Adriana Bernardes
postado em 21/03/2011 07:00
Aproximadamente um quarto da água captada pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) se perde entre a fonte e o hidrômetro do consumidor. Dos 8.820 litros por segundo coletados pela empresa, 24%, ou 2,1 mil litros por segundo, são retirados dos rios, mas não chegam às torneiras. O percentual está entre os mais baixos do Brasil ; a média nacional é de 37,4% ;, no entanto, ainda é considerado alto por especialistas no assunto. Em países da Europa, por exemplo, o desperdício das distribuidoras fica em até 15%. Os dados mais recentes estão reunidos no Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto de 2008, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades. O documento revela que ;os índices de perdas elevados são consequência de uma infraestrutura física de má qualidade e também de uma deficiente gestão dos sistemas. Nesse sentido, são fundamentais os investimentos na melhoria operacional e na reforma da gestão de um lado e o recomendável não investimento em novos sistemas de produção de água de outro, pois, como se sabe, ampliar a produção em um ambiente de elevadas perdas pode ter como consequência perdas de água ainda maiores;.
Coordenador do Grupo Especial para Controle de Perdas da Caesb, Elton Gonçalves explica que as perdas de água se dividem em reais e aparentes. No primeiro caso, estão associadas principalmente a vazamentos, ou seja, trata-se de uma água que efetivamente não chega ao consumidor. Situações como essa representam 65% do desperdício apurado pela estatal. ;A Caesb investiu fortemente na pesquisa de vazamentos não visíveis, recuperação de reservatórios, redução na pressão de suas redes de distribuição de água e substituição de ramais prediais;, detalhou Gonçalves.
A perda aparente é fruto das ligações irregulares, de fraudes ou de problemas nos hidrômetros. Ela corresponde a 35% das perdas da Caesb e, para reduzi-las, a empresa tem trabalhado na adequação da classe metrológica de seus medidores e feito campanhas de pesquisas de ligações clandestinas, mais conhecidas como ;caça-gatos;. Ao longo de 2010, a empresa detectou, retirou e multou 3.772 fraudes, uma média de 10 por dia.
Segundo Gonçalves, com a melhoria da eficiência da medição da água, refletindo, em alguns casos, no aumento do volume medido e cobrado do usuário, tem havido um incremento significativo de fraudes e ligações clandestinas. ;Essa prática acaba prejudicando o faturamento da empresa e, consequentemente, a restrição na capacidade de investimento visando melhorar os serviços prestados à população do DF;, avalia. Segundo Gonçalves, em 2007 o índice de perdas era de 31%.
De acordo com o relatório do SNIS, cinco estados ; Ceará, Tocantins, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina ;, mais o Distrito Federal, estão entre os que registraram o índice de perda de faturamento menor que 30%, enquanto dois estados da região Norte ; Acre e Amapá ; estão com os piores registros: os desperdícios são maiores que 70%. A Região Centro-Oeste tem o segundo menor índice, ficando atrás somente do Sul (veja quadro).
O desperdício na captação e na distribuição de água é uma das maiores preocupações da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae). Para o presidente da entidade, Silvio Marques, o índice nacional (37,4%) é altíssimo, implica em perda de receita das empresas e, consequentemente, na redução no investimento de melhoria da infraestrutura e em tarifa mais cara para o consumidor. ;É uma perda enorme porque ele já captou, tratou e não vai receber por isso. Para evitar essas perdas, é preciso investir significativamente na melhoria da distribuição, e não se muda essa realidade de um ano para o outro;, afirmou Marques.
E eu com isso
; A água captada pelas empresas recebe tratamento químico, demanda gasto de energia e manutenção do sistema até chegar à casa do consumidor. Se muita água se perde antes de alcançar a torneira de casa, consequentemente, a companhia não tem como cobrar do contribuinte. O custo para a empresa fica alto. Mas a conta tem que fechar e alguém tem que pagar por ela. Muitas das vezes, a solução dos administradores é aumentar a tarifa.
Prejuízo
Índice de perdas de faturamento médio dos prestadores de serviços de distribuição de água participantes do SNIS em 2008:
Regiões - Total (%)
Norte - 53,4
Nordeste - 44,8
Sudeste - 36,2
Centro-Oeste - 33,7
Sul - 26,7
Brasil - 37,4
Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades