Luiz Calcagno
postado em 09/04/2011 07:10
A Polícia Civil de Luziânia (GO) investiga a relação entre cinco assassinatos brutais praticados com características semelhantes. Todas as vítimas foram degoladas e pelo menos três morreram em um matagal do bairro Parque Estrela Dalva 2 e estudavam na mesma escola. As mulheres também sofreram violência sexual. Duas delas eram estudantes ; Thais Martins de Almeida, 15 anos, e Juliete de Lima Oliveira, 17 ; e a terceira vivia como garota de programa ; Maria Aparecida do Nascimento, 35 (leia quadro). O Correio havia divulgado os casos de Thais, Juliete e Clelton da Silva Oliveira, 15, mas os investigadores incluíram outros dois homicídios na região. O último deles, praticado contra um usuário de crack, identificado apenas como Elias.
A principal linha de investigação aponta para o tráfico como motivador dos assassinatos, já que a prostituta, o engraxate Cleiton e o catador de papéis Elias consumiam drogas habitualmente. Apesar de Thais, morta há pouco mais de quatro anos, e Juliete não terem ligações com o uso de entorpecentes, a polícia não descarta a possibilidade da atuação de mais um assassino em série em Luziânia (leia Memória). ;Procuramos nas mortes provas que possam nos levar a um mesmo autor. Em seguida, se isso se confirmar, é preciso ver se a motivação das mortes foi uma só, que poderia ser indício de um ato cometido por um assassino serial. É cedo para afirmar;, explicou o titular da 5; Delegacia Regional de Luziânia, Juracy José Pereira.
A investigação revelou que há muitas coincidências nos cinco homicídios, mesmo entre as vítimas com perfis mais distintos. Exceto a de Thais, todas as mortes ocorreram entre fevereiro e março. Juliete, Thais e Clelton estudavam na mesma escola, o Colégio Estadual Professor Antônio Março de Araújo, no Parque Estrela Dalva 2, e tinham idades aproximadas. As duas estudantes moravam no Jardim Brasília Sul e acabaram assassinadas em um matagal às margens da BR-040. Das cinco vítimas, apenas Clelton perdeu a vida em outro ponto da cidade. O corpo dele foi encontrado na manhã de 31 de março em um terreno baldio atrás do Fórum de Luziânia, no bairro Parque Alvorada 1. Por fim, as mortes de Juliete, Clelton e Elias ocorreram em um intervalo de menos de 24h.
Nos últimos dias, a polícia prendeu seis suspeitos de envolvimento nos crimes, sendo que dois foram liberados ainda no sábado. A polícia não divulgou nomes. Todos os acusados são homens, de idades entre 20 e 30 anos, e envolvidos com o tráfico de drogas. Dois deles confessaram a autoria do assassinato do catador de papéis, mas negam participação nos demais homicídios.
Investigação
Os homicídios são investigados por duas unidades policiais de Luziânia, comandadas pela 5; Delegacia Regional: a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) e o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops). Porém, foi a Deam que efetuou as prisões até agora, com trabalhos voltados para a investigação da morte de Juliete. O primeiro dos presos, detido ainda na tarde de sábado, é acusado de tentar abusar sexualmente de duas adolescentes, de 13 e 16 anos. Ele também foi visto por moradores do Parque Estrela Dalva 2 rondando o matagal onde a jovem foi encontrada no dia seguinte ao crime. É o mesmo homem, que, segundo parentes da menina, esteve no enterro da garota no último sábado ; ele acabou detido mais tarde.
A titular da Deam, Dilamar de Castro, também admitiu ver relações entre as mortes. ;O Elias foi morto por dívida de drogas. Acreditamos que o crime pode ter relação com o de Clelton. Chegamos aos homicídios investigando a morte de Juliete. É um fio que vamos puxando. Ainda há pessoas a serem presas. Um dos presos está falando muito, e as informações estão batendo. As pessoas que tentamos localizar estão ligadas ao Clelton.; Dilamar espera ter novidades na próxima segunda-feira. ;Dos crimes desse ano, a Juliete é a única que não entra no perfil das vítimas, mas, entre os presos, tem um com perfil de chefe, que parece apresentar alguma psicopatia;, disse.
Ela também traçou um vínculo entre os crimes. ;Todos estão relacionados ao tráfico de drogas, mas as motivações foram diferentes. O material apreendido na cena do crime de Juliete, incluindo um pedaço de estilete encontrado na cabeça da garota, foram encaminhados a Goiânia (GO) para análise técnica. Também encontramos no local uma lata usada para fumar crack, que era relativamente nova e estava próxima ao corpo. Tem fios de cabelo e resquícios de pele tirados da unha da jovem. Ainda não encontramos a bermuda jeans que ela usava. Se não controlarmos o tráfico, as mortes vão continuar. A criminalidade tem se organizado cada vez mais;, concluiu a delegada.
PROTESTO NO DIA 7
Para cobrar justiça e mais segurança nas ruas, parentes e amigos de Juliete de Lima Oliveira preparam uma manifestação para 7 de maio. O grupo pretende sair em passeata a partir do trevo da entrada de Luziânia com faixas, camisetas e cartazes e seguir pelo centro da cidade em direção à prefeitura. A expectativa é de que, dessa vez, estudantes do colégio da vítima sejam autorizados a participar do evento. Parentes da jovem receberam apoio informal de alguns policiais civis e procuram patrocínio para confeccionar as camisetas.