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Mercado de usados acumula perdas e busca alternativas para manter negócios

postado em 02/04/2011 09:55
Lidiane tinha intenção de comprar um seminovo. No fim, desistiu e partiu para um 0km, diante de uma diferença de apenas R$ 200 na prestaçãoDiante de tantas facilidades oferecidas para a compra do carro 0km, as lojas de seminovos se desdobram para não perder ainda mais espaço no mercado. O baque da crise econômica mundial, que estourou no último trimestre de 2008, descontrolou a valorização do veículo usado. Desde então, o cenário nunca mais foi o mesmo. Enquanto as concessionárias comemoram sucessivos recordes, empresários do segmento que era o preferido do consumidor precisam agora correr em busca de clientes e espremer a margem de lucro para manter as portas abertas.

Entre setembro de 2008 e fevereiro de 2011, o preço de carros usados caiu, em média, 18,5%, segundo estudo da AutoInforme/Molicar que analisou o comportamento de 2,9 mil modelos vendidos em todo o país no período. Somente nos quatro primeiros meses seguintes à recessão, os valores recuaram 8,5%. Apesar da recente tendência de estabilização, o segmento de seminovos tem dificuldades para se recuperar e enfrentar uma concorrência quase que desleal, acentuada com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que vigorou do início da crise até março de 2010.

Na capital federal, a Cidade do Automóvel ilustra a situação delicada do mercado de usados. Faixas com anúncios de aluguel e venda de espaços podem ser encontradas com uma certa facilidade. Nos últimos três anos, lojas quebraram, funcionários foram demitidos e o movimento reduziu drasticamente. Vendedores chegam a passar o dia inteiro sem atender um cliente sequer. Em fins de semana, quando as vendas tendem a crescer, o marasmo toma conta do local criado oficialmente em 2002, atualmente com cerca de 140 revendedoras de veículos.

Recém-empossado no cargo de presidente da Associação das Agências de Automóveis do Distrito Federal (Agenciauto-DF), Paulo Poli nega o desaquecimento e defende que sempre haverá público para o segmento de usados. ;A crise tirou os aventureiros do mercado. Quem realmente é profissional continua firme no ramo e não existe cenário ruim, pode ter certeza;, disse. Para o representante da categoria, muita gente ainda prefere ter na garagem ; por preços semelhantes ; um veículo bem conservado e completo a um novo, porém com poucas opções.

Estragos
É inevitável, no entanto, que os juros mais baixos e as facilidades de pagamento para o 0km provocaram estragos no mercado de seminovos. Na rua da loja de Manoel Soares Júnior, na Cidade do Automóvel, quatro empresários abandonaram o negócio desde 2009, ano em que ele amargou prejuízo de cerca de R$ 300 mil. ;Para vender, tive que baixar preço de carro em até R$ 10 mil;, contou, antes de dizer que está se recuperando. ;Quem vem até aqui compra. Ninguém fica passeando na Cidade do Automóvel;, afirmou, justificando o baixo movimento de clientes.

Após seis meses de pesquisa de preço, a técnica em radiologia Lidiane Martins, 28 anos, resolveu ontem comprar um 0km, em vez de um carro usado. A escolha aumentou em R$ 200 o valor da parcela mensal que terá de desembolsar durante cinco anos. ;Achei a diferença pequena. Como cabe no orçamento, optei por sentir o cheiro de carro novo;, explicou. O estado de conservação do seminovo em que estava de olho, ano 2006, ajudou na decisão. ;A questão da manutenção pesa bastante. É complicado comprar um bem que você não sabe quem usou antes;, completou.

Exemplos como o de Lidiane preocupam ainda mais Geraldo Bandeira, 46 anos, 12 deles no ramo de veículos usados. ;Não sei qual é a saída, mas ela deve existir;, desabafou. Antes da crise, Geraldo vendia até 35 carros por mês. Depois de 2008, os bons resultados somam 15 unidades, no máximo. Há três meses, ele tenta vender ou alugar um outro espaço, também na Cidade do Automóvel, para ajudar a pagar as contas. ;Antes, era só esperar o cliente. Hoje temos que ligar para eles, puxar interessados para dentro da loja;, acrescentou Eduardo Bahia, gerente de uma loja que, após a crise, reduziu o quadro de funcionários de 10 para quatro.


Novas índices
Levantamento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) divulgado ontem mostra que as vendas de automóveis no Brasil somaram 306.171 unidades em março, resultando em crescimento de 11,6% na comparação com o mesmo período de 2010, quando foram comercializadas 274.154 unidades. Com isso, o primeiro trimestre do ano fechou com recorde histórico. Os dados do DF referentes a março ainda não foram contabilizados.

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