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Riacho Fundo 2 avança em um ritmo quase seis vezes superior à média do DF

O baixo preço das moradias e a boa infraestrutura urbana são os fatores que contribuem para esse fenômeno

postado em 08/04/2011 07:10
Otacília chegou ao Riacho Fundo 2 em 2004 e não pretende deixar a cidade. Ela só reclama da falta de ônibus
Recentemente consolidada, em franca expansão populacional e foco de crescimento expressivo de renda nos últimos anos. É esse o retrato do Riacho Fundo 2, a sexta região administrativa do Distrito Federal a ter o perfil socioeconômico traçado pela Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), realizada pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). O estudo revelou que a cidade, nascida em 1995 de uma invasão próxima ao Recanto das Emas, atualmente cresce a uma taxa impressionante de 12,22% ao ano. Segundo a equipe responsável pelo levantamento, os atrativos que contribuem para esse fenômeno são o baixo custo da moradia e a boa infraestrutura urbana.

O Riacho 2 conta com 99,2% de abastecimento de água; 98,2% de redes de esgoto; e 98,8% das ruas são asfaltadas. Essa infraestrutura explica a preferência que os moradores principalmente de Taguatinga e Ceilândia dão ao local na hora de comprar a casa própria. Com isso, o rendimento médio da população tende a elevar-se. Entre 2004 e 2010, a renda domiciliar passou de 3,3 para 4,3 salários mínimos, e a per capita, de 0,9 para 1,3 salários.

De acordo com a análise da Codeplan, a tendência é que ocorra uma elevação dos preços dos imóveis para aluguel e venda que, hoje, chamam a atenção de habitantes de outras cidades do DF. No futuro, os valores deverão se tornar menos atraentes. A própria demanda aquecida contribuirá para isso e o elevado crescimento populacional da cidade ; quase seis vezes maior que a média do DF, de 2,3% ; deve se estabilizar ou cair.

;Esse índice não vai se manter. Muito pelo contrário. O custo de moradia deve aumentar, aproximando-se do praticado justamente em cidades como Taguatinga e Ceilândia. Isso provocará a redução do fluxo de migração interno;, afirma o economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Codeplan.

Para Miragaya, é surpreendente que o Riacho 2 tenha cobertura universalizada de serviços básicos, como água, esgoto e iluminação. ;Trata-se de uma área de ocupação recente. Começou em 1995, mas consolidou-se somente em 2003. A alta na renda de 2004 para cá também merece destaque. Enquanto algumas regiões pesquisadas tiveram rendimento estabilizado, no Riacho Fundo 2 este subiu no mesmo período que o salário mínimo;, diz.

Áreas irregulares
A gerente de Pesquisa da Codeplan, Iraci Peixoto, chamou a atenção para o alto índice de habitantes do Riacho Fundo 2 que não pagam aluguel. ;Mais de 73% dos domicílios são próprios. Mas há muitos moradores que ainda não receberam a escritura definitiva dos lotes;, ressalva. Enquanto 44,5% da população têm casa própria quitada ou em aquisição em terrenos legalizados, 25,9% vivem em residência situadas em áreas irregulares.

Outra deficiência na cidade mostrada pela Pdad são os baixos índices de escolaridade. Somente 3,5% das pessoas entrevistadas pela Codeplan têm ensino superior completo, enquanto 4,5% não concluíram a faculdade. Enquanto isso, 7,2% cursaram apenas até o ensino fundamental e 2,5% são analfabetos. A maior parte dos entrevistados, 23,6%, tem o ensino médio completo.

De acordo com Júlio Miragaya, os dados são coerentes com o que vem sendo verificado nas demais cidades pesquisadas. ;Quase todas as regiões administrativas apresentaram dados muito ruins. Temos o mesmo quadro em Brazlândia e no Recanto das Emas. O desnível ainda é muito grande;, destaca.

A aposentada Otacília Urcino Pereira, 66 anos, mudou-se para o Riacho Fundo 2 em 2004, vinda de Santo Antônio do Descoberto (GO). ;Antes de morar em Santo Antônio, eu já havia vivido em Ceilândia. E é muito difícil ficar no Entorno, após ter morado no DF. Os serviços aqui são muito melhores;, diz.

Quando Otacília mudou-se para o Riacho 2, não havia asfaltamento, embora a infraestrutura de água e esgoto já funcionasse. ;No lote que eu comprei, era só barro. Mas foi urbanizando. Fui construindo minha casa, que valorizou muito em relação àquela época;, comenta. A aposentada, que tem ensino fundamental incompleto, diz que hoje não sairia da cidade. ;Gosto muito daqui. Mas podia ter um transporte melhor. Aqui, passa pouco ônibus. Também não temos agências bancárias e dos Correios, e ficamos dependentes da Taguatinga e Samambaia;, completa.

Atualização
Entre o fim do ano passado e o início deste, a Codeplan começou a atualização dos dados socioeconômicos das regiões administrativas do Distrito Federal. Antes disso, as informações disponíveis sobre renda, abastecimento de água e esgoto, número de habitantes, entre outras, datavam de 2004. Desde que o levantamento começou, foram divulgadas pesquisas sobre Águas Claras, Ceilândia, Vicente Pires, Recanto das Emas, Brazlândia e Riacho Fundo 2. A próxima região a passar pelo estudo será o Riacho Fundo. Até o fim deste ano, o órgão espera ter percorrido as 30 regiões administrativas do DF e entrevistado 24 mil pessoas.
O baixo preço das moradias e a boa infraestrutura urbana são os fatores que contribuem para esse fenômeno

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