma agência. Dá aulas de dança e inglês durante o dia. Mesmo assim, encontrou tempo para a disputa. ;Já tentei ser modelo. Ser miss é uma forma de ter novas oportunidades;, explica. Gleyziane Oliveira, 18, ficou em terceiro lugar no concurso de Ceilândia.
Assim como muitos garotos de baixa renda que sonham em tornarem-se jogadores de futebol, para muitas jovens, conquistar um concurso de beleza pode ser o início de uma vida melhor. Muito além de qualquer vaidade, boa parte delas vem de família pobre. Em Brasília, os prêmios variam de R$ 500 a R$ 3 mil.