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Presidente do Sindicombustíveis-DF contesta pesquisa da ANP sobre etanol

Após a escalada do preço nas bombas, o Distrito Federal alcançou o primeiro lugar no ranking do litro do etanol mais caro do país. Este ano, o preço subiu oito vezes, uma variação de 39,9%. Desde a segunda semana de janeiro, o valor médio cobrado na maioria dos postos saltou de R$ 2,03 para R$ 2,84, uma diferença de R$ 0,81. O último reajuste chegou ao consumidor na semana passada, quando o DF registrou, pela segunda vez consecutiva, a maior alta do país: 15,46%. Os números do levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam que, além de apresentar o preço mais alto entre as 27 unidades da Federação, os postos do DF aplicam a maior margem de lucro. Em relação à gasolina, que custa em média R$ 2,878, o DF aparece em sexto lugar (veja arte ao lado).

De acordo com os dados oficiais, o preço médio do etanol no DF é de R$ 2,837. O Rio Grande do Sul, em segundo lugar no ranking, vende o combustível por quase R$ 0,20 mais barato: R$ 2,641. Na capital, Porto Alegre, a ANP encontrou, em 84 postos pesquisados, 15 preços diferentes, variando entre
R$ 2,370 a R$ 2,799. No DF, técnicos da agência visitaram 80 estabelecimentos e se depararam com somente dois valores: R$ 2,80 em sete estabelecimentos (Taguatinga, Santa Maria, Núcleo Bandeirante, Gama e Asa Norte) e R$ 2,84 nos demais. O levantamento foi realizado entre 27 de março e 2 de abril.

Não bastasse a quase nula variação de preços, os postos do DF, ainda com base nos números divulgados pela ANP, adotam a maior margem de lucro do país ao definir o valor final do combustível. O levantamento aponta que o litro do etanol saiu das distribuidoras, na última semana, em média a R$ 2,381. A diferença de R$ 0,456 em relação ao preço praticando nas bombas supera a observada em todos os estados. Em terceiro lugar no ranking mais recente do etanol mais caro do Brasil, está Roraima (R$ 2,639), seguido de Amapá (R$ 2,558), Santa Catarina (R$ 2,550) e Espírito Santo (R$ 2,437). O menor preço médio foi encontrado na Paraíba: R$ 1,991.

Brasília tem o valor mais alto entre as capitais e, se considerada como município, fica atrás somente de Cruzeiro do Sul, no Acre, e Itaituba, no Pará. Em ambas, o etanol é vendido a R$ 2,90. O preço do derivado da cana-de-açúcar no DF, encostado no da gasolina, é o maior da história. Em 2010, o combustível atingiu o pico em março, quando custou aos brasilienses
R$ 2,35.

Os carros flex, segundo o Departamento de Trânsito (Detran), representam 41% da frota do DF. Mas a possibilidade de abastecer com etanol ou gasolina não tem valido a pena. Desde 2009, não é vantajoso abastecer com etanol na capital do país. Em todo o Brasil, a desvantagem se generalizou na semana passada, segundo o levantamento da ANP (leia mais no insert).

Consumo em baixa
Frentistas e gerentes de postos contam que o consumo de etanol praticamente inexiste nos postos. Segundo eles, só continuam enchendo o tanque com o combustível donos de carros antigos, que não têm saída a não ser encarar o preço atual. O lanterneiro Antônio Francisco de Castro, 54 anos, que tem um veículo flex, não se lembra da última vez em que abasteceu com etanol. ;Nem precisa mais fazer as contas, estão abusando da gente;, disse ontem, enquanto colocava R$ 15 de gasolina, para sair da reserva. Ele gasta cerca de R$ 500 com combustível por mês, equivalente a quase um terço do salário. ;Os aumentos nem assustam mais. A gente precisa fazer alguma coisa;, completou o consultor de informática Thiago Vinícius Araújo, 24, também dono de carro flex.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do DF (Sindicombustíveis-DF), José Carlos Ulhôa, afirmou ontem que não comentaria o último levantamento da ANP, ;em função de uma série de erros cometidos pela agência;. Ele informou que, desde 24 de março, as distribuidoras têm cobrado dos postos R$ 2,476 pelo litro do etanol. Não é a primeira vez que Ulhôa contesta a ANP. No fim de 2009, ao questionar os dados oficiais, o presidente da entidade levou uma advertência, mas diz ter conseguido provar os ;equívocos; da agência. ;O sindicato já mandou ofício para a ANP, os advogados já estão acionando a Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes), não tenho o que falar;, comentou.

Na semana passada, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça anunciou que a investigação sobre um possível cartel no DF não está parada e adiantou que há indícios de que o Sindicombustíveis-DF estaria interferindo nos preços praticados pelos postos. A Polícia Civil do DF também começou a apurar se há ou não prática criminosa. Não está descartada a possibilidade de a Polícia Federal entrar no caso. Ontem à noite, representantes de entidades de classe se reuniram pela segunda vez para organizar boicote contra as maiores redes do mercado. O protesto deve ser realizado ainda este mês e durará, pelo menos, 15 dias, de acordo com os organizadores.

Sem qualquer vantagem
O etanol perdeu a competitividade sobre a gasolina em todo o Brasil, segundo o último levantamento da ANP. O aumento dos combustíveis preocupa. Eles foram os principais responsáveis pela alta de 0,35% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) em março. De acordo com especialistas, o álcool é vantajoso quando o litro dele custa até 70% do valor da gasolina. O cálculo é o seguinte: multiplique o preço da gasolina por 0,7. O resultado da conta é o valor máximo que deve ser pago pelo álcool. Para que, atualmente, o etanol fosse vantajoso no DF, ele deveria valer, no máximo, R$ 2,00, mas está sendo comercializado a R$ 2,84.