postado em 01/04/2011 07:00
Nove semanas após uma paralisação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que durou 72 horas, a categoria decidiu cruzar os braços mais uma vez, apesar de uma determinação da 10; Vara Cível de Brasília que suspende o movimento. No primeiro dia de greve dos agentes da PCDF, apenas casos considerados emergenciais, como violência grave, homicídio, tentativa de homicídio, latrocínio, tentativa latrocínio e atentado contra a Lei Maria da Penha foram registrados pelos agentes. Representantes sindicais se reuniram ontem na sede do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF) para discutir os rumos da manifestação. Eles optaram pela continuidade da paralisação pelo menos até a próxima quarta-feira, quando haverá nova assembleia, às 15h, em frente ao Palácio do Buriti.Além de as delegacias limitarem o registro de ocorrências apenas para os casos mais graves, o diretor de Comunicação do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), Luciano Marinho, afirmou que a população do DF não consegue homologar boletins pelo site da PCDF () desde ontem. ;As pessoas até lançam os dados da ocorrência na página, mas elas não serão aprovadas, ou seja, não terão valor até que a greve acabe;, explicou o policial.
A diretora da Divisão de Controle de Denúncias e Ocorrências Eletrônicas (Dicoe), Christianni Zago, declarou que, somente ontem, foram encaminhadas cerca de 160 ocorrências à página virtual. Segundo ela, para serem homologados, mesmo em dias normais, os registros são revisados e, 24 horas depois, aprovados pela divisão. ;Mas, com essa greve, ainda não sabemos qual será o procedimento que iremos tomar. Esperamos pela resposta da direção-geral da PCDF;, frisou Zago. Ela afirmou ainda que, de 26 de março até a última quarta-feira, a delegacia eletrônica teve problemas de ordens técnicas e não funcionou. ;Não sei o que levou isso a acontecer. O sistema voltou ao normal hoje (ontem). Nele, podem ser registrados extravios de documentos, acidentes de trânsito com vítima, furtos simples, além desaparecimentos e localizações de pessoas;, finalizou.
Na manhã de ontem, a movimentação em algumas das 31 delegacias de todo o DF chegou a ser menor que em dias normais. Muitos que tentaram recorrer aos serviços das unidades policiais voltaram para casa sem resolver os problemas e mostraram-se indignados com a decisão tomada pela categoria. Foi o caso de Ricardo*. Ele diz ter sido vítima de um roubo com restrição de liberdade, na manhã de ontem. Após ter o carro invadido por três homens, ele foi obrigado a seguir até o Setor de Chácaras da QNP 29, em Ceilândia, sob a mira de uma arma de fogo. Lá, foi amarrado e teve a boca selada por uma fita adesiva. ;Depois disso, eles levaram meu carro e me deixaram lá. Minutos depois, consegui fugir do local;, contou Ricardo.
Desesperado, ele pediu ajuda a um motorista que o levou até a 19; DP (Ceilândia). No local, o titular da delegacia, Neto Tavares, chegou a ouvir o homem. No entanto, segundo o delegado-chefe, momentos depois da chegada de Ricardo, a Polícia Militar localizou os autores do crime em Samambaia. ;Eu iria registrar a ocorrência, mas como os acusados foram presos em outra cidade, não pude seguir com o caso;, explicou Tavares. O Correio entrou em contato com as duas unidades policiais de Samambaia ; a 26; DP e a 32; DP ;, mas, segundo os agentes, nenhum registro dessa natureza havia sido encaminhado.
O técnico comercial Joseil Geraldo Martins, 47 anos, engordou a lista de pessoas que não conseguiram registrar ocorrências ontem. Após colidirem na traseira do veículo pertencente à empresa na qual trabalha, Joseil decidiu ir até a 2; DP (Asa Sul). Ao entrar na unidade policial, foi avisado que não seria possível fazer a ocorrência. ;Foi uma viagem perdida. Agora, é aguardar para quando a greve terminar;, lamentou.
Multa
Caso o Sindicato dos Policiais Civis do DF descumpra a determinação do juiz da 10; Vara Cível de Brasília de suspender a greve, a categoria será obrigada a pagar uma multa diária de R$ 50 mil. O diretor de Comunicação do sindicato, Luciano Marinho, afirmou que o Sinpol-DF recorrerá judicialmente. ;A liminar pode ser cassada e entraremos com recurso;, frisou ele. ;Acreditamos que o valor da multa extrapola a capacidade de arrecadação do Sinpol;, declarou.
De acordo com Marinho, a paralisação é uma forma de reinvidicar uma reestruturação na carreira e um aumento salarial de 28%. ;Queremos que essa reposição seja dividida em cinco vezes;, esclareceu o diretor de Comunicação. O salário médio de um policial civil é de R$ 7,2 mil. Os servidores reclamam também da carga horária de trabalho, que não é fixa, da falta de assistência médica, de seguro de vida em caso de morte fora do horário de serviço, além de pedirem o pagamento de hora extra.
80% sem investigação
De acordo com a diretora da Dicoe, 50% das ocorrências feitas pela internet são de extravios de documentações, 30% de acidentes de trânsito sem vítima, 15% de furtos simples e o restante de desaparecimento e localização de pessoas. Cerca de 80% dessas queixas não são passíveis de investigação.
*Nome fictício